Gritos, ameaças. Invasão de torcedores organizados no departamento médico do Botafogo. Vergonha para o 'clube-empresa'
O bilionário John Textor se comprometeu a investir R$ 400 milhões. Clube devia R$ 1,1 bilhão em 2021. Organizada não se conformou com o fraco resultado no início do Brasileiro. E decidiu hoje ameaçar os jogadores. Vexame
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Cena absurda.
Alguns jogadores do Botafogo estavam, nesta manhã, fazendo tratamento médico para se recuperar de contusões. Todos deitados em macas. Entre eles, Victor Sá, Diego Gonçalves, Del Piage, Kayque e Lucas Fernandes.
Foi quando, com toda a tranquilidade, cerca de 40 membros da torcida organizada Fúria Jovem entraram no departamento médico.
E, gritando, começaram a intimidar os jogadores. Cobrando a péssima campanha no Brasileiro, que colocou o clube na zona de rebaixamento.
"O que está pegando, po...? Tá faltando dinheiro no seu bolso, po...?", berraram eles, cercando os jogadores deitados.
Enquanto isso, outros torcedores davam socos nas portas do ambulatório, gritando com atletas que poderiam estar fazendo tratamentos mais intensos ou exames.
"Acorda, acorda, nessa po...!"
Eles pediam a saída imediata do diretor de futebol, André Mazzuco.
Depois há imagens dos torcedores saindo juntos e rindo no Centro de Treinamento.
E mostravam uma faixa com as seguintes frases:
"Salários em dia. Porrada em falta!
"Elenco de finados."
Só depois da invasão membros da Polícia Militar chegaram, e, com toda a calma, os torcedores saíram do departamento médico.
Os membros da organizada prometem voltar à tarde, quando todos os jogadores estarão no Centro de Treinamento.
Os jogadores ficaram muito assustados, revoltados com a situação.
E também com a facilidade com que os "torcedores" tiveram acesso ao departamento médico do clube.
O Botafogo vive uma nova realidade financeira desde que se transformou em Sociedade Anônima do Futebol. E o norte-americano John Textor se tornou dono de 90% do clube.
No fim de 2021, o clube devia mais de R$ 1,1 bilhão. O bilionário Textor se comprometeu a colocar R$ 400 milhões. Além de montar uma gestão absolutamente profissional. Ele foi saudado como um "enviado dos céus" pela torcida botafoguense.
O clube tinha se apequenado graças a administrações irresponsáveis, incompetentes e até algumas delas suspeitas nas últimas décadas. Daí a dívida bilionária.
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Só que a expectativa criada foi exagerada. O treinador português Luís Castro foi contratado. Assim como vários atletas, que custaram, juntos, cerca de R$ 65 milhões. Era mais do que previsto que haveria dificuldade para a formação de um time de verdade. Leva tempo para a busca da estratégia perfeita, para entrosar jogadores que nunca atuaram no mesmo time.
Só que a ideia vendida pelo próprio Textor foi de otimismo exagerado. De que brigaria, no mínimo, por uma vaga na Libertadores de 2023.
No campo, no entanto, o que se viu foram jogadores perdidos, tentando entender o que Luís Castro pretendia taticamente.
Em 11 partidas, a decepção.
O Botafogo venceu três jogos, empatou três partidas e perdeu cinco. Está na zona do rebaixamento no Brasileiro, na 17ª colocação.
Depois da derrota para o Avaí, na segunda-feira, em pleno estádio Nilton Santos, a torcida gritava no fim da partida: "Time sem-vergonha".
Era a quarta derrota consecutiva.
Textor já havia prometido que gastaria, no mínimo, mais R$ 65 milhões em contratações nesta janela do meio do ano.
Fransérgio, do Bordeaux, e Thiago Mendes, do Lyon, são dois atletas em negociação.
O inexplicável é que, com toda a segurança no espaço Lonier, onde os jogadores se tratavam, os torcedores tiveram livre acesso.
A situação, infelizmente, está se tornando comum nos clubes brasileiros.
Com os dirigentes sempre com muito medo das torcidas organizadas. Vândalos não têm limite. E chegam até a ameaçar a vida de jogadores e diretores de equipes deste país.
O que aconteceu hoje no Botafogo é um enorme retrocesso.
Principalmente para um clube que prometia ter uma administração de "primeiro mundo".
E que deverá levar o norte-americano John Textor a repensar.
Entender a realidade do futebol brasileiro.
Onde está pondo seu dinheiro.
Não é um simples investimento.
Aplicar milhões de dólares na formação de um time forte, ganhar títulos. E começar a lucrar com a venda de jovens atletas para a Europa.
Futebol é muito mais complexo do que isso.
A lastimável invasão do departamento médico do Botafogo já é uma prova.
Ele que descubra como os "torcedores" puderam entrar.
Qual foi o papel dos seguranças que trabalham no clube?
Muitas invasões que aconteceram no passado, em outras equipes, foram facilitadas pelas próprias diretorias, que acreditavam que os atletas precisavam de um "tratamento de choque".
Textor que se informe.
Não é possível um clube grande tradicional e importante como o Botafogo ser refém de suas organizadas.
E que foi rebaixado já três vezes por falta de dinheiro para montar uma equipe competitiva.
Investimento, agora, chegou.
Mas formar uma equipe competitiva leva tempo.
Só que não há perdão para o que aconteceu hoje.
A invasão da torcida organizada foi vergonhosa...
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