Governo Doria mostra estudo da USP: futebol tem contaminação de 11%
Contra o protocolo 'mais rígido' que a FPF apresentou para a volta do futebol, o governo paulista tem estudo que aponta índice alto de contaminação por Covid nos clubes
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Uma guerra científica.
Este é o resumo do que acontece entre a Federação Paulista e o governo de João Doria.
Pela volta ou não do futebol.
O esporte está proibido no estado até o dia 11 de abril.
Por conta da pandemia de covid-19.
O Ministério Público paulista foi firme ao recomendar a paralisação.
Para não expor atletas.
E pela simbologia do futebol acontecendo como se fosse uma das atividades fundamentais.
O Paulista está barrado no Rio e Minas Gerais.
Outras alternativas são caras demais.
A FPF se reuniu com os clubes hoje.
E decidiu anunciar que tem um protocolo mais rígido para que os jogos voltem a São Paulo.
Com menos pessoas participando dos eventos.
Mais testes aos atletas.
A criação de uma 'bolha' artificial, ou seja, com os jogadores tendo um controle muito mais rígido.
O novo protocolo foi enviado ao governo paulista.
Só que assim que os os novos protocolos foram divulgados, surgiu um estudo do governo paulista. Feito pelo Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, ligado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação.
O estudo, conduzido pela Universidade de São Paulo, USP, trouxe um dado assustador.
"A incidência de infecção pelo novo coronavírus entre os atletas da Federação Paulista de Futebol durante a temporada de 2020 foi de 11,7% – um índice equivalente ao de profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à pandemia."
"Para chegar a esse número, os autores analisaram retrospectivamente quase 30 mil testes de RT-PCR aplicados em 4.269 atletas ao longo de oito torneios, sendo seis masculinos (Taça Paulista, Sub-23, Sub-20 e as três divisões do Campeonato Paulista) e dois femininos (Campeonato Paulista e Sub-17). Ao todo, 501 exames confirmaram a presença do SARS-CoV-2. Também foram analisados 2.231 testes feitos em integrantes das equipes de apoio (profissionais da saúde, comissão técnica, dirigentes, roupeiros etc.) e 161 deram positivo, ou seja, 7%.
'“É uma taxa de ataque bem superior à observada em outros países. Na liga dinamarquesa de futebol, por exemplo, foram quatro resultados positivos entre 748 atletas testados [0,5%]. Na Bundesliga [da Alemanha], foram oito casos entre 1.702 jogadores[0,6%]."
"Mesmo no Qatar, onde há um risco moderado de transmissão comunitária, o número foi menor do que o nosso: 24 positivos entre 549 avaliados [4%]. Comparados aos outros casos de que se tem registro, portanto, nossos jogadores se infectaram entre três e 24 vezes mais", resumiu Bruno Gualano, professor da Faculdade de Medicina (FM-USP) e coordenador da pesquisa.
O professor não acredita nos protocolos da FPF.
"Funcionaria se fosse aplicado na Dinamarca ou na Alemanha. Conta-se muito com o bom senso dos atletas, que são orientados a ir do Centro de Treinamento para casa e a manter o distanciamento social e as medidas não farmacológicas de proteção nas horas de descanso. Mas aqui no Brasil uma boa parcela não segue essas regras e não sofre qualquer tipo de punição. Além disso, viaja-se muito para disputar as partidas."
"Os times menores vão de ônibus, comem em restaurantes e ficam provavelmente mais expostos do que os jogadores de elite. Nossa desigualdade social permeia também o futebol."
O estudo da USP virou o grande trunfo do Ministério Público, que não quer a volta dos eventos esportivos em São Paulo, enquanto a pandemia da Covid-19 estiver no auge.
"Enquanto a transmissão da covid-19 não for mitigada, qualquer setor que reabra representa um risco elevado de contágio. A única alternativa segura seria isolar completamente o futebol dentro de uma bolha, como fez a NBA [Associação Nacional de Basquete, dos Estados Unidos], a um custo de US$ 170 milhões (R$ 978 milhões)."
"Ou fecha ou isola", decreta o professor da USP.
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