São Paulo, Brasil
A cúpula da TV Globo segue alucinada.
Quer pagar, de qualquer maneira, as 65 partidas prometidas aos patrocinadores Ambev, Casas Bahia, Chevrolet, Hypera Pharma, Itaú e Vivo, que bancaram R$ 1,8 bilhão pelo futebol em 2020.
E como a pandemia impede jogos ao vivos, a saída 'genial' foi apostar nas vitórias antigas da Seleção, para a emissora não se comprometer. Não exibir conquistas de clubes e comprar antipatia de rivais.
Depois da conquista do pentacampeonato, o Brasil não venceu nada significativo. A Europa venceu as últimas quatro Copas, escancarando o retrocesso do futebol sul-americano. Desvalorizando a Copa América.
Pior, só a Copa das Confederações.
Torneio que a Fifa extinguiu diante de sua insignificância. A partir de 2001 acontecia no país sede da próxima Copa do Mundo. Era uma maneira de testar transmissões e apressar a conclusão dos estádios.
E foi aí que mostrou o quanto era ilusória.
Enganava aqueles que tolamente acreditavam estar vendo, de maneira antecipada, o novo campeão do mundo.
Havia sido assim já em 2001, quando a França foi campeã, vencendo o Japão por 1 a 0. A equipe seria a última no grupo 1 do Mundial, sendo eliminada na fase de grupos. Ficou atrás de Dinamarca, Senegal e Uruguai.
Veio 2005, Brasil campeão na Alemanha. Na final, goleou a Argentina. Na hora para valer, o time de Parreira, com o quarteto mágico, Kaká, Ronaldo, Ronaldinho e Adriano, não passou das quartas, perdendo para a França.
Aí, 2009. Na África do Sul. O Brasil outra vez vence. Derrota os Estados Unidos por 3 a 2. Com o time instável, que não merecia confiança, de Dunga. No ano seguinte, o esperado vexame, com outra eliminação nas quartas. Desta vez caindo diante da Holanda.
Até que chegou a mais enganadora das Copas das Confederações.
A que a Globo mostrará às 16 horas.
O torneio disputado no Brasil.
O time de Luiz Felipe Scolari conseguiu iludir não só torcedores, como a imprensa brasileira como um todo.
Jornalistas de todo o país, inclusive este blogueiro, que acompanharam todas as vitórias, contra Japão, 3 a 0, México, 2 a 0, Itália 4 a 2, a semifinal por 2 a 1 contra o Uruguai, no Mineirão, acreditavam: Felipão havia encontrado o time que traria o hexa em 2014.
Júlio César; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo, Paulinho (Hernanes) e Oscar; Neymar, Fred (Jô) e Hulk (Jadson).
Esse foi o time da decisão contra a Espanha.
O 'massacre' por 3 a 0, contra a equipe que era a atual campeã mundial e estava invicta há 29 partidas.
A partida, disputada no Maracanã, teve o poder ilusório de tamanha relevância que não só convenceu a imprensa esportiva nacional que o sexto título mundial estava garantido, como enfraqueceu o violento movimento contra a Copa no Brasil.
A sociologia explica a força do futebol como 'ópio do povo' desde sempre.
Mas o Brasil ficou tão tomado pelo sentimento de conquista esportiva, que a sociedade não se posicionou contra os estádios superfaturados, os elefantes brancos construídos em Brasília, Cuiabá, Natal e Manaus.
Nem quis enxergar os gastos absurdos de R$ 33 bilhões. A Fifa faturou 4 bilhões de reais, sem impostos.
Tudo dinheiro público.
Na partida que a Globo mostrará hoje, dará vergonha não ter percebido a decadência da Seleção Espanhola.
O time de Vicente del Bosque já mostrava que seu time de toque curto, com saída de bola precisa, movimentação constante, campeã na África do Sul, já estava decorado pelos adversários.
O antídoto estava em uma simples marcação forte na saída de bola. Bastaria ter um time melhor condicionado fisicamente e corajoso. Foi exatamente o que o Brasil foi naquele domingo, 30 de junho de 2013.
Os espanhóis estavam desgastados. Vinham de uma semifinal estafante, vencida nos pênaltis contra os italianos, depois do 0 a 0, em Fortaleza.
O 4-2-3-1 de Felipão se mostrou a fórmula mais eficiente. Com a marcação alta, destroçou os espanhóis, que apelavam para o 4-4-2. O genial Iniesta e o efientíssimo Xavi não tinham como respirar.
O Brasil venceu a partida fisicamente. E com sua postura agressiva. Com Daniel Alves e Marcelo com liberdade para impor velocidade e técnica.
Neymar merece um capítulo à parte.
Estava solidário, inspirado, com toda a liberdade por parte de Felipão e de Vicente del Bosque. Ganharia o até hoje único título com a Seleção Brasileira principal, em dez anos de convocações.
Sergio Ramos e Piquet já demostravam a lentidão que chegaria ao auge em 2018.
O Brasil goleou.
Fez 3 a 0, mas merecia mais.
A cabeleira e o carisma de David Luiz foram importantíssimos naquela tarde de ilusão. Marqueteiro, capitalizou as atenções. E parecia que o Brasil teria uma zaga imbatível, com ele e Thiago Silva.
O poder de marcação de Luiz Gustavo, a versatilidade de Paulinho, a visão de jogo de Oscar, a força de Hulk, o faro do artilheiro de Fred.
Júlio César mostrava estar recuperado do desastre da Copa de 2010.
E parecia que tinha de ser Felipão. O treinador que conseguiu o Mundial de 2002, conquistaria o de 12 anos depois.
Mas cantar vitória antecipada, levar a Copa das Confederações a sério demais, foram erros infantis.
A começar por Felipão que manteve o mesmo esquema tático, o 4-3-2-1 foi decorado pelos adversários. Um ano é uma eternidade no futebol.
Depois, a falta de preparo psicológico dos atletas, que não estavam prontos para enfrentar dificuldades. Tinham certeza que goleariam os rivais. Afinal, haviam humilhado a Espanha, no ano anterior.
Só que a realidade mostraria a decadência do time de Viicente del Bosque, eliminado pela Holanda e Chile, na primeira fase da Copa, a de grupos.
A arrogância foi tanta que atingiu, a cúpula da CBF. O então presidente José Maria Marin, depois presidiário nos Estados Unidos, decidiu agradar a Globo, dona do monopólio da transmissão do Mundial.
E todos os treinos do Brasil foram transmitidos ao vivo pelo Sportv. Um absurdo. Os adversários tiveram todos os detalhes táticos e técnicos do time de Felipão.
O treinador não teve força para barrar essa estupidez.
No Mundial, o time penou, sofreu em todos os jogos, irritando a torcida. Porque os rivais sabiam com a equipe iria atuar.
Não bastasse isso, Neymar passava a irritar, provocar seus marcadores. Até que veio a covarde joelhada nas suas costas, dada pelo colombiano Zuñiga.
O Brasil perderia seu principal jogador no Mundial.
Nem classificado para a semifinal da Copa contra a Alemanha, Felipão pôde fazer um treino secreto. E para tentar surpreender Joachim Löw, colocou em campo, no Mineirão, uma equipe completamente aberta. Sem poder de maração nas intermediárias. O treinador esperava que os germânicos ficassem na defesa.
E veio o inesquecível 7 a 1.
A origem da vergonha foi na Copa das Confederações.
A ilusão acabou com o vergonhoso choque de realidade.
Mas para os executivos da Globo pouco importa.
O que eles querem é mostrar uma vitória da Seleção.
Uma goleada, para tentar mais uns pontinhos de audiência.
A última Copa das Confederações foi disputada em 2017.
Na Rússia, com vitória da Alemanha.
Mais ilusão.
A Alemanha foi eliminada na fase de grupos. Foi a última. Atrás de Suécia, México e Coréia do Sul!
A França conquistaria a Copa do Mundo de 2018.
Os países pediram e não haverá Copa das Confederações mais.
A partir da Copa do Qatar.
Jamais um time que venceu a Copa das Confederações ganhou a Copa do Mundo.
Mas o que deu o maior vexame não há dúvidas.
É o que estará na tela da Globo hoje.
O mentiroso time que goleou a Espanha...