Galvão Bueno volta a narrar jogos da Seleção. Globo quis aposentá-lo. Ele não aceitou. Emissora jogou fora seu maior nome no futebol
Galvão deixa clara a 'chateação' da Globo por ele seguir narrando na internet. Por 41 anos, o narrador significou prestígio e dinheiro para a emissora carioca. Emissora cometeu enorme erro de avaliação
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Voltar com o jogo da seleção brasileira...
"A Globo não gostou muito, não, mas o que eu posso fazer?"
Depois de 41 anos, mesmo com contrato, Galvão Bueno resolveu enfrentar a emissora que o consagrou no Brasil.
E não recuou, como os responsáveis pelo esporte da Globo esperavam.
Ele desafiou os seus chefes e vai transmitir amanhã Brasil e Marrocos, pelo YouTube.
A questão é simples.
Ele mantém contrato com a emissora carioca só para fazer chamadas esportivas e trabalhar na Olimpíada de Paris, em 2024.
O que aconteceu no Jardim Botânico, sede da emissora no Rio de Janeiro, foi que os responsáveis pelo esporte não esperavam que Galvão Bueno, aos 72 anos, tivesse energia para ainda transmitir futebol.
Erraram feio.
E perceberam, em meio a demissões chocantes, frias, como as de Cléber Machado e Jota Júnior, que Luis Roberto, Renata Silveira, Gustavo Villani e Everaldo Marques ainda são nomes sem tanta relevância, comparados a Galvão Bueno.
Galvão não queria se despedir das transmissões no ano passado. Foi um plano de rejuvenescimento e economia posto em prática por executivos globais.
Eles apostaram na fragilidade física, nas limitações da idade de Galvão Bueno.
Se ele não está com a mesma potência vocal, não perdeu a vontade de trabalhar, de estar debaixo dos holofotes, de dar sua opinião durante toda a transmissão de qualquer partida. Principalmente as da seleção brasileira.
A inesquecível campanha "Cala a boca, Galvão" nasceu exatamente daí. Da compulsão a falar sem parar durante os jogos.
Só que ele é uma das maiores estrelas de todos os tempos da televisão brasileira.
Da TV Globo.
E foi desperdiçado. Porque não queria parar, ao contrário de em que executivos quiseram que a população acreditasse.
"Vou estar com amigos que, durante os mais de 41 anos da minha história na Globo, sempre formaram o time que me acompanhou. Desde o ano passado, eu venho dizendo que não estava fechando um livro, mas apenas virando uma página", disse o narrador.
Ele não sabia que sofreria a represália da Globo, que impediu Arnaldo César Coelho de comentar a arbitragem.
Vai ter de se contentar com Casagrande, Tino Marcos e o casal de ex-árbitros Sandro Meira Ricci e Fernanda Colombo.
Aos poucos, Galvão vai perdendo as amarras. Sabe que a sua chorosa despedida das transmissões, depois do fim da Copa do Mundo do Catar, não foi ideia sua.
E descobriu no mundo digital ter a liberdade para soltar sua voz, dar suas opiniões verdadeiras.
Foi o que fez no podcast Flow Sport Club.
Além de falar da chateação da Globo, por ele voltar a narrar em um canal digital que nada tem a ver com a emissora da família Marinho, deixou claro o que apenas esboçou. A incompetência de Tite na partida contra a Croácia, que eliminou o Brasil do Mundial de 2022.
"Com a Croácia, que tem um time envelhecido, sabendo como eles jogam, com o Modric e mais três ou quatro caras no meio de campo que ficam tocando bola, o Tite monta um time em que o Casemiro ficou igual a um doido correndo no meio deles. Era proibido perder.
"Me lembro do Roque Júnior falando para mim e para o Júnior que achava que o Richarlison sentiu algo no aquecimento. No intervalo, ele voltou com uma coxeira. Por que demorou tanto para sair?
"O Danilo, que não é lateral, e sim zagueiro na Juventus, foi ser lateral-esquerdo. Quando saiu o Militão e o Danilo veio para a direita, ele não aguentava nem mais andar. O Paquetá estava mal, o Rodrygo tinha que entrar. Não se tira o Vini Júnior com 15, 20 minutos de jogo no segundo tempo em uma partida que você precisa ganhar. Só se ele não conseguisse mais andar. Em um lance, ele decide o jogo.
"Na prorrogação, entrou o Fred, mas qual o motivo de não entrar o Fabinho junto e fechar de uma vez? Acabou o jogo, fura a bola, cai no chão.
"Ele [Tite] me decepcionou muito nesse jogo.
"O pior para mim foi acabar o jogo e o Tite ir para o vestiário.
"E deixar essa geração chorando dentro de campo.
"O que é isso?"
A CBF está em processo de divisão dos direitos de transmissão. Percebeu o fim do monopólio e que o próprio presidente Ednaldo Rodrigues tem interesse em que Galvão Bueno siga transmitindo jogos da seleção pela internet.
Ele fez questão de saudar publicamente a "volta de Galvão".
"Já é uma marca registrada, que torna cada lance, cada situação de jogo, ainda mais especial. Estamos muito felizes que Galvão e toda equipe fantástica ao redor dele, repleta de ícones das transmissões esportivas, tenham se reunido novamente nessa primeira partida da seleção brasileira após a Copa do Mundo."
A CBF prefere que a tradição das transmissões de Galvão continue.
O que será um problema para o canal do influenciador Casemiro, que transmitiu a Copa do Mundo, em parceria com a Fifa, mas com o aval da CBF.
Galvão já disse a amigos que vai continuar "enquanto sentir que está fazendo transmissões dignas".
O sonho agora é chegar até a Copa de 2026.
Ele não se conforma em parar com o fracasso do Brasil.
Seu desejo é narrar o hexacampeonato mundial.
Para amargor da TV Globo.
Depois de 41 anos, a emissora não aprendeu o óbvio.
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