Fracasso no Catar trava o sonho do filho de Tite. Ele queria ser treinador. A possibilidade que surge é ser auxiliar no Corinthians
Matheus Bachi quer levar vida independente do pai. O empresário Gilmar Veloz se esforça para encontrar trabalho para Tite e Matheus. No Corinthians, Fernando Lázaro o aceitaria como auxiliar
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
Doha, Catar
Um efeito colateral dolorido pessoalmente para Tite, no fracasso, pela segunda vez comandando a seleção brasileira em uma Copa do Mundo, atinge sua família.
Diretamente seu filho Matheus.
O treinador sonhava que o título o poria em um gigante europeu. E que também daria a oportunidade de Matheus, a quem transformou em auxiliar da seleção, começar a carreira de técnico.
A preferência, lógico, seria um clube pequeno da Europa, como Portugal ou Itália. Ou então um médio do Brasil. Tite queria que Matheus começasse a "andar com pernas próprias", não mais sendo seu auxiliar.
Só que a derrota precoce, outra vez nas quartas de final, atingiu o filho em cheio.
Aos 33 anos, Matheus não tem experiência nenhuma como técnico.
Só pôde ser auxiliar na seleção porque Tite é seu pai. Aliás, houve a necessidade de alteração no regulamento interno da CBF, que impedia a contratação por parte de parentes em cargos de chefia.
A presença do filho foi exigência de Tite, quando a cúpula da CBF estava desesperada por sua contratação, em 2016. O presidente, Marco Polo del Nero, a princípio, não queria. Para que não fosse acusado de nepotismo, dar emprego a alguém só por parentesco. Mas não teve opção. Ou Matheus iria ou o treinador não aceitaria o cargo.
Matheus chegou aos 27 anos. Lógico que os jogadores, o restante da comissão técnica e os funcionários da CBF foram muito gentis com ele, por conta de Tite. Até mesmo jornalistas evitaram criar constrangimento ao técnico, que já foi visto como o "salvador" do futebol brasileiro. Lembrando que, com Dunga, o Brasil corria risco sério de não chegar à Copa da Rússia.
Todo o sucesso de Tite respingou no seu filho.
O ex-técnico da seleção apostou que a formação no exterior seria o melhor para o filho. Ele o pôs na faculdade privada, paga, Carson-Newman Univertisy, no Tennesse, Estados Unidos. Tentou ser jogador, não conseguiu.
Fez estágio no Caxias, com o técnico Paulo Turra. Por influência de Tite. Graças a Neymar, conseguiu rapidamente estágio no Barcelona. Depois, também por intermédio de Tite, no Flamengo, de Vanderlei Luxemburgo. Em 2015, foi para o Corinthians para ser auxiliar do pai.
Com ele na seleção, passou a coordenar as movimentações simples, básicas dos jogadores. Eles o obedeciam porque sabiam que estavam lidando com o filho de Tite. Com o passar do tempo, seu pai foi dando cada vez mais funções táticas.
Matheus passou a coordenar as posturas do Brasil nas bolas aéreas, ofensivas e defensivas, lógico, com a supervisão do técnico da seleção.
Publicamente, passou a ser reconhecido, e questionado, quando Tite designou que desse as últimas instruções quando os reservas entrassem em campo. O que deu margem para muitos ataques, questionamentos nas transmissões.
O que "o filho de Tite" poderia ensinar a Rodrygo, Vinicius Junior, Thiago Silva, Daniel Alves e até Neymar, quando era poupado e saía do banco para os jogos? Mas ele repetia o que já havia ouvido do pai.
Não falou uma palavra publicamente em todo o período que o Brasil ficou aqui em Doha. Já efetivado como auxiliar, deixava que Cléber Xavier e César Sampaio, que também quer ser técnico, tomassem à frente e completassem os pensamentos do seu pai nas entrevistas. Principalmente quando o técnico não estava disposto a sair da superficialidade das respostas.
Mas, mesmo assim, Gilmar Veloz, o empresário de Tite, está com dupla jornada. Buscando um clube para o pai e outro para o filho.
Tite quer Matheus independente.
Não está fácil para os dois.
A maneira com que o Brasil deixou mais esta Copa do Mundo foi frustrante, decepcionante.
O trabalho de Tite, e, consequentemente, o de Matheus, é considerado pela imprensa mundial muito ruim. Diante do talento dos jogadores brasileiros.
Como treinador, está muito difícil para Matheus.
Mas, como auxiliar, já há uma possibilidade.
O diretor de futebol do Corinthians, Roberto de Andrade, é muito amigo e quer Tite de volta como treinador. Propôs para ele o cargo, antes de começar a Copa. Disse que o esperaria, assim que Vitor Ferreira acertou com o Flamengo. Tite agradeceu e disse que em 2023 não trabalhará no futebol brasileiro. Esse prazo já caiu para o segundo semestre.
No Corinthians, aliados de Roberto de Andrade trabalham para que haja espaço para Matheus Bacchi. Mas como auxiliar de Fernando Lázaro, que continuaria como técnico. Filho do ex-lateral Zé Maria, Lázaro ganhou real oportunidade na carreira se tornando analista de desempenho na seleção com Tite. Ficou três anos, depois foi ser auxiliar de Sylvinho, no Lyon.
Lázaro voltou para o Corinthians como auxiliar. Iria observar adversários do Brasil aqui no Catar. Mas nem chegou a vir, foi efetivado como técnico no clube. Graças à indicação de Tite.
Ou seja, a ligação entre Corinthians, Tite, Lázaro e Matheus é enorme.
A provável ida de Matheus deve abrir caminho para um retorno ao Parque São Jorge.
Não está nada decidido.
Por mais que haja ligação afetiva com o clube paulista, não é o que os dois projetavam.
Vão esperar Gilmar Veloz trabalhar.
Matheus está mais ansioso.
Sem o sonhado gigante europeu, devido à fraca campanha na Copa, Tite prefere descansar.
Tem patrimônio para isso.
Já seu filho, que recebia cerca de R$ 60 mil, mais diárias, na seleção, não.
Daí a pressa para voltar ao trabalho.
E o Corinthians tem grande chance de ser o lugar...
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