Fortaleza mergulha no caos. Acumula vexames. Mata a esperança de um ano histórico. Time pede perdão. Vojvoda avisa. ‘Pode piorar.’
A eliminação, em pleno Castelão, para o Retrô, 12º colocado do Brasileiro da Terceira Divisão, foi a gota d’água. Torcedores ameaçaram direção do clube. E os jogadores decidiram encarar e pedir perdão aos torcedores. Vojvoda mostrou coragem e assumiu a frustração

A torcida mais animada do país estava revoltada, ontem.
Mais que os palavrões, as cobranças, ameaças à direção, era a frustração que tomava a alma dos torcedores no Castelão.
Todo o orgulho dos últimos cinco anos se transformou em desilusão.
Com os líderes do elenco indo até os revoltados chefes das organizadas para pedirem perdão.
E implorarem apoio, mesmo depois dos assumidos vexames.
Explicar como o time foi eliminado em casa da Copa do Brasil pelo 12° colocado da Série C, da Terceira Divisão, a humilde equipe pernambucana Retrô.
2025 prometia ser um ano espetacular para o Fortaleza.
Reforços importantes como David Luiz, Borrero, Diego Barbosa e Deyverson, entre outros.
A reformulação, com as saídas de Hércules, Ceballos, Thiago Galhardo, Pedro Rocha, Benevenuto foi estudada.
O novo time montado por Juan Pablo Vojvoda era para se impor.
Seguro defensivamente, vibrante nas intermediárias e veloz, fulminante no ataque.
Mas vieram os baques.
Primeiro, no ‘próprio quintal’, tomar o Estadual do rival.
Depois, na região, ser franco favorito para recuperar a Copa do Nordeste.
Lutar pelo dinheiro da Copa do Brasil.
Fazer um Brasileiro digno, marcando presença entre os primeiros no final da temporada.
E ter na Libertadores, a cereja do bolo, com classificações inéditas na fase eliminatória, superando a fase de grupos, sem sustos.
Pois está dando tudo errado.
A começar pelo fracasso no Estadual.
O Ceará não teve dificuldade para se tornar bicampeão e, de forma invicta.
A campanha vergonhosa na Copa do Nordeste, com sete partidas, três vitórias e quatro derrotas.
Se classificou em quarto no grupo A e vai jogar a vida contra o líder do B, o favorito Bahia.
No Brasileiro, a instabilidade domina.
O 14º lugar não é por acaso.
Na Libertadores, a mesma situação.
A campanha parecia que seria histórica, em um grupo relativamente fraco, para a disputa de duas vagas.
Na segunda colocação, jogará a vida contra o Racing, na Argentina.
Uma derrota e uma vitória do Atletico Bucaramanga contra o eliminado, e desinteressado, Colo Colo, e tudo acabou.
Como aconteceu ontem, na Copa do Brasil.

O empate diante do Retrô, em Pernambuco, já foi mal visto, rejeitado.
No Castelão, na partida decisiva, a perspectiva, com o time titular, era de uma goleada.
Mas veio outro empate, com o goleiro João Ricardo fazendo milagres para evitar a derrota.
Vieram os pênaltis e aí não houve escapatória.
Lucero e Kervin perderam suas cobranças e o Castelão virou palco de vaias e palavrões, para os mais de 15 mil que estavam no estádio.
Sim, o estádio tem capacidade para 60 mil pessoas e costumava estar lotado para jogos decisivos do Fortaleza.
Mas o que está dando errado?
Justo no quinto ano de Juan Pablo Vojvoda?
Com o argentino tendo o controle absoluto do time que montou?
“É o ano mais difícil que tenho. E não falo hoje, já venho falando isso. É um ano muito difícil, muito difícil. Por todas as coisas que aconteceram, principalmente resultados. Não vou esconder isso. O clube, a diretoria, os reforços, a janela, o elenco, tudo isso. Não há uma coisa, é tudo. Quando as coisas não estão dando certo, é tudo
“Porque ‘Tira 20 jogadores e traz 20′, sabe como termina isso? Agora ‘não paga mais salários porque não está jogando’, sabe como termina? Já sabemos como termina isso. ‘Ah, o torcedor não vem mais ao campo, não apoia mais porque o torcedor só gosta quando o time ganha’. Sim, é verdade. Temos que dar resultado ao torcedor. O Castelão vazio é culpa nossa
“Que opinem, que critiquem a Vojvoda, que critiquem o elenco. Merecemos isso agora, se não estamos dando resultado. Essa é a verdade, não estamos dando resultado e temos que encontrar uma solução. Temos que encontrar a solução para um ano muito difícil. Aceitar, ser humildes. Atenção, abrir os olhos, porque ainda pode ser pior.”

O desabafo foi de Vojvoda, após a eliminação.
Ele avisa que ‘pode ser pior’, por um motivo muito simples.
A reformulação no elenco do Fortaleza não deu certo.
Foi radical demais.
Muitas saídas e muitas entradas.
Não houve encaixe nas peças.
O forte das equipes de Vojvoda sempre foi o conjunto, a movimentação coordenada.
E o atual Fortaleza é lento, inseguro, equipe espaçada.
Nada de triangulações pelos lados do campo, marcação pressão coordenada.
A equipe é um esboço, uma caricatura do Fortaleza dos últimos anos.
Não adianta vontade, vibração, se não sincronia, dinâmica, ‘time encaixado’.
Cabe a Vojvoda mostrar coragem, de novo, e afastar jogadores com nomes consagrados que não deram certo até agora.
Como, por exemplo, David Luiz.
Não adianta ser líder do elenco, se dentro do campo não consegue marcar, se antecipar, ganhar pelo alto, sair jogando com talento e convicção, como fazia no seu auge.
O clube, que tem orgulho, e deve mesmo ter, de sua infraestrutura, pecou no básico.
Na montagem do elenco.
E veio a desilução.
Além da frustração, prejuízo.
Foram R$ 3,6 milhões que não entraram para os cofres e seguiram para o Retrô.
O maior rival fez a festa no Cearense.
A Copa do Brasil já foi.
A Libertadores está por um fio.
Virou zebra na Copa do Nordeste.
E a luta no Brasileiro, se algo profundo não mudar, será para escapar da zona do rebaixamento.
Há tempo.
Há competência de Vojvoda.
Visão da direção.
Dinheiro para buscar reforços na janela.
Mas o fundamental está na coragem de admitir o erro.
E encarar que o caro elenco montado para 2025 não está dando certo.
Não adianta nomes consagrados que não rendem como já renderam um dia.
O argentino Vojvoda deu o aviso.
“Tudo pode piorar...”