‘Foi um jogo completo. Com e sem a bola.’ Ancelotti vê o mais importante na goleada, por 5 a 0, contra a Coreia do Sul. E o renascimento de Rodrygo
O treinador italiano sabe muito bem a diferença técnica entre brasileiros e sul-coreanos. Mas para ele importou a postura, a atitude do Brasil, que ele tanto cobrava. É como ele quer a Seleção na Copa
Cosme Rímoli|Do R7

Carlo Ancelotti é o treinador mais vitorioso da história.
Ninguém ganhou cinco Champions e três Mundiais.
Passou a metade da vida comandando times.
São 33 anos como técnico para 66 de vida.
Ele aprendeu a conter o sangue vibrante italiano.
Se tornou frio, calculista.
Descontando em dez chicletes por jogo sua tensão.
E sua principal luta ao assumir a Seleção Brasileira está sendo encaixar a mentalidade competitiva.
A de uma equipe, formada por jogadores talentosos, que priorizem o conjunto. Ou seja, atuem pelo time, não por exibições individualistas.
Tanto que o Brasil, hoje, em Seul, começou a partida, em um teórico 4-2-4, esquema tático utilizado na década de 70. Mas com Ancelotti, esses dois homens de meio-campo, o redimido Casemiro e Bruno Guimarães, tiveram o tempo todo o auxílio de Matheus Cunha e Rodrygo.
O quarteto ofensivo, comemorado pelos precipitados, na verdade, se mostrou uma dupla, com Estêvão e Vinicius Júnior. Com Matheus Cunha e Rodrygo colocando todo seu vigor físico à prova. Fechando a intermediária, tornando cada vez mais insegura a saída de bola coreana.
Daí a intensidade desejada por Ancelotti, que proporcionou 12 finalizações, contra apenas um da limitada equipe oriental.
E o 5 a 0 no placar.
“Foi um jogo completo da equipe. Acho que jogamos muito bem, com e sem a bola. Acredito que o comprometimento da equipe foi muito bom. E, quando o time entra com esse compromisso em campo, a qualidade aparece, e apareceu muito bem. [...] O jogo mostrou qualidades individuais realmente muito, muito importantes”, resumiu, Ancelotti, orgulhoso do que viu.

O técnico italiano sabe que cada palavra sua é analisada com profundidade.
E ele faz questão de, em toda coletiva, destacar a importância do jogo coletivo, estruturado. Sem depender apenas do improviso com a bola dominada pelos talentosos atacantes brasileiros.
“Estou muito satisfeito com o jogo da equipe. Obviamente, se você coloca uma base forte, com uma equipe sólida na defesa, a qualidade individual na frente aparece. [...] A equipe saiu muito bem, porque o Rodrygo jogou uma partida muito boa, o Estêvão também.[...] Na frente, a equipe tem muita variedade, muita solução ofensiva, e hoje aproveitamos a qualidade individual desses jogadores.”
Como um professor doutrinando seus alunos, Ancelotti explicou, pela décima vez, aos jornalistas que acompanham a Seleção pelo mundo, o que deseja do Brasil na Copa.
Com a palavra mágica: compromisso.
“Hoje, o time mostrou que pode jogar a esse nível, com intensidade, com qualidade, com compromisso. Desde que estou aqui, eu falo do compromisso coletivo. Esta é uma base e depois, quando a equipe tem esta base, tenho muita possibilidade de fazer as coisas muito bem. [...] Hoje, com o compromisso, usamos também a qualidade, que também esses jogadores têm. Mas, hoje, usamos a qualidade para fazer isso, e é o que a Seleção precisa.”
O jogador mais empolgado com a vitória por 5 a 0 era Rodrygo. Com a camisa 10 nas costas, ele teve o melhor desempenho pela Seleção desde a Copa do Mundo do Catar.
“Estou muito feliz de estar de volta. Passei um tempo longe da Seleção. Estava com muita saudade. Já sabia, tinha na cabeça de levar esses amistosos como final de Copa do Mundo. Foi o que tentei fazer hoje. Deu tudo certo. Feliz com meus gols, com desempenho, mais feliz com o desempenho da equipe. A gente está num ótimo caminho para Copa do Mundo", afirmou.
“Foi o que ele [Ancelotti] deixou de mensagem para gente antes do jogo. A gente sabia disso também. É sempre importante deixar uma defesa sólida. Todo mundo defende, todo mundo ajuda... aos poucos, o ataque começa funcionar. Muito feliz pela vitória, pelo meu desempenho pessoal também. É seguir assim”, completou.
Rodrygo estava há 195 dias sem fazer parte da Seleção Brasileira. Contusões, reserva no Real Madrid, fim de relacionamento, problemas e mais problemas o afastaram das convocações.

Ele retornou pelas mãos do treinador que o fez jogar melhor na sua vida.
E que o tornou uma estrela mundial no Real Madrid.
Agora chegou a hora de ‘renascer’ na Seleção.
Vinicius Júnior foi ainda mais direto.
Destacou quem merecia: Ancelotti.
“Ele sempre foi o melhor treinador que já tive. Foi o treinador que me deu mais confiança, com quem joguei melhor. Ele chegou aqui na Seleção, já consegui fazer três jogos. É clara a evolução que tenho junto a ele e à equipe. A gente quer seguir dessa maneira para poder fazer uma excelente Copa do Mundo”, disse.
Independente da fragilidade da Coreia, que já iludiu o Brasil na Copa de 2022.
Ancelotti está encontrando não um time.
Mas a forma de juntar tantos talentos individuais brasileiros.
E ter uma equipe competitiva, intensa.
Com muita força física, velocidade, explosão muscular.
Principalmente sem vaidades.
E com o espírito de conjunto prevalecendo.
É nesse cenário que Neymar terá de se adaptar.
Se puder...
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O elenco do Peixe realizou atividades durante a Data FIFA, com direito a presença da imprensa.