Felipão repete 2014. O Palmeiras, além de covarde, virou previsível
Os adversários decoraram como o time joga. Como aconteceu com o Brasil na Copa de 2014. O treinador segue carente de ideias quando está fora de casa
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Vou ter que trabalhar bem o aspecto psicológico, vi um jogo em que estivemos mais nervosos que o comum, alguns jogadores até mais experientes, vendo que não iam ganhar o jogo, se irritando com adversário passando o pé na bola, querendo brigar com jogadores adversários.
"Se o adversário é superior, aceite, tem que ir lá e recuperar a bola. Se não tiver a cabeça no lugar joga fora tudo que teve até agora."
De uma maneira sutil, Luiz Felipe Scolari repassou aos jogadores a culpa pela derrota do Palmeiras para o Ceará, por 2 a 0. Fracasso que acabou com a invencibilidade de 33 partidas do time no Brasileiro, somando a competição de 2018 e 2019.
Não é porque tem o respaldo de Mauricio Galiotte, que prefere negociar o time todo a mandar embora Felipão, que o treinador não precisa olhar para o espelho.
E admitir que, se ele foi o responsável pela incrível sequência sem derrotas e pelo título do Brasileiro de 2018, a decadência do time também tem origem no seu comando.
O treinador faz de conta que não exerga.
O Palmeiras não faz uso dos meias importantes que possui.
O time vive de ligações diretas, chutões da defesa para o ataque, escanteios e faltas levantadas para a área. E cruzamentos. Se a bola passa chega à intermediária, há uma falta de imaginação, convicção nos dribles, nas tabelas.
O Palmeiras é viciado em jogar a bola na área adversária e esperar o que acontece. Se tornou uma equipe sem convicção de como atacar.
Até mesmo Dudu, seu principal jogador, se burocratizou.
Assim como Odair Hellmann, Enderson Moreira colocou seu time para dominar a bola, forçar a infiltrações com velocidade e em bloco, que o Palmeiras se desesperou.
Luan tem se mostrado lento, com péssima colocação e sem senso de cobertura.
Está jogando mal, ao contrário de 2018, e comprometendo todo o sistema defensivo palmeirense.
Bruno Henrique também tem comprometido.
Não ajuda com eficiência na marcação e deixou de ser o jogador-surpresa na área adversária. Quase um Paulinho de Tite.
Há um ano o Palmeiras não perdia duas partidas seguidas, como alega Felipão.
É excelente defesa.
Mas o time segue jogando pessimamente fora de casa há tempos. Não fracassou na Libertadores em 2018, duas vezes na Copa do Brasil e no Paulista de 2019, por acaso.
A covardia tática do melhor elenco do país é inaceitável.
Time preso, amarrado atrás.
A parada de três semanas por conta da Copa América só fez mal para quem não a aproveitou, buscou novas saídas táticas, maneiras diferentes de usar os jogadores que possui.
O Palmeiras ficou na mesmice.
Lembra a mesma situação da Seleção Brasileira que venceu a Copa das Confederações em 2013. O treinador se apegou ao 4-2-3-1 e acreditou que, um ano depois, o mesmo esquema e mesmos atletas serviriam para vencer a Copa do Mundo.
Só que os adversários decoraram como o Brasil jogava e veio o vexame. O time já poderia ter sido eliminado pelo Chile nos pênaltis, nas quartas. Mas a vergonha dos 7 a 1 na semifinal para a Alemanha e os 3 a 0 para a Holanda aguardavam o time de camisa amarela.
O treinador era o mesmo Felipão.
Ele segue com grande dificuldade para se reinventar.
Adota, desde que chegou, no ano passado, a mesma postura tática de muita marcação. Saída de bola com chutões, a famosa ligação direta. Sem trocas de passes. Fazendo dos meias talentosos como Lucas Lima e Gustavo Scarpa meros terceiros volantes ou marcadores de laterais adversários.
Marcos Rocha e Diogo Barbosa se especializaram em cobrar laterais para a área. E não triangular pelos lados do campo, como faziam no Atlético Mineiro e Cruzeiro.
Borja e Deyverson não são exemplos de atacantes virtuoses. Mas são alvos de tantas críticas porque vivem de bolas espirradas, sobras, não de infiltrações, jogadas coordenadas com meias, atacantes de lado.
O Palmeiras segue muito mal aproveitado por seu técnico.
E previsível.
Colocar a culpa no nervosismo dos jogadores é oportunismo.
Parceiros de Galiotte garantiram ao blog que o presidente considera Felipão intocável.
Mas mesmo qualquer intocável tem a obrigação de melhorar seu trabalho.
A sorte é que o adversário das oitavas na Libertadores é muito fraco.
Mas o Godoy Cruz poderá criar problemas.
Basta o Palmeiras seguir jogando de forma covarde.
E sem imaginação.
Times mais fracos como Internacional e o Ceará se aproveitaram.
E enfrentando o melhor dos três times que Felipão pode montar.
A hora é de análise séria.
Buscar soluções.
Felipão ter a humildade de reconhecer.
O Palmeiras fora de casa está mal há muito tempo.
Atua de forma incompatível com os jogadores que possui.
O técnico que se reivente.
Faça o que não fez em 2014...
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