Felipão, 73 anos e meio. O mais idoso técnico na Libertadores. E no Brasileiro. "Não sou velho!"
Luiz Felipe Scolari se recusa a ficar em casa com os netos. Ele incendiou o Athletico, conseguiu a difícil classificação para as oitavas da Libertadores. E promete lutar no Brasileiro. Não quer a aposentadoria
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"É como disse o Ancelotti outro dia: não me vejo como velho.
"Eu não sou velho.
"Eu conheço alguma coisa de futebol."
Luiz Felipe Scolari estava irônico após a vitória do Athletico sobre o Caracas, por 5 a 1, ontem em Curitiba. O resultado levou o clube para as oitavas de final da Libertadores.
O gaúcho de Passo Fundo está a seis meses de completar 74 anos.
É o mais velho entre todos os que comandam os times da Série A no Brasil.
Poderia ser o avô, por exemplo, do técnico do Cuiabá, Luiz Fernando Iubel, que tem 33 anos.
Luiz Felipe Scolari – Athletico, 73 anos
Luís Castro – Botafogo, 60 anos
Dorival Júnior – Ceará, 60 anos
Mano Menezes – Internacional, 59 anos
Vagner Mancini – América-MG, 55 anos
Vítor Pereira – Corinthians, 53 anos
Fabián Bustos – Santos, 53 anos
Antonio Mohamed – Atlético-MG, 52 anos
Paulo Sousa – Flamengo, 51 anos
Eduardo Baptista – Juventude, 50 anos
Rogério Ceni – São Paulo, 49 anos
Fernando Diniz – Fluminense, 48 anos
Juan Pablo Vojvoda – Fortaleza, 47 anos
Gustavo Morínigo – Coritiba, 45 anos
Jair Ventura – Goiás – 43 anos
Abel Ferreira – Palmeiras, 43 anos
Eduardo Barroca – Avaí, 40 anos
Maurício Barbieri – Red Bull Bragantino, 40 anos
Luiz Fernando Iubel – Cuiabá, 33 anos
É também, disparado, o mais idoso entre os que disputarão as oitavas da Libertadores:
Luiz Felipe Scolari, Athletico, 73 anos; Julio Falcioni, Colón, 65 anos; Ricardo Zielinski, Estudiantes, 62 anos; Hernán Torres, Tolima, 61 anos; Vítor Pereira, 53 anos; Antônio Mohamed, 52 anos; Paulo Sousa, 51 anos; Daniel Garnero, Libertad, 51 anos; Francisco Arce, Cerro Porteño, 51 anos; Pedro Caixinha, Talleres, 51 anos; Juan Pablo Vojvoda, 47 anos; Marcelo Gallardo, River Plate, 46 anos; Abel Ferreira, 43 anos; Julio Vaccari, Vélez Sarsfield, 41 anos; Sebástian Battaglia, Boca Juniors, 41 anos; Ismael Rescalvo, Emelec, 40 anos.
Felipão está fazendo história por conta de sua longevidade.
O técnico estava vivendo em Portugal com a família, mas pessoas ligadas a ele garantem que Felipão não se conformava com a aposentadoria. Queria voltar ao trabalho diário. No próximo ano, completará 50 anos como profissional. Começou a atuar como zagueiro em 1973. E como técnico, em 1982.
Além de sua vontade imensa de trabalhar, ele se sente responsável pelos auxiliares Paulo Turra e Carlos Pracidelli. Daí recolocá-los no Athletico.
Seu contrato com o clube paranaense está amarrado ao homem que controla tudo: Mario Celso Petraglia. A princípio, o trato é que Felipão siga até o fim de 2022 como treinador. E depois assuma, de verdade, a coordenação do futebol. Hoje, ele até acompanha a base, estuda compra e venda de atletas. Mas de maneira superficial. Por conta das exigências do time profissional do Athletico.
Felipão já está no lucro.
Quando ele assumiu o clube, o Athletico precisava desesperadamente vencer as suas duas últimas partidas pela fase de grupos para sobreviver na Libertadores. O time estava na última colocação. Venceu o Libertad em um jogo de "vida ou morte" e ontem goleou o Caracas por 5 a 1.
"Conheço alguma coisa de futebol", provocou após o triunfo importante.
A imprensa de Curitiba diz que ele deu um "choque de confiança", mexeu psicologicamente com o elenco. Motivou atletas importantes como Pablo. A postura do Athletico é outra em relação à Libertadores. E também ao Brasileiro, em que o clube ocupa apenas a 16ª colocação.
O plano de Felipão é tornar a Arena da Baixada o "caldeirão" que era anos atrás, por exemplo, quando Tiago Nunes comandava o clube, em 2018 e 2019.
O planejamento do Athletico é que Felipão pare de trabalhar como treinador no fim do ano. E cuide apenas da coordenação do futebol, como um manager europeu.
Mas, depois das cinco partidas, com quatro vitórias dentro da Arena da Baixada, e só uma derrota, diante do Fluminense, no Rio de Janeiro, já há sérias dúvidas.
Felipão se mostra empolgado.
E nem um pouco disposto a falar sobre aposentadoria.
O treinador assumiu no lugar de Fábio Carille, depois da goleada por 5 a 0 que o time sofreu para o The Strongest, na Bolívia. Ele conseguiu controlar o desânimo e impôs nova dinâmica, muito mais competitiva, intensa, ao Athletico.
Felipão está empenhado como nunca.
Trabalha como se fosse seu último clube.
Mas com Luiz Felipe ninguém pode garantir quando será seu derradeiro trabalho.
O técnico das contradições, pentacampeão do mundo e "do inesquecível 7 a 1 para a Alemanha", não quer ficar em casa, aposentado, vivendo de lembranças.
Quer estar no banco de reservas, organizando, cobrando, vibrando com um time de futebol.
Esse é o estimulado homem de 73 anos do Athletico.
Que diz, em voz alta, encarando os repórteres:
"Não sou velho"...
Relembre os casos de racismo contra times brasileiros na Libertadores 2022
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