Falta de perdão a Gabigol, revezamento descabido, time retrancado, medroso. Flamengo começa a rejeitar Tite
A derrota diante do Bolívar, pela Libertadores, escancarou de vez um sentimento que domina o Rio de Janeiro e vai contaminando a Gávea. A decepção com o trabalho de Tite. A tentativa que ele fez de valorizar a conquista do fraco Campeonato Carioca fracassou
A chegada da delegação do Flamengo, no Galeão, foi cercada de cuidados.
Seguranças espalhados estrategicamente pelo aeroporto internacional.
O medo da direção é que houvesse protestos da torcida, diante do fracasso de ontem, na derrota para o Bolívar, por 2 a 1.
Mas a resposta foi pior.
O desprezo.
Nada de torcedores cobrando, xingando, muito menos cobrando.
Ninguém se dispôs a estar às 6h30 no distante aeroporto.
Mas nas redes sociais, nas sedes das organizadas, na imprensa carioca, entre os conselheiros do clube, tudo está muito diferente.
A paciência com Tite acabou.
Bastaram 21 partidas e a cobrança já é assustadora.
Os fatos vão se acumulando em velocidade espantosa.
O treinador, que fracassou em duas Copas do Mundo, já é seriamente questionado.
Primeiro por sua rejeição, e falta de perdão, a Gabigol, o maior ídolo do clube.
Sim, o atacante o ofendeu publicamente por não tê-lo levado para a Copa do Catar.
Foi uma enorme injustiça de Tite, que convocou nove atacantes e não levou o artilheiro, o brasileiro que havia marcado mais gols entre 2018 e 2022.
Mas as circunstâncias mudaram: os dois estão no Flamengo.
Houve um movimento dentro do clube para a reaproximação, mas Tite não aceitou.
Seguiu tratando Gabigol secamente, não abriu caminho para o perdão, para a cumplicidade.
Tite tinha a certeza que o fraquíssimo Campeonato Carioca seria seu escudo.
Mas o nível baixo da competição, que fez com que colocasse times reservas no torneio, desmoralizou seu discurso de ‘regional mais difícil do país’.
A decisão contra o Nova Iguaçu deu a real medida do torneio.
Havia jurado que não trabalharia em 2023 no Brasil.
“Podem me chamar de mentiroso, se eu aceitar.”
Aceitou.
Ele sonhava com a Europa, mas não só os clubes grandes e médios, nem os pequenos quiseram trabalhar com o brasileiro que fracassou em duas Copas seguidas.
Tite quis o elenco milionário do Flamengo e que sabia: ficaria ainda mais reforçado para disputar o Mundial de 2025.
Só que geneticamente o treinador gaúcho está mostrando não combinar com o time mais popular do país.
A torcida esperava uma equipe ofensiva, vibrante, dominante, com o melhor plantel da América do Sul.
Adenor, no entanto, tem mostrado um comportamento estranho, amedrontado.
Bastaram 21 partidas no ano para que ele poupasse oito atletas para o confronto importante pela Libertadores, ontem, em La Paz.
No seu planejamento, a briga seria para ser o primeiro colocado não só no grupo E, mas na classificação geral.
Mas bastaram três partidas no torneio sul-americano, prioridade absoluta na Gávea.
O empate com o Milionários, com o Flamengo jogando com um atleta a mais, por 30 minutos.
A vitória inconvincente diante do Palestino.
E a derrota de ontem contra o Bolívar.
O treinador segue deixando escancarada sua insegurança.
Na coletiva leva sempre um auxiliar ou um preparador físico.
E repassa as perguntas mais difíceis para eles.
É uma maneira de não se comprometer, não se queimar.
Nas Copas de 2018 e 2022 jornalistas do exterior criticavam durante essa postura sem personalidade.
Os repórteres brasileiros começam a acordar para seu comportamento que não é digno de um líder.
A direção do Flamengo já sente a rejeição ao treinador na mídia carioca.
O investimento de mais de R$ 157 milhões em reforços em jogadores não têm se justificado.
O pouco que falou ontem foi superficial.
“A ciência já está há bastante tempo ali, não é nenhuma novidade, está desde o tempo que eu jogava. A quantificação de carga traz atletas que têm essa condição e com todo o suporte que o Flamengo dá. A responsabilidade é minha, porque a definição da equipe é minha, mas eu tenho muita lucidez de não estourar um atleta numa sequência de jogos e perdê-lo na sequência.”
Suas explicações não convenceram.
Como o clube fez uma pré-temporada para em apenas 21 partidas, muitas vezes poupando atletas no fraquíssimo Carioca, já é necessário o revezamento.
No Brasileiro, também o futebol é decepcionante.
Na vitória discutível contra o Atlético Goianiense.
No fraquíssimo futebol diante do Palmeiras.
E contra o São Paulo, quando vencia, se impunha, Tite tira Bruno Henrique e De La Cruz.
Adenor está se perdendo.
Algo muito estranho acontece no Flamengo.
Tite está fazendo tudo errado.
Não se mostra líder.
A expectativa de sua chegada já se tornou decepção.
Uma eliminação na Libertadores pode ter efeitos inesperados na vida do técnico...
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