Expectativa no São Paulo.Taça das Bolinhas para disfarçar os fracassos
A arrastada disputa legal pelo troféu pelo primeiro penta brasileiro está no final. CBF deverá entregar a Taça das Bolinhas. Euforia no Morumbi
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

São Paulo, Brasil
Desde que assumiu a presidência do São Paulo, em outubro de 2015, Carlos Augusto de Barros e Silva, não conseguiu sequer um título. São quase quatro anos sem um troféu profissional a mais na galeria no único clube tricampeão mundial do país.
A insegurança e a incoerência marcam sua administração repleta de fracassos no gramado. Mas nos bastidores, há uma grande movimentação e ansiedade no Morumbi.
A expectativa é que finalmente, o inseguro Leco, leve um troféu para pontuar sua péssima administração no futebol.
Ele é horroroso.
O escultor Maurício Salgueiro não estava inspirado quando projetou a taça. Tem 60 centímetros e pesa 5,6 quilos. Aros sustentam 156 esferas, sendo uma de ouro e as demais de pratas, banhadas a ródio.
Como foi feita em 1975, a ideia é que cada uma das 156 esferas representasse um clube de futebol do Brasil. E só uma delas, a de ouro, personalizaria o campeão.
Na época, o futebol ainda era comandado pela CBD e tinha o lema informal, relacionando o esporte à política. E os Brasileiros eram inflados para ajudar o partido oficial do governo. Daí o famoso ditado. "Onde a Arena vai mal, um time no Nacional."
O nome oficial do troféu é Copa Brasil.
E foi oferecido pela Caixa Econômica Federal à CBD.
Inspirado no que a Fifa faz na Copa do Mundo, ele deveria ficar, em definitivo, com o primeiro clube que conquistasse o Brasileiro por três vezes seguidas ou cinco alternadas.
A confusão envolve Flamengo e São Paulo.
O clube carioca foi traído pelo Clube dos 13. Em 1987, em uma revolução no futebol brasileiro. A CBF alegava que não havia dinheiro para bancar a competição. O clube dos 13 tomou à frente resolveu fazer um torneio entre as 16 maiores equipes do país.
Foi batizado de Copa União.
Os clubes que ficaram fora não aceitaram. E a CBF optou por uma saída salomônica. 16 outras equipes disputariam um torneio.
A CBF determinou que os dois vencedores do Módulo Verde, os dirigentes na épocas se negavam a tratar o torneio como Copa União, enfrentassem os dois primeiros do torneio paralelo, batizado de Módulo Amarelo.

Só que todos os 16 clubes grandes do país haviam feito um pacto de não aceitar o cruzamento de jeito algum. O campeão do país seria o time que conquistasse a Copa União. Foi o Flamengo, tendo o Internacional como vice.
Todas os times grandes se comprometeram a reconhecer o Flamengo como campeão, inclusive o São Paulo.
Mas tudo foi de maneira extraoficial, porque o Clube dos 13 não tinha esse poder para homologar o título.
A CBF, que substituiu o CBD, impôs um torneio quadrangular entre os primeiros do Grupo Verde e do Grupo Amarelo. Flamengo e Internacional cumpriram o que havia sido acordado e não disputaram os jogos. Foram declarados derrotados por W.O.
O Sport levou a melhor sobre o Guarani e acabou sendo o campeão oficial de 1987.
Os 15 outros clubes do Grupo dos 13 deixou esses anos todos o Flamengo brigando sozinho para ser considerado o campeão brasileiro de 1987.
A força da CBF na bancada da bola em Brasília pesou. E o Sport passou a ser considerado o campeão oficialmente.
Só que essa decisão afetou a famigerada taça das Bolinhas.
Enquanto ninguém vencia o Brasileiro por três vezes seguidas ou cinco alternadas, o troféu ficava passando de campeão para campeão.
Até que em 2007, finalmente, o São Paulo chegou ao pentacampeonato nacional. E teria direito ao troféu, de maneira definitiva.
Só que o Flamengo recorreu alegando que havia conquistado o Brasileiro de 1987 e que teria chegado ao penta antes. Com as conquistas de 1980, 1982, 1983 e 1992.
E desde então, a guerra nos bastidores foi fortíssima.
O ex-presidente Ricardo Teixeira teria influenciado ao máximo para que seu clube de coração, o Flamengo, ficasse com a taça.
Mas os advogados do São Paulo foram competentes travando Teixeira nos tribunais.
A taça passou alguns meses no Morumbi, em 2011, na guerra de liminares.
Mas logo voltou à Caixa Econômica Federal.
A questão foi parar no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. O Sport foi declarado o campeão de 1987, pelo Flamengo não ter disputado o quadrangular imposto pela CBF. O clube carioca entrou com recurso e ele foi derrotado no STJ, em março de 2018.
O troféu deveria ter sido entregue imediatamente ao São Paulo.
Só que houve enorme pressão de políticos cariocas para que isso não acontecesse.
E o horrível troféu seguiu na sede da Caixa Econômica Federal.
Mas o São Paulo pressionou politicamente, exigiu seus direitos.

Até que a juíza Cristina de Araújo Goes Lajchter, da 50ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), determinou que o troféu, em posse da Caixa Econômica Federal desde 2017, seja devolvida pelo banco para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para que a entidade tome "as medidas cabíveis acerca do destino da mencionada taça".
O presidente da CBF é muito mais do que um fanático torcedor do São Paulo. Rogério Caboclo é conselheiro vitalício do clube. Foi diretor adjunto de marketing do Tricolor por um ano, de abril de 1991 a abril de 1992. No início dos anos 2000 também atuou como diretor financeiro.
Seu pai, Carlos Caboclo, foi dirigente e também é conselheiro vitalício do São Paulo.
No Morumbi, com a decisão da juíza Cristina, há um clima de festa antecipada.
Finalmente, o inseguro Leco terá um troféu para levantar, posar para fotos.
A taça de bolinhas tem tudo para ser do São Paulo por conta de 1977, 1986, 1991, 2006 e 2007. Oito anos antes de se tornar presidente.
Lógico que a diretoria do Flamengo ainda promete estudar outros caminhos para evitar essa entrega definitiva.
Só que essa possibilidade não é levada em conta pela diretoria do inseguro Leco.

A expectativa é que a CBF de Rogério Caboclo entregue a taça ao clube que, por coincidência, tem também o coração do dirigente.
E, de acordo com conselheiros importantes, a entrega deverá acontecer muito em breve.
A festa promete ser grande.
Para compensar o jejum de sete anos sem títulos.
Em campo...