‘Estou pronto para os grandes clubes. Mais do que preparado. O Santos? Não seria rebaixado se tivessem me deixado trabalhar. Comigo não cairia.’ Paulo Turra
Aos 51 anos, o ex-jogador do Palmeiras e Botafogo revela como é difícil e fechado o mundo dos treinadores no Brasil. E como a Uefa mantém os clubes europeu longe dos técnicos brasileiros

Estudo, preparo psicológico, vivência não só como jogador, mas capitão, líder por onde passou, nos times brasileiros e portugueses. Como se tudo isso não bastasse, seis anos como auxiliar do rígido Luiz Felipe Scolari.
Aos 51 anos, Paulo Turra transpira conhecimento tático. A ponto de escrever um livro, didático, abordando o que se despreza no ‘país do futebol’: a importância da estratégia.
E com o simbólico nome ‘O futebol que não se vê’.
Ou seja, ensinando a movimentação dos times, a ocupação do espaço, os pontos básicos que fazem uma equipe ter intensidade para derrotar a outra. Nada é por acaso no futebol moderno.
“Eu represento a nova geração de treinadores, que entende a movimentação, a necessidade de sincronia de um time. Aliada às forças física e psicológica. Tenho a vantagem de ir além da teoria, porque fui jogador. E aprendi muito também com um treinador mais do que especial, o Luiz Felipe, pentacampeão do mundo.“
Turra é muito corajoso. Sabe que, no futebol, conhecimento é desprezado. Nem só por torcedores. Até por dirigentes, que não percebem a força do trabalho com base tática.
O ex-jogador foi campeão pelo Caxias, no histórico time de Tite, de 2000; Jogou em Botafogo e Palmeiras.
Descobriu o futebol europeu defendendo o Boavista e o Vitória de Guimarães. Aprendeu, na prática, a importância da liderança, a diferença de uma equipe montada estrategicamente para vencer.
Comandou, se aprimorou em nove equipes menores. Aplicou o que aprendeu conquistando. Ao voltar para o Cianorte, o levou para a Primeira Divisão Paranaense. Usava métodos tão modernos que Felipão o levou para trabalhar como auxiliar na China, no Ghangzhou Evergrande.
Depois de seis anos, a parceria acabou porque Luiz Felipe quis voltar a ser técnico no Atlético Mineiro. Deixou o comando do Athetico Paranaense como herança. Turra foi campeão do Paraná invicto, em 2023. Decidiu assumir o Santos, mais que encaminhado para a Segunda Divisão.
’Nenhum ser humano diria ‘não’ ao Santos. Comigo o Santos não seria rebaixado. Mas não deixaram trabalhar. A direção estava assustada com tanta pressão. Quando assumi, estava uma bagunça. Mas repito: comigo o Santos não cairia.’
A queda do Santos não manchou seu trabalho. Tanto que o Vitória de Guimarães o contratou como técnico. Mas a licença que tirou como treinador na CBF não vale para Portugal. E o sindicato de técnicos portugueses pressionou para que deixasse o clube.
“É por isso que não existem treinadores brasileiros na Europa. A nossa licença não vale. O curso que possibilitaria o trabalho é reservado pela Uefa, para os nascidos na Europa. Eu tenho nacionalidade italiana. E não fui aceito. Aqui, no nosso país, a CBF não exige licenças específicas para os treinadores estrangeiros. Não coloca dificuldades, ao contrário que nós sofremos no exterior.’
De volta ao Brasil, Paulo Turra entendeu o óbvio. Para comandar grandes clubes é necessário ter um empresário influente. Só assim jovens técnicos têm acesso, chance de mostrar seu trabalho.”
Estou com o André Cury. Tenho certeza que, com ele, assumirei uma equipe importante, competitiva. Estou mais do que preparado. O que eu quis mostrar com essa entrevista foi como os caminhos são complicados para os técnicos da nova geração. Mas nós estamos chegando com base, estudo, exigência física, estratégia, estudo inclusive psicológico. Acabou o improviso."