São Paulo, Brasil
Diante da enorme antipatia à seleção brasileira, mesmo faltando apenas cinco meses para a Copa do Catar, a CBF apela para a mesma estratégia de 2018.
Fazer com que Tite dê entrevistas a vários órgãos de imprensa, para depois se calar no Mundial. Ou melhor, só falar quando é obrigado pela Fifa. Antes e depois dos jogos.
As entrevistas do treinador da seleção não estão repercutindo como quatro anos atrás. Porque seu trabalho deixou de ser admirado. Ficou muito desgastado.
A começar pelo fracasso na Copa da Rússia. A decepção por sua omissão diante dos chiliques e das ridículas simulações de Neymar. O egoísmo do camisa 10 só atrapalhou a seleção, que foi eliminada pela esforçada Bélgica, ainda nas quartas-de-final.
A imagem de líder, comandante justo, também sofreu outro abalo. Com a decisão de colocar o próprio filho, sem experiência alguma, como seu auxiliar. E com liberdade para orientar os jogadores brasileiros, mostrar o que precisam fazer em campo. Situação bizarra, que muitos fingem não enxergar.
Com a incompetência da CBF em conseguir amistosos contra poderosos europeus, a seleção de Tite tentou enganar a mídia com vitória sobre os combalidos países sul-americanos, com péssimas gerações. A campanha nas modorrentas Eliminatórias é lembrada a todo instante pela CBF. Mas o vexame de perder a Copa América, em pleno Maracanã, para a Argentina, no ano passado, é omitido.
Tite, que era indicado por alguns como o candidato ideal para a Presidência do Brasil em 2018 e dominava as propagandas antes do Mundial, se tornou opaco. Deixou de ser o líder, o coach, que empresas sonhavam em ter como palestrante.
Talvez aconselhado pela assessoria de imprensa da CBF, ou por sua própria (sim, Tite tem duas assessorias o auxiliando), o treinador da seleção tem reservado uma notícia interessante a quem decide entrevistá-lo nesse período.
A mais forte notícia é que já tem definida sua estratégia pessoal se o Brasil perder a Copa do Mundo do Catar. Seria o segundo fracasso seguido para o único treinador na história com o privilégio de, após perder um Mundial com a seleção, seguir direto para outro.
Tite sabe que seria escorraçado no país. A cobrança por uma segunda Copa perdida com seu time, com o superprotegido Neymar, seria imensa. Mesmo se trabalhasse no Corinthians, clube que se apresenta como "sua casa" em 2023, ele seria cobrado em todos os jogos. Marcado. Como Felipão perdeu a aura depois dos 7 a 1 para a Alemanha.
Esperto, o técnico já avisou na TV Gazeta.
"O que posso dizer, sim, é que no ano que vem não vou trabalhar em nenhuma equipe brasileira. Isso eu tenho o compromisso e palavra dada à minha esposa, à minha família."
O que treinador deixou claro é que estará aberto para seu velho sonho. Trabalhar em uma equipe europeia.
Para se valorizar, Tite disse que foi procurado pelo Real Madrid, PSG e Sporting.
Impressionante, não?
Só que todas essa sondagens importantes foram feitas antes da Copa de 2018. Antes! Quando se esperava um desempenho marcante do time de Tite.
"Na Copa do Mundo [pouco antes do torneio de 2018], eles [Real Madrid] disseram que queriam conversar e eu disse 'não, não vou falar, não chegue perto'. Quero estar em paz comigo e com o meu trabalho. Estou dando o meu melhor. Quando você faz algo em paralelo, isso não está sendo feito ao máximo. Eu não posso fazer isso. Recebi ofertas do Real Madrid, PSG e Sporting. Mas eu não queria isso. Eu quero ganhar a Copa do Mundo. Depois da Copa do Mundo, vou decidir meu futuro", revelação que guardou para um grande veículo europeu, o jornal inglês The Guardian.
"Se você ganhar a Copa do Mundo, terá um mercado aberto. Você pode escolher. Não vou mentir: minha ideia definitivamente não é trabalhar no Brasil. Quero passar um ano com minha família, tirar um ano sabático, estudar, não ter responsabilidade, porque a responsabilidade é muito grande. Se algo vem de fora, vai acontecer."
Nasceu na CBF um boato que se tornou ridículo. O de que o Arsenal esperaria por Tite após o Mundial do Catar. Durou menos de um mês, porque o clube inglês renovou com o espanhol Mikel Arteta até 2025.
Atualmente, o nome do brasileiro não é discutido em nenhuma equipe europeia. Nenhuma.
Tite só é comentado no seu clube do coração, o Corinthians. Esteve no domingo em Itaquera para acompanhar o jogo contra o Goiás. E se disse emocionado.
O treinador está muito mudado.
Os seis anos na seleção fizeram mal à sua carreira.
Perdeu a convicção, a segurança, a clareza nas respostas.
Parece um político nas coletivas, fala sem se comprometer.
Seu time segue imitando o que é feito na Europa há anos.
Segue preso emocionalmente ao grupo que fracassou na Rússia.
Finge não enxergar os privilégios e exageros de Neymar.
Muito inteligente, sabe que as chances de vencer a Copa são mínimas.
E também da falta de memória do futebol brasileiro.
Se o Brasil fracassar novamente, o que tem muito risco de acontecer, nada como um ano sabático, sem trabalhar.
Ele já está milionário por sua carreira vitoriosa nos clubes. E pelo salário excepcional que recebe na seleção brasileira.
Pode ficar 2023 apenas aproveitando a família e viajando para a Europa para absorver novas estratégias, táticas.
E depois reassumir o Corinthians, sua casa. Ou Flamengo, ou Atlético Mineiro, ou até o Palmeiras. Que clube no Brasil não quer um treinador que comandou a seleção em duas Copas?
Na Europa, não.
Basta lembrar de um excepcional treinador chamado Telê Santana...
Ronaldo Fenômeno relembra 20 anos do penta em museu da CBF