Dudu se queimou no Palmeiras e no Cruzeiro. Se acertou com o clube mineiro. Pediu para sair. Pressionado, recuou. Agiu como um juvenil
O atacante de 32 anos deu enorme prova de imaturidade. Deixou seu empresário acertar ida para o Cruzeiro. Ao notificar a direção palmeirense, não esperava a concordância imediata. A cúpula da maior organizada foi até sua casa e ele recuou. Mas se queimou com os dois clubes. As diretoria, as Comissões Técnicas e as torcidas estão decepcionadas com as atitudes do jogador
Abel Ferreira preza demais a lealdade dos seus jogadores.
De uma maneira sutil, ele também repete ao time que eles precisam se tratar como familiares.
Quando vai tirar um titular da equipe, ele conversa, explica, mostra a falta de rendimento.
E ele espera a recíproca.
Quando alguém do elenco tiver qualquer problema ou viver uma situação inesperada, ele deixa as ‘portas abertas’, como gosta de repetir.
Assim que um atleta recebe proposta de outro clube, Abel gosta de ser o primeiro a ser avisado.
Já chegou a aconselhar jogadores a sair, a buscar um caminho melhor para sua vida, não é de meias palavras, busca sempre direto.
“Sou como gostaria que fossem comigo. Eu fui atleta, sei como as coisas são”, repete o português.
E Dudu fez tudo ao contrário que o treinador espera de um atleta sob seu comando.
Ele autorizou o seu empresário, André Cury, a negociar com o executivo do Cruzeiro, Alexandre Mattos.
Dudu está há dez meses sem jogar.
Por conta de lesão gravíssima: rompimento dos ligamentos anteriores e lesão do menisco do joelho direito.
Mas mesmo antes de se contundir, em agosto de 2023, contra o Vasco, ele já não se sentia titular absoluto, e importante, para Abel.
Orientado por Cury, Dudu percebeu que o treinador promove uma profunda reformulação no clube.
Para renovar seu contrato, já foi difícil garantir a permanência até 2026.
Ela só acontecerá se disputar pelo menos 50% dos jogos como titular em 2025.
Liberado pelo atleta, Cury procurou Alexandre Mattos.
Ex-executivo do Palmeiras, ele entrou em contato com o seu sucessor, Anderson Barros, que levou a situação para Leila Pereira. Ela avisou Abel Ferreira. E teve a concordância em vender Dudu. Depois de uma negociação rápida, os clubes acertaram o valor: 4 milhões de dólares, cerca de R$ 21 milhões.
Cury conseguiu um contrato de quatro anos para Dudu. Com a possibilidade de um quinto, desde que, em 2028, ele disputasse 50% dos jogos como titular.
Seu salário de R$ 2,1 milhões passaria para R$ 2,3 milhões.
Seria ‘o cara’ na Toca da Raposa.
O ídolo que ‘encararia’ Hulk, jogador mais midiático, do rival Atlético.
Pelo momento de reconstrução do futebol do Cruzeiro, agora pertencendo ao empresário Pedro Lourenço, Mattos quis garantir que Dudu, seu amigo pessoal, não voltasse atrás.
Quis promover a ‘grande e inesperada notícia’ da contratação da nova estrela cruzeirense.
Mesmo sem Dudu ter assinado o contrato.
Mattos, experiente, acreditou na palavra de Cury, que estava ‘tudo certo’.
E no sábado, Mattos fez o Cruzeiro divulgar nota oficial que a negociação estava consolidada.
O ex-presidente da Mancha Verde, principal organizada do Palmeiras, Paulo Serdan é íntimo de Dudu.
Enfrentaram dificuldades e comemoraram conquistas juntos.
Serdan é inimigo de Mattos e de Leila Pereira.
E acredita que Dudu segue sendo um dos melhores jogadores do país e ídolo maior do Palmeiras, ainda mais com a saída de Endrick para o Real Madrid.
Serdan pediu uma conversa com Dudu, que aceitou.
Ela aconteceu no sábado à noite, na casa do jogador. Acompanhado por Alexandre Guerra, também ex-presidente, e muito influente na Mancha Verde, os dois cobraram Dudu pela saída abrupta, pela ‘porta dos fundos’.
“De ídolo da reconstrução você vai passar a ser marcado na nossa história como mercenário”, disse Serdan a Dudu.
O jogador estava muito indeciso. Esperava ser mais valorizado pela direção palmeirense. Acreditava que o clube paulista faria uma contraproposta ou, no mínimo, um apelo, para que ficasse.
Nem uma coisa e nem outra.
Na casa de Dudu estava também o empresário André Cury, favorável à venda. Houve uma conversa dura entre ele e os membros da organizada.
Para deixar mais complicada a situação, havia Esther, terceira filha do jogador. Recém-nascida, com menos de um mês.
Diante do clima de impasse, o atacante se resolveu.
Disse que ‘não iria mais’.
No domingo, procurou Abel Ferreira e o executivo Anderson Barros.
Disse da sua decisão.
A recepção não foi o que esperava.
Ambos já contavam com a venda do atleta.
Tanto que ele já havia sido retirado da relação dos que enfrentarão o Atlético, hoje à noite.
Nos bastidores do clube, Leila Pereira também não ficou satisfeita.
Mulher decidida, não perdoou a falta de firmeza de Dudu.
A negociação, de um veterano de 32 anos, embora ídolo, por R$ 21 milhões, era vista como ótimo negócio.
Fora se livrar do salário de R$ 2,1 milhões.
Porque sabe que Mattos tinha a autorização de André Cury para fechar a transação.
Os jogadores palmeirenses fizeram questão de não se manifestarem.
Mas não gostaram de saber da situação pela imprensa.
Dudu tem contrato até o final de 2025, se limitou a esclarecer, publicamente, o Palmeiras.
Do outro lado, no Cruzeiro, Mattos explicou a situação para Pedro Lourenço.
Ambos ficaram decepcionados.
O executivo, que havia convencido o bilionário a comprar o atacante, pediu ‘um pouco de paciência’.
Porque sabe: o ambiente ficou ruim para Dudu junto a Abel Ferreira.
Mas a torcida cruzeirense, que se animou no sábado, mostrou sua revolta com o recuo do atacante.
Dudu se comportou mesmo como um juvenil.
Indeciso, buscando valorização, pedido da cúpula e da direção palmeirense para que ficasse.
A extensão de contrato.
Nada disso veio.
A ligação profunda que tem com a Mancha Verde, que o apoiou em momentos difíceis, pesou.
Seu erro foi não ter levado nada disso em consideração.
Na prática, Dudu está ‘queimado’ com os dois clubes.
Cury ainda insiste na saída.
Palmeiras não faz questão da permanência.
Não oferecerá um palito de fósforo a mais para que permaneça.
Abel tem a atenção voltada para a reformulação do elenco que, depois de Felipe Anderson, deverá ter outro meia-atacante, Maurício, do Internacional.
E observar Luighi, de 18 anos, artilheiro formado na base, e Antônio Marcos, também artilheiro, de 16 anos, que foi contratado do Retrô, de Pernambuco.
Dudu já não o empolgava mais antes da contusão.
Agora, depois dessa atitude, em relação ao Cruzeiro, muito menos.
O jogador está em uma situação desconfortável.
Que ele mesmo fez questão de criar...
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