Doeu mais pelos gols do ‘filho de Xerém’. O valente Fluminense tem de ser aplaudido. Renato, valorizado. ‘Não posso pedir desculpas. O Chelsea me paga para marcar’ João Pedro
O Chelsea se impôs na semifinal do Mundial. Venceu por 2 a 0, dois gols de João Pedro, que nasceu para o futebol na base do Fluminense. O melhor time brasileiro no torneio lutou, mas a briga era injusta. Caiu diante de um gigante
Cosme Rímoli|Do R7

“Feliz de marcar meus primeiros gols, mas sei também que esse torneio é muito importante para eles.
“Não posso pedir desculpas, mas tenho de ser profissional.
“Eu jogo pelo Chelsea, eles me pagam para marcar gols.”
As respostas de João Pedro foram sinceras.
Mas todo o planeta percebeu sua dignidade.
Ele não comemorou seus dois gols que levaram o Chelsea à final do Mundial de Clubes, por 2 a 0. Mas custaram a justa eliminação ao Fluminense, o melhor dos brasileiros no torneio de R$ 1 bilhão.
Também há motivo.
O Fluminense é o responsável pela reviravolta no destino de João Pedro, menino pobre, que estava com o pai preso, ex-jogador, condenado por cumplicidade em um homicídio.
Além a ajuda de custo normal, o clube carioca deu cestas básicas e todo o tipo de auxílio para ele e sua mãe viverem no Rio de Janeiro.
“Sou eternamente grato ao Fluminense”, já disse o atacante de 23 anos, 1m83 e que foi comprado pelo Chelsea por R$ 411 milhões, junto ao Brighton.
João Pedro foi só o carrasco.
O Chelsea dominou o Fluminense em toda semifinal, no MetLife Stadium, em Nova Jersey, Estados Unidos, disputada em pleno verão norte-americano, sob torturantes 40 graus.
Renato Gaúcho fez o que pôde.
Montou o Fluminense com três zagueiros, três volantes.
Buscou repetir o plano tático que derrubou a Inter de Milão e o Al-Hilal. 3-6-1.
Mas além de ter pela frente uma equipe mais forte, melhor distribuída taticamente, o técnico perdeu peças fundamentais.
Não teve Freytes e Martinelli, suspensos.
E Samuel Xavier contundido.
Se Hércules até exerceu bom papel na intermediária, Guga foi burocrático, mas Thiago Santos, homem de confiança de Renato Gaúcho, transpirava insegurança. E afetou o desempenho de Ignácio e, principalmente, Thiago Silva, o zagueiro da sobra.
Enquanto Renato tinha desfalques, por ironia do destino, o Chelsea estava reforçado. Justo por João Pedro. Bastaram os minutos que atuou contra o Palmeiras para Enzo Maresca perceber o talento que ganhou para o ataque. Ele é recém-chegado ao clube.
O provocador Delap estava suspenso.
E para piorar de vez, havia a volta de Caicedo, um dos melhores volantes do mundo. Excepcional distribuidor de bola no meio-campo.
Nos primeiros minutos, Renato blefou.
Fez o Fluminense até marcar com coragem o Chelsea, na intermediária inglesa. Mas logo teve de recuar, diante do talento de Caicedo, Palmer, Enzo Fernández, Cucurella, Malo Gusto, João Pedro, Nkunku.
Atuando em bloco no ataque, quando tinha a posse de bola, o Chelsea tinha alternativas perigosas demais.
Logo o Fluminense teve de recuar.

E, aos 17 minutos, em uma falha de Thiago Silva, que afastou a bola fraco demais, o castigo. Porque ela caiu nos pés de João Pedro. O chute da entrada da área foi fatal, no alto, junto ao ângulo, indefensável para Fábio.
1 a 0, Chelsea.
O sonho começava a desmoronar.
A resposta quase veio quando Hércules tabelou com Cano e tocou a bola fraco, embaixo das pernas do inseguro goleiro Sanchéz. Cucurella salvou. Era 25 minutos de jogo.
Mas a resposta ficou por aí. Porque a equipe inglesa seguiu dominando o jogo.
O lado muito bom foi a forte personalidade do time carioca, que não repetiu o Palmeira. Não se intimidou com os jogadores do time inglês. Entrada forte era devolvida com entrada ainda mais forte.
O Chelsea tinha posse de bola e foi envolvendo, cansando o Fluminense.
Quase o acaso empata a partida.
Renê cobrou falta e a bola bateu no braço de Chalobah. Pênalti marcado. Depois da checagem do VAR, o árbitro François Letexier voltou atrás. Com correção, porque o braço do zagueiro estava baixo, colado ao corpo.
No primeiro tempo, o time britânico teve sete arremates. O brasileiro, dois.
Na segunda etapa, Renato Gaúcho teve coragem de fazer o que deveria. Tirou Cano, sem inspiração alguma, colocou Everaldo. E acabou com o esquema de três zagueiros. Tirou Thiago Santos e apostou na velocidade de Keno.
As trocas foram aos oito minutos.
Dois minutos depois, sem dar tempo de darem resultados, João Pedro mostrou o quanto aprendeu em Xerém.
Enzo Fernández, em contragolpe, serviu o atacante. Ele dominou, enfrentou Ignácio e bateu violentamente na bola, que explodiu no travessão e entrou. 2 a 0, Chelsea.
A partida estava decidida.

O Fluminense estava esgotado e a equipe de R$ 6 bilhões só trocava passes, consciente, deixando o tempo passar. E se poupando para final do Mundial. O elenco do Chelsea vale 12 vezes o da equipe carioca.
O jogo estava acabado.
O sonho do Fluminense, morreu.
Mas o clube precisa ser aplaudido, pela campanha inesperada.
Com o menor orçamento fez a melhor participação entre os brasileiros. Melhor que os badalados e ricos Flamengo, Palmeiras e Botafogo.
Leva para o Rio dignidade.
E R$ 331 milhões por sua participção.
Renato deu o tom do adeus
“A gente sai de cabeça erguida por tudo que fizemos nesse Mundial. Sabíamos que seria um jogo difícil contra uma equipe muito qualificada. Tentamos, sofremos o primeiro gol. Eles fizeram o segundo depois e isso deu uma tranquilidade para eles
“O jogo estava bastante controlado. Sabíamos que íamos receber uma pressão muito grande do Chelsea, aconteceu isso no início do jogo. Estávamos sabendo sofrer, mas infelizmente para nós o João Pedro acertou aquele chute de fora da área, fez aquele belo gol.
“Quando você sai na frente é uma vantagem muito grande, principalmente se tratando do calor, você tem que ficar correndo atrás do adversário.
“Procurei mudar no início do segundo tempo, infelizmente em um contra-ataque não matamos a jogada e sofremos o segundo gol. Isso deu uma tranquilidade para maior para eles”, repetiu.
E inteligente que é, Renato aproveitou os holofotes.
Eu acho que a credibilidade voltou bastante forte para o futebol brasileiro. Pelas grandes equipes, tanto o Flamengo, o Botafogo e o Palmeiras. Agora, o Fluminense chegando à semifinal. Em termos de Europa, não só o mundo, mas que o Brasil possa olhar com outros olhos o treinador brasileiro. Valorizar os técnicos brasileiros também..."
Ele tem razão.
Seu trabalho, com as peças que tinha, seu trabalho foi excelente...
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