Direção do Atlético não cederá à pressão contra Cuca. Alegação: condenação por estupro foi anulada
Mal o treinador foi anunciado como comandante do futebol em 2025, já houve reações contrárias, nas redes sociais. Bilionário dono da SAF do Atlético, avisou: não voltará atrás
Cosme Rímoli|Do R7
“Técnico mais vitorioso da história do Clube, Cuca está de volta ao Galo!” 🐓
Esta será a quarta passagem do treinador pelo Atlético, onde comandou o time em grandes conquistas como o Triplete de 2021 (Brasileirão, Copa do Brasil e Mineiro) e a Libertadores de 2013, além dos Estaduais de 2012 e 2013, totalizando seis títulos.
“Bem-vindo de volta, Professor.”
Foi desta maneira eufórica que o novo departamento de comunicação anunciou ontem a contratação, pelo Atlético Mineiro, de Cuca.
A intenção foi ressaltar as conquistas, até para amenizar as enormes desilusões de 2024, com o clube perdendo as finais da Copa do Brasil e da Libertadores.
E pagou caro por desprezar o Brasileiro.
Ficou fora inclusive da Libertadores de 2025.
Cuca foi a opção B.
A mando do bilionário Rubens Menin, dono da SAF que controla o clube, houve grande insistência para a contratação do português Luiz Castro. Ele não aceitou, alegando vínculo com o Al-Nassr.
Mas a verdade é que o clube não disputar a Libertadores não o motivou a trabalhar em Belo Horizonte.
A aposta foi em Cuca pela facilidade, desempregado, e também por sua história na Cidade do Galo. Já teve três passagens.
A primeira, espetacular, entre 2011 e 2013, com direito à conquista da inédita Libertadores.
A segunda, empolgante, em 2021.
Venceu o Estadual, o Brasileiro e a Copa do Brasil.
A terceira, um fracasso, em 2022.
De julho a novembro, sem conquista alguma.
O treinador, que já chegou a ser cotado para a Seleção Brasileira, teve um grande abalo na carreira. Com a rejeição pública crescente ao seu trabalho pela condenação de estupro de uma menina de 14 anos, na Suíça, em 1987.
O caso é mais que conhecido.
O Grêmio fazia uma excursão pela Europa. Quando na cidade suíça de Berna, Cuca, Henrique Etges e Eduardo Hamester e Fernando Castoldi foram acusados de terem abusado sexualmente de Sandra Päffli, na época, uma adolescente.
Eles ficaram presos por um mês e saíram pagando fiança.
Cuca sempre negou sua participação.
O julgamento aconteceu só em 1989.
Mas o advogado da defesa do quarteto desistiu de participar.
Jornalistas gaúchos da época comentaram que o Grêmio não pagou Peter Stauffer e ele não quis trabalhar ‘de graça’ para os brasileiros.
Os jogadores foram condenados a 15 meses de prisão.
Mas jamais cumpriram um dia.
Porque não foram à Suíça e a condenação prescreveu.
Pressionado ‘violentamente’ pela mídia e pela torcida, quando aceitou a trabalhar no Corinthians, Cuca entendeu que deveria tomar providências, se quisesse seguir com sua carreira.
Ele trabalhou no clube paulista por apenas dois jogos.
E abandonou o cargo.
Contratou a advogada Bia Saguas e o escritório de Pedro da Silva Neves.
Eles conseguiram a anulação do julgamento.
Porque Cuca não tinha quem o defendesse.
E não haverá outro julgamento porque Sandra morreu em 2002.
Cuca voltou a trabalhar este ano.
No Athletico Paranaense.
Membros radicais das organizadas do clube avisaram.
Não iriam permitir manifestações, protestos, contra Cuca nos estádios.
E foi o que aconteceu.
Nos jogos, a vigilância nas arquibancadas era total.
Cuca resolveu falar abertamente sobre o caso.
“Devia ter feito isso antes. As coisas estavam paradas, na cabeça da gente é uma coisa que já tinha acabado, mas eu, como homem, devia ter feito isso antes, ido atrás e resolvido. Fomos ao problema, na Suíça, contratamos lá duas equipes profissionais de advogados civis e criminais para que a gente pudesse buscar um novo julgamento, com mais duas equipes aqui no Brasil. Pela Justiça de lá foi concedido, foi aceito o pedido nosso, dentro da possibilidade foi dada essa condição, mas já havia prescrito o episódio.
“Como já tinha prescrição, o próprio Ministério [Público] de lá já não tem como te dar uma condição de um novo julgamento, que segundo os meus advogados, nossa chance de absolvição era próxima ao 100%. Ninguém tem 100%, mas era próxima, nos dava uma confiança grande. Infelizmente, pela prescrição, não houve. O que de melhor houve foi a anulação, descondenação e indenização.”
Mas de nada adiantou, as críticas pelas redes sociais seguiram.
E o trabalho de Cuca foi pífio.
Venceu o fraquíssimo Estadual.
E depois se demitiu depois de 23 partidas, depois de ser muito vaiado pela própria torcida atheticana, diante do péssimo futebol do time, em junho.
O homem que domina o Athletico Paranaense foi direto, nas redes sociais, ao analisar a saída de Cuca. Mario Celso Petraglia.
“Nestes anos todos de futebol já vivi muitas decepções, existem decepções e decepções, esta do Cuca foi a maior delas!”
“Botamos a cara a tapa para amenizar seu desgaste havido com a torcida do Corinthians, que lavou a roupa suja do seu passado não resolvido!”
“Prometo que não seremos doravante mais usados e abusados pelo mau-caráter de pessoas que pela nossa resiliência aceitamos ajudá-las!”
Cuca está sem trabalhar há seis meses.
O Santos o procurou para assumir o clube em 2025.
Ele disse ‘não’.
Só que aceitou o convite do Atlético Mineiro.
Como não era difícil de prever, já há forte manifestação contra Cuca nas redes sociais.
Por conta da acusação de agressão sexual em 1987.
Mesmo com a sua condenação tendo sido anulada.
O dono da SAF do Atlético, o bilionário Rubens Menin, já esperava por isso.
E avisou a companheiros de direção do clube: não cederá.
A ordem é para blindar, proteger Cuca.
Dar tranquilidade para trabalhar.
Não ceder diante de críticas e protestos.
Repetir que a condenação por estupro foi anulada.
Na verdade, o julgamento é que foi anulado.
Mas, na prática, não há acusação criminal nenhuma contra o técnico.
A ‘decisão está tomada’ e Menin não voltará atrás.
Cuca assinou contrato até o final de 2026.
Por dois anos.
Mas os protestos nas redes sociais continuam…
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Aos 61 anos, o técnico com mais títulos da história do clube terá sua quarta passagem no Galo.
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