Mendoza, limitado tecnicamente, se aproveitou de sua velocidade contra um time cansado
FELIPE SANTOS/SITE OFICIAL DO CEARÁSão Paulo, Brasil
"Pagamos caro pela falta de energia mental e física que costumamos ter.
"Assumo a responsabilidade inteira.
"Hoje não conseguimos."
Havia muito mais por trás do desabafo de Abel Ferreira após a surpreendente derrota do Palmeiras para o Ceará por 3 a 2, ontem, no Allianz Parque, com 27.100 torcedores. A estreia do time no Brasileiro não poderia ter sido mais decepcionante.
Mesmo com o time mais forte que possui. O mesmo que goleou impiedosamente o São Paulo por 4 a 0 na final do Paulista. Só que a equipe não teve energia para enfrentar o limitado time cearense. Se mostrou nervosa, irritadiça, tensa. Mereceu perder.
O resultado acabou com a série invicta no estádio, em 2022, de dez partidas. Faltaram fôlego, vibração, intensidade, velocidade. O aspecto físico sabotou o bicampeão da Libertadores.
O treinador português sabe. É impossível manter o bom futebol com tantos jogos seguidos e importantes, com apenas 24 atletas. Ele pede reforços há tempos à direção. Principalmente de um artilheiro vivido, definidor.
24 atletas é um número pequeno demais para a maratona que o Palmeiras tem pela frente até o fim da temporada, em dezembro. Com Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil se acumulando. Até de forma pior do que já seria "normal", por conta da Copa do Mundo do Catar, em novembro e dezembro.
Dorival Júnior, ex-jogador e treinador do Palmeiras, se aproveitou do desgaste excessivo do clube, que conhece bem. Montou o Ceará para a frente com jogadores velozes no contragolpe, principalmente o colombiano Mendoza, que passou pelo Corinthians e tem como apelido Speed, veloz. Ele fez o que quis com Marcos Rocha.
Em 13 minutos, o time nordestino estava vencendo por 2 a 0.
"Acho que hoje, em função de como ocorreu no início, ficamos sem energia mental e física. Entramos... Nosso adversário aproveitou muito bem com mais um dia de descanso, foram felizes, na primeira oportunidade fizeram o 1 a 0, depois o 2 a 0, por uma equipe como a nossa, que costuma ser megaconcentrada e competitiva", admitia, tenso, Abel Ferreira.
Os jogadores do Palmeiras foram encurralados pelos do Ceará. A diferença física desequilibrou
PalmeirasO treinador venceu duas vezes a Libertadores, ganhou a Copa do Brasil, a Recopa Sul-Americana e o Campeonato Paulista. O Brasileiro, não. Devido à dificuldade da longa competição: 38 rodadas, viajando todo o país/continente.
Abel queria neste ano a óbvia estratégia que Muricy Ramalho e Vanderlei Luxemburgo consagraram. "Acumular gordura", ou seja, vencer o máximo de jogos no início do Brasileiro e disparar na liderança para depois, com tranquilidade, ir administrando os confrontos que inevitavelmente se acumulariam com os outros torneios.
Para isso, é necessário elenco.
Confrontado com o calendário massacrante e a necessidade de mais jogadores, ele disfarçou e disse que tinha "dois jogadores por posição" e que já tinha falado muito sobre o desgastante calendário brasileiro.
"O clube tem seu limite financeiro. Outros podem não ter. Mas nós temos", disse o treinador, deixando perceber que, se houvesse mais dinheiro à disposição, ele teria reforços.
Quanto ao calendário, Abel Ferreira falou o óbvio. Sabe como tudo funciona no Brasil.
Palmeiras sempre no desespero, em desvantagem. Com 13 minutos de jogo, já perdia por 2 a 0
Palmeiras"Não tem jeito. Temos que jogar. Terça-feira estaremos aqui de novo [no Allianz, pela Libertadores], e assim vamos. O ano acaba em novembro, e um campeão vai ter. Mas temos que encarar isso."
Se não vierem mais jogadores, o Palmeiras seguirá sujeito a derrotas surpreendentes como a de ontem. E o melhor para o treinador será guardar forças para competições mata-mata como Libertadores e Copa do Brasil.
De modo prático, deixar o longo Brasileiro em segundo plano...
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