Derrota do futebol. Por R$ 33 mil, Calleri não será nem julgado por ter quebrado o celular de um menino
O São Paulo fez acordo com a procuradoria do Tribunal de Justiça Desportiva. Para que o argentino não corresse o risco de ser suspenso, por ter quebrado o celular de um garoto, o clube pagará R$ 33 mil. Péssimo exemplo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Os dirigentes dos principais clubes brasileiros se articulam para exigir da CBF leis mais duras contra os vândalos infiltrados nas organizadas.
Os atos de violência são inúmeros.
Os jogadores, líderes de suas equipes, também se articulam, planejam manifestações conjuntas ou até greves se os ataques reais ou virtuais de 'torcedores' continuarem.
Os árbitros também querem que o Código Brasileiro de Justiça Desportiva seja mais rígido com os jogadores que agredirem juízes ou bandeirinhas.
Tudo perfeito.
Só que os clubes e os tribunais de justiça de futebol neste país precisam dar o exemplo.
E o que acaba de acontecer em São Paulo é absolutamente contraditório.
Após a derrota do seu time, na final do Campeonato Paulista, Calleri notou que alguém estava filmando, com celular, a saída do elenco são paulino do Allianz Parque.
Segundo o argentino, só viu o celular apontado. Não sabia se era segurado por um homem, mulher, idoso.
Era um menino, jogador da base do Palmeiras, quem empunhava o aparelho.
Revoltado, ele fez questão de dar um violento tapa no aparelho que foi ao chão, com sua tela espatifada.
A cena lastimável foi filmada e divulgada nas redes sociais e tevês.
A procuradoria do Tribunal de Justiça Desportiva decidiu o óbvio. Enquadrou o atacante no artigo no artigo 258 do CBJD, por “conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva". Ele corria o risco de pegar seis partidas de punição.
As condenações e punições não são apenas castigos.
São exemplos que ficam para a sociedade.
Só que o São Paulo decidiu fazer uma oferta à procuradoria do TJD. Pagar uma multa para que o jogador não fosse julgado.
Houve o acordo e o clube gastará R$ 33 mil.
R$ 20 mil irão para instituições de caridade.
R$ 10 mil ao TJD.
E R$ 3 mil ao garoto Felipe Goto, pelo celular quebrado.
Tudo certo?
Não.
A mensagem que fica é que o dinheiro paga a atitude violenta.
Por mais que esteja na legislação, os auditores precisam pensar.
Analisar o exemplo dado para a sociedade.
Por coincidência, Cristiano Ronaldo derrubou o celular de um garoto, torcedor do Everton, que filmava o time do Manchester United deixando o estádio Goodison Park, depois da derrota da equipe do português, por 1 a 0.
Na Inglaterra, a polícia está investigando o gesto. Há a possibilidade de ser encaixado como agressão. E corre o risco de ser suspenso do Campeonato Inglês.
Cristiano Ronaldo fez como Calleri. Pediu desculpas públicas ao garoto. E foi além o convidou a assistir uma partida do Manchester United, conhecê-lo. O menino disse 'não'.
O TJD de São Paulo perdeu uma oportunidade de ouro.
Ato de agressão, leve ou não, não deve virar multa.
A impressão é que o dinheiro compensa a indisciplina.
Calleri está livre de qualquer punição.
Não foi vitória do São Paulo.
Mas derrota do futebol...
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