Decepção e cobranças não afetam Felipão. Nunca prometeu Série A em 2020
Cruzeiro estagnado, na 11ª posição, na Segunda Divisão, não afeta Felipão. Seu objetivo no bicampeão da Libertadores é pequeno. Evitar Série C
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

São Paulo, Brasil
Ele é o treinador mais velho da elite do futebol brasileiro.
72 anos.
São 38 anos como técnico.
Luiz Felipe Scolari aprendeu, como poucos, a manipular as situações do futebol.
Até porque são parecidas.
Pentacampeão do mundo; comandante de três Copas, duas pelo Brasil e uma por Portugal; campeão da Libertadores, bicampeão brasileiro, tricampeão chinês, campeão uzbeque, ele aprendeu a conviver com elencos excepcionais, como a da Seleção de 2002. E medíocres, como o do Palmeiras, em 2012.
Sabe muito bem analisar o potencial de seu time.
Assim como tem a convicção de que avisar que o objetivo mais baixo é sempre melhor.
Porque se o sonho da diretoria e da torcida não chegar se confirmar, ele avisa que seu planejamento sempre foi menor.
Usa essa estratégia há décadas.
É uma maneira muito esperta de sobreviver na profissão.
Não há registros de Felipão assumindo qualquer clube ou Seleção e avisando que seria campeão. No máximo, 'lutar' ao máximo. Se não vier o título, ele não pode ser cobrado.
A situação se repete no Cruzeiro.
Diante de mais uma derrota, ontem, de virada, contra a Ponte Preta, ele viu o clube estagnado na 11ª posição da Segunda Divisão.
A euforia com sua chegada já foi embora, por parte da torcida e da imprensa.
Felipão foi mais uma vez maquiavélico na sua coletiva.
"Temos que fazer uma reflexão para saber o que vamos fazer com o Cruzeiro no ano que vem. E o que é que pode ser feito em razão de tudo isso que aconteceu neste ano."
Sim, o treinador, especialista em frases de duplo sentido, que adapta ao seu interesse, deixou a imprensa e a torcida cruzeirense lembrarem que ele assumiu com o principal objetivo de não permitir a queda para a Terceira Divisão.
Felipão chegou com o clube na penúltima colocação.

Com 52% de chances de ser rebaixado para a Série C, de acordo com institutos de pesquisa.
Isso não vai acontecer.
Só que o sonho, que ele não prometeu, de volta para a Série A, se tornou quase impossível pela campanha instável, do próprio Felipão.
Em 15 partidas com o técnico, o Cruzeiro venceu sete, empatou seis e perdeu dois jogos. O clube tem 40 pontos, a nove pontos do quarto colocado, Juventude.
Mas em compensação, basta vencer um dos sete jogos restantes para escapar da Série C, como havia prometido.
Se, por acaso, o clube bicampeão da Libertadores, vencer pelo menos seis destas últimas partidas e subir à Série A, será algo excepcional, mas que ele não prometeu.
Daí não aceitar cobranças, se o Cruzeiro apenas se mantiver na Série B, em 2021.
Felipão fez um excepcional contrato com o clube mineiro.
Seu compromisso até o final de 2022 tem o aval do bilionário Pedro Lourenço, dono da redes de supermercados BH.
Além disso, a sua multa, pagamento de todos os salários restantes, caso seja demitido, é dobrada. Como revelou José Carlos Brunoro, intermediário na contratação.
"O que mais mexeu com Felipão, nessa proposta, foi o contrato de três anos, que é raro no Brasil. E o que é mais legal.
"O Felipão disse: 'olha, vou botar uma multa alta'. E o (presidente) Sérgio Rodrigues falou: pode dobrar a multa que você vai ficar os três anos."
Felipão acertou que, em 2023, deixará de ser técnico.
Será manager do clube.
Contratará e venderá atletas.
Com direito a salário e parte do lucro.
Planos ousado para quem tem 72 anos.
E, inteligente, seque tranquilo.
Mesmo diante da decepção que começa a cercá-lo.
Ele está cumprindo o que prometeu.
Evitar o Cruzeiro na Terceira Divisão.
E não a volta para Série A.
Este é o projeto para 2021...
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