Crise deixa Globo sem purismo. Narrador vira garoto-propaganda
Crise faz Globo acabar com uma tradição de décadas. A participação do comercial nas transmissões atinge em cheio os narradores
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

São Paulo, Brasil
O fracasso da Seleção na Copa da Rússia, a recessão, a incerteza sobre o futuro do Brasil após as eleições afetaram a Globo.
Ela resolveu quebrar uma tradição que foi respeitada por décadas.
Os narradores serão obrigados a citarem os nomes dos patrocinadores durantes os jogos.
E mais.
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Além de anunciarem as formações das equipes, Galvão Bueno, Cléber Machado, Luiz Roberto terão de 'escalar os patrocinadores' que bancam o futebol na emissora. Como se fossem um 'time' de seis.
É uma ordem.
Não uma consulta.
A Globo sempre preservava seus narradores da publicidade. Os anúncios eram feitos por outras vozes durante os jogos. Era uma maneira de manter a distância entre o jornalismo puro e o faturamento.
Anunciantes pediram por anos ter seus nomes anunciados pelos principais narradores da emissora. Mas por questão de filosofia, a cúpula da Globo não aceitou nem negociar.
Mas agora, com a Seleção há 16 anos sem ganhar a Copa, com a fuga de mais de 22% nos últimos dez anos do público de futebol na tevê aberta, a pressão do departamento comercial da emissora prevaleceu.
Detalhes importantes. Os narradores não receberão mais dinheiro por citarem as marcas. E seguem proibidos de fazerem publicidade. Na tevê, nas rádios, na Internet, onde for. Além de assumirem os times de coração.
As marcas dos patrocinadores infestarão o vídeo da emissora. Entrarão de formas virtuais no Globo Esporte, no Esporte Espetacular. Vale destacar que, aos domingos, a mistura publicidade e esporte será ainda mais profunda. Haverá matérias que os patrocinadores estão presentes em todos os programas.
Além disso, a emissora também usará as redes sociais. Assim que acabarem os jogos, haverá programas pela Internet de análise e entrevistas. Mas comandados pela equipe da tevê. Com direito a mais propaganda, lógico.
Aliás, já começou no site esportivo da emissora esta integração. Há um programete de cinco minutos. Se chama Cafezinho com Escobar. O narrador e apresentador Alex Escobar entrevista anônimos sobre o futebol carioca. Só que por trás dele e das pessoas aparece uma faixa do patrocinador do programete. A rede de supermercados do Rio de Janeiro, Supermarket.

Acabou o purismo.
Até porque haverá em 2019 uma drástica redução no dinheiro gerado pelo futebol. Neste ano, a Globo faturou R$ 2,4 bilhões com o futebol. Graças à Copa do Mundo, que cobrou seis cotas de R$ 180 milhões de publicidade.
E o patrocínio dos restantes dos torneios nacionais e internacionais, batizado de Futebol 2018, foram vendidos para seis patrocinadores por R$ 230 milhões.
Menos dinheiro que o Mundial do Brasil.
Na Copa de 2014 houve oito cotas de publicidade.
Mas no próximo ano, o dinheiro será menor.
R$ 1,8 bilhão divididos entre seis patrocinadores.
Serão R$ 600 milhões a menos.
A Unilever e a Hypermarcas já desistiram, não quiseram seguir com o futebol.
Ambev, Vivo, Chevrolet, Itaú e Casas Bahia estão garantidos.
A Globo busca no mercado esse sexto patrocinador.
Além de terem seus nomes citados por Galvão Bueno, Cléber Machado e Luís Roberto, ganharão um torneio da Seleção Brasileira como bônus.
Além dos Estaduais, Campeonato Brasileiro, Libertadores, Copa do Brasil, Copa Sul-Americana, haverá a Copa América, que será disputada no país. Sem qualquer acréscimo, uma promoção.
Mas a emissora colocou limites na junção comercial com o futebol. 1) "as ações não podem comprometer o fluxo narrativo do programa"; 2) devem "estar relacionadas ao universo do futebol"; 3) terão de ser discutidas com a área comercial e aprovadas pela "equipe editorial". Cada patrocinador terá direito a duas ações, que serão identificadas no ar como "ações comerciais".
Não bastassem essas novidades, a Globo seguirá com a incômoda companhia do SBT. Não nos principais mercados do país, São Paulo e Rio de Janeiro. Assim como aconteceu neste anos, a emissora de Silvio Santos transmitirá a Copa do Nordeste.

Os jogos não serão mostrados em rede nacional. Apenas nas dez afiliadas do SBT nordestina. TV Aratu (Bahia); TV Ponta Verde (Alagoas); TV Jornal Recife e TV Jornal Caruaru (Pernambuco); TV Tambaú – João Pessoa e TV Borborema – Campina Grande (Paraíba); TV Ponta Negra (Rio Grande do Norte); TV Jangadeiro (Ceará); TV Cidade Verde (Piauí) e TV Difusora (Maranhão).
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Silvio Santos está acompanhando com interesse os resultados da competição. A 'Lampions League' reúne os principais clubes nordestinos. O desejo é vender seis cotas de R$ 38 milhões. No ano passado, que serviu como teste, foram apenas quatro cotas vendidas. Schin, Net/Claro, 51 e O Boticário.
O SBT tem contrato com a Turner, dona do Esporte Interativo, que encerrará de vez suas atividades daqui três dias. E Silvio Santos segue renovando anualmente a renovação do torneio, embora o grupo norte-americano tenha a exclusividade sobre a Lampions League até 2022.
Mas os valores seguem baixíssimos.
A ex-parceira da Globo, Band seguirá fora das transmissões de futebol no Brasil.

A Rede TV! deverá seguir só com o Campeonato Inglês, que conseguiu graças à parceria com a ESPN.
A Série B segue sem garantia de transmissão na aberta.
Diante desse quadro, a Globo acabou cedendo seu último trunfo.
Transformar seus narradores em garotos-propagandas.
Algo que parecia impossível há alguns anos...
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