‘Contrato de risco’ ao ‘Loco’ Palermo. Último tratamento de choque do Fortaleza para evitar o rebaixamento. Torcida rejeitou Eduardo Baptista e Jair Ventura. SAF age como clube comum
A aura de equipe extremamente organizada, e com direção competente no futebol, se desintegrou. O Fortaleza apela para seu terceiro treinador em 2025. A ameaça de rebaixamento mostra o fracasso do planejamento da importantíssima temporada

O Fortaleza nunca teve folha de pagamento tão alta.
Investiu R$ 8 milhões nos salários do elenco por mês.
Só R$ 1 milhão a menos do que o Bahia, a maior do Nordeste.
E que é bancada pelo bilionário grupo City.
O planejamento de Juan Pablo Vojvoda era montar uma equipe poderosa, capaz de fazer história na Libertadores. Chegando, pelo menos, nas quartas.
Lutar pelo título da Copa do Brasil.
Ficar entre os seis primeiros do Brasileiro.
Ganhar a Copa do Nordeste.
E, evidente, ganhar confiança, vencendo o Estadual, evitando o bicampeonato do Ceará.
Afinal, em 2024, ganhou o tricampeonato da Copa do Nordeste e conquistou uma vaga direta na fase de grupos da Libertadores.
Tinha reforços do calibre de David Luiz (zagueiro), Kuscevic (zagueiro), Borrero (atacante), Fernández (meia), Brenno (goleiro), Diogo Barbosa (lateral), Gastón Ávila (zagueiro).
Só que os fracassos se acumularam.
As mudanças foram muito profundas demais para Vojvoda.
As peças não se encaixaram.

Mostrou fragilidade impressionante na parte defensiva. Perdeu a marca registrada do time, a intensidade nas intermediárias, a velocidade e a objetividade no ataque.
A frustração já começou com o Campeonato Cearense. O rival foi bicampeão. Invicto, ganhou o torneio, com toda justiça.
A tensão virou irritação quando o time caiu, em maio, na Copa do Brasil. Diante de um adversário com folha salarial dez vezes menor. O humilde Retrô, de Pernambuco.
O time seguiu sem despertar confiança, inseguro, uma sombra das últimas temporadas. Veio a péssima campanha no Brasileiro. Assim como a certeza da eliminação da Copa do Nordeste. Para o Bahia.
Na Libertadores, com o time muito mal, veio a classificação, graças à maior fragilidade dos adversários. Não havia empolgação com a chegada às oitavas.
Veio a paralisação por conta do Mundial de Clubes.
Vojvoda já pensava em demissão. Seu trabalho era fraquíssimo, diante da expectativa que despertou. Tirou alguns dias de folga em Buenos Aires. Voltou, mas só para ser demitido, após a derrota diante do rival Ceará.
O time completava nove partidas sem vitórias no Brasileiro. Sexta derrota seguida. E sem perspectiva de reação.
O argentino, que comandava a equipe desde maio de 2021, foi demitido.
Em seguida o clube contratou o português Renato Paiva. Ele havia acabado de ser mandado embora do Botafogo. Exatamente por ser o contrário de Vojvoda, defensivista.
Vieram as quartas da Libertadores. Péssimo 0 a 0 contra o Vélez, no Ceará. E previsível derrota por 2 a 0, na Argentina. Adeus Libertadores.
De um ano tão promissor só restou lutar para evitar o rebaixamento no Brasileiro.
Mas Renato Paiva se preocupou mais em afastar jogadores, mostrar que era ele quem mandava, que sabotou ainda mais o ambiente tenso do Fortaleza.

Tudo estava pesado demais. A derrota para o Internacional, em Porto Alegre, foi a gota d´água. Bastaram dez partidas e o treinador português foi mandando embora. E detalhe constrangedor. Ele soube da sua saída pela imprensa.
O CEO do Fortaleza, Marcelo Paz, símbolo de modernidade, saiu à caça de treinador. Sondou Eduardo Baptista, que está no Criciúma, e Jair Ventura, que trabalha no Avaí.
A reação dos dois foi de interesse.
Só que a imprensa cearense, as organizadas e os torcedores ‘comuns’, se revoltaram. Não aceitaram os dois nomes.
Queriam alguém com nome mais forte.
De impacto.
Foi quando empresários ofereceram para Paz o argentino Martin Palermo.
Ele é um dos maiores ídolos da história do Boca Júnior.
O principal artilheiro de todos os tempos, com 237gols pelo clube argentino.
De personalidade fortíssima, decidiu se tornar treinador. Assumiu o Godoy Cruz, Arsenal de Sarandy, Unión Espanhola, Pachuca, Curicó Unido, Aldosivi, Platense.
Todos clubes pequenos.
No Olimpia, conseguiu o título paraguaio, em 2024.
2025 começou mal para o argentino. Perdeu a Supercopa do Paraguai. E o golpe final foi a partida pela Libertadores contra o Vélez, que eliminou o Fortaleza. Derrota em Assunção, por 4 a 0, na segunda rodada da fase de grupos.
Palermo é antítese da diplomacia de Renato Paiva. E do pragmatismo de Vojvoda.
Ele segue explosivo como era como jogador.
Monta equipes ofensivas.
E tem o mérito de fazer os atletas vibrarem, lutarem.
De acordo com jornalistas argentinos, as equipes de Palermo brigam tanto pelos resultados, que muitas vezes perdem a formação tática, acabam expostas.
Mas diante do cenário caótico, com o Fortaleza em penúltimo lugar, seriamente ameaçado de jogar a Segunda Divisão, Marcelo Paz aceitou fazer a ‘última aposta’ em 2025.
Palermo recebeu um contrato de risco.
Ou seja, assinou só por três meses.
Até o final de dezembro.
Tudo aberto, sem meias palavras.
Salvou o clube do rebaixamento, ganha um contrato de um ano.
Ficará até o final de 2026.
Mas o de agora vale só por 90 dias.
Palermo, que queria entrar no rico mercado brasileiro, aceitou.
Seu apelido como jogador era ‘El Loco’.
Pois então que seja.
O Fortaleza será uma ‘louca’ aventura.
Elenco que foi montado por Vojvoda.
E reformulado por Renato Paiva.
Ele tem 17 partidas para tirar o Fortaleza do fundo do poço.
Para se consagrar no futebol brasileiro.
Ou seguir o caminho de Vojvoda e Renato Paiva.
O convicto e exemplar Fortaleza não existe mais.
Virou um clube comum.
Que cede à pressão dos resultados.
Da imprensa, da torcida.
Sem respeitar a filosofia de jogo dos atletas contratados.
Sem dar respaldo aos técnicos.
Sem convicção alguma no que está fazendo no futebol...