Como o Flamengo se tornou o clube mais odiado do Brasil
Sete motivos que mostram que a filosofia de Landim tornou o Flamengo poderoso. Mas visto como um clube arrogante, insensível e dinheirista
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Estampidos de rojões foram ouvidos em várias regiões às 23h45, de mais uma noite de isolamento pela pandemia do coronavírus.
Alguns palavrões também ecoaram na noite paulistana, com os rojões.
O motivo não era o radicalismo político no final da quarta-feira.
Mas comemoração raivosa pela defesa do pênalti de Rafinha por Muriel.
O título carioca de 2020 não era conquistado de forma antecipada pelo Flamengo.
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A Taça Rio ficou com o desprezado Fluminense.
Mas se engana quem pensa que os rojões e palavrões eram apenas por pura rivalidade.
Não havia tons de ironia pela derrota do mais forte.
O sentimento era outro.
As redes sociais traduzem melhor.
E os ataques não são só de paulistas, mas de internautas de todo o país.
O Flamengo se tornou o clube mais odiado do Brasil.
Não por ser o mais forte, o mais poderoso, como já foram o Internacional, de Rubens Minelli; o São Paulo, de Telê Santana; o Grêmio, de Felipão; o Cruzeiro, de Vanderlei Luxemburgo; o Corinthians, de Tite; o Santos, de Neymar; o Palmeiras, da Parmalat; e o próprio Flamengo, de Zico.
Mas pela ganância, insensiblidade, crueldade.
Ela é centralizada na figura do presidente Luiz Rodolfo Landim Machado.
Aqui, os sete motivos para tanto ódio do clube de maior torcida do país.
1º)Landim age no futebol como se estivesse no selvagem mercado de ações
O presidente do Flamengo trabalhou por anos com Eike Batista, que foi um dos homens mais ricos do mundo. Engenheiro especializado em petróleo e investimento, foi presidente da Petrobrás Distribuidora.
Depois assumiu como presidente executivo das empresas MMX, OGX e OSX. Todas de Eike.
Na disputa de mercado, não há espaço para sentimento, parceria, troca de favores.
O objetivo é lucrar.
O que vale é pensar apenas na sua empresa. Se todas as concorrentes forem prejudicadas, com uma medida dentro da lei, melhor.
Foi vice de planejamento de Eduardo Bandeira de Mello, percebeu como a estrutura do futebol brasileiro é amadora.
Perfeita para um executivo ambicioso ao extremo do mercado financeiro.
O futebol brasileiro não estava acostumado com um homem de postura tão egocêntrica, cruel, maquiavélico como Landim.
Ele é o responsável pelos títulos, pela ousadia de montar o melhor time.
Mas também pela rejeição no país.
Landim está por trás de todas as decisões do Flamengo desde janeiro de 2019.
Seu egoísmo desagrada até mesmo flamenguistas.
Como antes da final do Mundial de Clubes, contra o Liverpool.
Na véspera do jogo, os atletas ficaram revoltados quando souberam que não poderiam dividir sua parte da premiação com funcionários do clube.
Landim achou que eles ganhariam dinheiro demais.
Proibiu a divisão.
A notícia vazou e provocou espanto e revolta nos torcedores de forma geral.
Inclusive no flamenguistas.
O estilo Landim se tornava claro.
2º) A falta de humanidade no incêndio no Ninho do Urubu
A terrível madrugada do dia 8 de fevereiro de 2019 trouxe ao mundo o incêndio no dormitório dos jogadores de base do Flamengo.
Dez meninos morreram queimados ou asfixiados pela fumaça. Tinham entre 14 e 17 anos. E outros três garotos tiveram queimaduras graves.
Foi revelado que eles dormiam em uma armadilha: contêineres soldados, improvisados. E que pegaram fogo com um curto circuito em um ar condicionado mal instalado. Não havia janelas. E apenas uma saída. O fogo às 4 da manhã pegou os meninos dormindo.
Depois de um ano e cinco meses da tragédia, o Flamengo ainda regateia na justiça. Não quer pagar o que o Ministério Público recomendou para as famílias das vítimas, a grande maioria muito pobre.
Por decisão de Landim, o quanto o clube economizar, melhor.
Ele usa o fato de não haver precedente nesta situação.
É uma postura legal, mas revoltante.
O Flamengo faturou R$ 950 milhões em 2019. Se pagasse o que o MP pedia para as famílias, não chegaria R$ 30 milhões. Mas o clube se recusou e negocia com cada família em separado. O que é mais fácil de pressionar e conseguir acordo.
3º)Primeiro aniversário de morte dos meninos e a negativa à construção de um mausoléu.
Foi deplorável a cena. Familiares dos meninos mortos impedidos de entrarem no Ninho do Urubu. Queriam rezar por seus garotos que perderam a vida no dormitório do Flamengo.
Bastasse reservar um lugar, sem acesso da imprensa, e organizar uma missa em homenagem aos dez meninos.
Mas não. Com a desculpa que os familiares não agendaram a visita, foram impedidos de entrar na concentração.
O sofrimento com o desprezo da diretoria foi registrado pela imprensa. As imagens chegaram a todos os brasileiros.
Os parentes cobraram também um mausoléu, que lembrasse os garotos mortos. Mas a diretoria parece que resolveu não construir, já que coordena visitas guiadas ao CT. E teria de explicar o motivo do mausoléu aos visitantes.
4º)Bruno Henrique e o "outro patamar".
Depois do empate contra o Vasco, em 4 a 4, na noite de 13 de novembro do ano passado, o atacante Bruno Henrique cunhou a frase para definir a diferença entre o Flamengo e o grande rival: "Nós estamos em outro patamar."
Ela foi adotada imediatamente por outros jogadores, torcida e, principalmente, diretoria.
Foram inúmeras vezes que se ouviu os flamenguistas se elogiarem.
A arrogância, a prepotência ficou evidente em cada comemoração de título.
Propagando serem muito melhores do que rivais.
O que só provoca antipatia dos adversários.
Era como os executivos das empresas Eike Batista costumavam se portar.
Até serem descobertos fraudulentos que levaram o empresário para a cadeia.
5º) A relação íntima com as estatais. O patrocínio com o Banco de Brasília
Fiel ao seu estilo de conseguir dinheiro onde ele estiver, Rodolfo Landim se aproveitou da tradicional ligação do clube mais popular do Brasil e instituições de capital misto, mas como principal investidor o governo federal.
Depois de 31 anos de relação íntima, patrocínios milionários, da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal, em plena recessão e pandemia, o Flamengo conseguiu que um banco estatal patrocinasse sua camisa.
O Banco de Brasília fechou contrato de três anos.
R$ 35 milhões por cada 12 meses, mais 50% de participação de novas contas, desde que a pessoa se apresente como flamenguista.
É a instituição financeira estatal que mais paga a um clube brasileiro.
Como era nos tempos da Petrobrás e da Caixa Econômica.
6º) A volta do futebol em plena pandemia
Landim é o responsável pelo retorno do futebol no país, em plena curva ascendente da pandemia do coronavírus.
O motivo: dinheiro.
Ele fez reuniões com o presidente da Ferj, Rubens Lopes, para garantir que o Carioca fosse terminado.
E também com o presidente Jair Bolsonaro, interessado no retorno do futebol para tirar o foco da pandemia. Como fez, por exemplo, Donald Trump, também não se importando com a alta mortalidade da Covid-19 no seu país.
Landim fez questão de colocar o Flamengo para treinar, até quando era proibido, no Rio. Não homenageou o massagista Jorginho, morto pelo coronavírus.
Discutiu com jornalistas, foi duramento criticado nas redes sociais, inclusive por flamenguistas, mas o que importava era o dinheiro que o Flamengo deixava de faturar.
E mesmo com quatro jogadores infectados, o clube disputará a decisão do Carioca com o Fluminense.
7º) A tentativa de derrubar de tirar o direito de o Fluminense transmitir a final da Taça Rio. E cobrar R$ 10,00 por jogo contra o Volta Redonda.
O capitalismo selvagem, de tubarões canibais, chegou ao extremo quando o Flamengo perdeu o mando de jogo da final da Taça Rio.
Como a Globo rescindiu o contrato de transmissão do Carioca, por conta de o Flamengo transmitir seu jogo contra o Boavista, usando a medida provisória 948, a Ferj fez o sorteio do mando.
E ele coube ao Fluminense.
O caminho seria o básico, usar a MP 948 e mostrar o jogo sozinho, no seu canal do youtube. O Flamengo havia ensinado o caminho.
Mas, impulsionados por Landim, o departamento jurídico do Flamengo chegou a convencer o TJD do Rio a desrespeitar a MP que o presidente rubro-negro conseguiu com Bolsonaro.
Foram necessárias a intervenção do STJD e a ameaça velada do Fluminense de não entrar em campo para a decisão.
Só assim o Flamengo sossegou.
Ou melhor, não.
Depois da plataforma, que transmitiria a partida contra o Volta Redonda, não dar conta de cobrar R$ 10,00 dos torcedores, tamanho o volume de procura, Landim já avisou.
Quer que o jogo que o Flamengo tiver o mando na final do Carioca, seja transmitida pela FlaTV. Com cobrança dos tais R$ 10,00.
Ele não quer nem saber da pandemia, dos 12 milhões de desempregados.
E da revolta por explorar a própria torcida, que o apoiou na guerra contra a Globo.
Os motivos ao ódio ao Flamengo de 2020 estão expostos.
E todos têm por trás a filosofia de Landim.
Que desenvolveu por anos com Eike Batista.
O dinheiro, acima de tudo...
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