Com dívidas de mais de R$ 700 milhões e atraso em salários, São Paulo investiga por que desperdiçou R$ 400 milhões pela dispensa de Endrick
O São Paulo rompe a tradição. Uma diretoria vai investigar a anterior. Por conta da dispensa de Endrick, jogador que foi vendido pelo Palmeiras ao Real Madrid por R$ 400 milhões. O São Paulo está atolado em dívidas
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
Doha, Catar
72 milhões de euros.
R$ 404 milhões, na cotação atual.
Para um clube que beira os R$ 700 milhões em dívidas.
E que precisa recorrer a bancos para pagar os juros, atrasou salários dos jogadores e da comissão técnica, mesmo em decisões de títulos. Seria uma verba que teria um efeito extraordinário. Daria fôlego à administração e abriria a possibilidade de grandes contratações.
Mas o São Paulo não tem nem terá esse dinheiro.
Não vindo de Endrick, jogador que foi desperdiçado, que treinou no São Paulo. Não fez apenas um mera peneira. Longe disso.
Ele fez três períodos de testes, em três anos seguidos.
Mesmo sendo um menino, entre oito e dez anos, já mostrava um talento enorme, de acordo com treinadores especializados nas categorias de base.
Situação mais do que complicada.
Com direito a cobrança de muitos conselheiros.
E que o presidente Julio Casares resolveu enfrentar.
O meu colega de décadas, Eduardo Afonso, levantou a informação, que está confirmada pelo blog.
O São Paulo já está fazendo uma investigação interna para descobrir como um jogador com tanto talento foi desperdiçado.
Endrick jogava no Brasília Fut Academy, clube especialista em descobrir jovens talentos e que mantinha parceria com o São Paulo. Ele fez por três anos seguidos período de testes no São Paulo. Foi aprovado, quando tinha 10 anos. Estava entusiasmado.
Mas seu pai deixou claro que ele só ficaria no clube se fosse oferecido para ele trabalho. Porque não deixaria seu filho sozinho em São Paulo e seguiria morando em Brasília.
Situação que alguém no Centro de Treinamento de Cotia não aceitou.
Pediu tabalho, como auxiliar de limpeza.
E moradia.
Mesmo diante de tanto talento, o menino teve de ir embora.
Chorou, lastimou-se, envergonhado, voltou para Brasília.
Foi um trauma que Endrick não esqueceu.
Tanto que já com contrato profissional com o Palmeiras fez questão de publicar um vídeo seu, em setembro, com a camisa de treinos do São Paulo.
E revelou as palavras da dispensa do clube, que nunca esqueceu.
"Não conseguimos arcar com moradia e emprego pro seus pais. Você está liberado."
Ele escreveu "obrigado".
Teve direto até a fundo musical.
Você estragou tudo, de Marília Mendonça.
"Você fechou seus olhos, tampou os ouvidos
Se fez de mudo e acordou em desespero
Naufragou com seus próprios erros
… Tão dizendo por aí
Que nunca se esquece um amor
Vai com calma, espera aí
O que foi mesmo que você falou?
… Tão dizendo por aí
Que nunca se esquece um amor
Vai com calma, espera aí
O que foi mesmo que você falou?'
Na sua jovialidade, Endrick revela o quanto queria ser jogador do São Paulo.
A frustração do menino virou despedício de dinheiro.
E a diretoria passada será cobrada, quebrando uma tradição no Morumbi.
Não custa lembrar, os homens que, em última instância, aprovaram a saída de Endrick foram o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco; José Alexandre Medicis da Silveira, vice-presidente, e José Jacobson Neto, diretor, além de Gustavo Vieira de Oliveira, diretor-executivo.
A comissão de ética do São Paulo é que decidirá, depois de investigar, qual tipo de pena será aplicado.
Advertência pública, suspensão e, em último caso, expulsão por conta do prejuízo que levaram ao clube. Não só financeiro, mas também pela imagem de incompetência de avaliação dos talentos de Cotia.
Tudo está acontecendo seis anos depois da dispensa.
E ao ver o rival festejando sua maior venda da história.
A segunda do futebol brasileiro, só atrás da de Neymar.
Enquanto isso, a atual direção segue agoniada tentando descobrir investidores que queiram assumir os naming rights do Morumbi.
Ou até mesmo assumir o clube, transformando o São Paulo em sociedade anônima.
E não encontra.
Não há certeza de que 2023 será diferente de 2022.
Que o clube poderá pagar os salários de seus jogadores em dia.
Como não conseguiu neste ano.
Daí pelo menos a busca pelo inaceitável.
A incompreensível perda de Endrick...
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