Ceni não aceitará 'traição', como foi com Leco. Se o São Paulo vender Igor Gomes e Nestor, assumirá: luta será para não cair
O São Paulo deve mais de R$ 700 milhões. Precisa vender jogadores que Ceni considera fundamentais ao time. Exatamente como foi em 2017. E o técnico acabou demitido, pelos péssimos resultado da equipe enfraquecida
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Rogério Ceni aprendeu.
Sofreu em silêncio em 2017.
Ficou apenas sete meses, no início de sua carreira.
Apesar de maior ídolo da história do clube, foi despachado sem dó pelo então presidente, Carlos Augusto de Barros e Silva.
O São Paulo estava na zona de rebaixamento, no primeiro trabalho como treinador de Ceni.
Há cinco anos, ele sabe que que foi 'traído' por Leco. O presidente resolveu fazer um desmanche na equipe. E foram para o exterior: David Neres, Luiz Araújo, Thiago Mendes, Maicon e Lyanco.
Ceni insistiu em vão para que não houvessem principalmente as saídas de Thiago Mendes e Luiz Araújo. Desejava a permanência de Maicon.
Mas Leco não o ouviu. E preferiu os R$ 171 milhões. Eles seriam usados para 'equilibrar as finanças'.
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Ceni foi demitido.
Leco se tornou o pior presidente da história do clube. Ficou cinco anos no cargo. E não conseguiu sequer um título.
E deixou como herança uma dívida de mais de R$ 400 milhões.
De volta ao Morumbi, Rogério Ceni jurou que não passaria pela mesma situação novamente. Foi bem direto com o atual presidente Julio Casares. Se houver desmanche no time, para estabilidade financeira do clube, tudo será público. Não haverá mais como disfarçar, enganar a torcida ou imprensa.
O objetivo do clube passará de ser conquistar títulos, chegar à Libertadores, para sobreviver na Série A, evitar o risco de rebaixamento. Direto, transparente.
Isso porque ele não quer a saída de jogadores que considera prioritários ao time. Como Igor Gomes e Rodrigo Nestor.
O discurso é exatamente o mesmo que fez com Luiz Araújo e Thiago Mendes, há cinco anos. O técnico destacou para Casares que o São Paulo não pode abrir mão dos dois, se pretende lutar por uma vaga na Libertadores da América em 2023, ponto principal do planejamento do São Paulo para 2022.
Só que o São Paulo já deve mais de R$ 700 milhões. Casares não quer o clube travado, com a dívida crescendo, por conta dos juros, a cada dia.
O coordenador Muricy Ramalho tenta encontrar um meio termo.
Ele sabe o quanto Rogério Ceni sofreu em 2017 e que prometeu não passar pela mesma situação, em 2022.
Empresários estão tentando encontrar clubes interessados em Luan e Gabriel Sara, atletas que Casares tinha certeza que 'faria dinheiro' em 2022. Até mesmo Diego Costa está entre os negociáveis. Assim como Pablo Maia.
Volpi e Marquinhos já foram vendidos.
O 'mínimo' do mínimo que a direção espera com a venda de atletas é de R$ 142 milhões. A janela do meio de ano é fundamental.
Até porque o clube ainda tem a obrigação contratual de comprar Calleri. Basta o principal atacante do São Paulo atuar em 30% dos jogos. O preço: R$ 14 milhões, para um grupo de empresários, donos dos direitos do atleta, ligados ao Deportivo Maldonado, do Uruguai.
As dificuldades administrativas do São Paulo são enormes.
Tanto que as reuniões sobre a busca de um grupo ou investidor, para transformar o clube em Sociedade Anônima do Futebol, são sérias. E já duram meses.
Enquanto isso, os campeonatos se acumulam.
E Rogério Ceni não aceitará que, novamente, a culpa caia sobre ele, caso o clube venda jogadores que considera 'fundamentais'.
"Tenho alguns jovens que, se saírem, a chance de cair de desempenho acontece. Esses jovens são muito importantes e não poderíamos perder. No fim do ano, tudo bem, você pode montar outro time, ter nova pré-temporada."
"Se for desmanchar o time, os pontos que conquistamos até agora vão ser importantes por outros motivos", deixou bem claro, Ceni, na coletiva, após o empate com o Corinthians, ontem.
Em vez dos pontos de ânimo, com os 12 pontos que o clube tem em sete partidas, que garantem a temporária terceira colocação, o cálculo passa a ser quantos pontos faltariam para salvar o São Paulo do rebaixamento.
A ameaça de Ceni não é sutil.
É direta.
Muricy já a traduziu com muita eficiência a Casares.
O presidente do São Paulo está diante do impasse.
Precisa do dinheiro das eventuais vendas de Igor Gomes e Rodrigo Nestor, os mais 'negociáveis'. Mas não quer contrariar Rogério Ceni. E tumultuar o time, que começa a 'se encorpar'.
Assim como não deseja assumir que a meta de 2022 será apenas fugir do rebaixamento.
O São Paulo está contra a parede.
Desta vez, Ceni não se calará, como fez com o desmanche de Leco...
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