CBF dividida entre Abel Ferreira e Dorival Júnior. Os donos dos títulos no Brasil. Não há consenso para substituir Tite
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, quer esperar até o fim da participação do Brasil na Copa. Para avaliar até politicamente quem será o novo técnico da seleção para o Mundial
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"É um assunto que eu não controlo."
"Não depende de mim."
"Eu vivo o aqui e agora."
"E trabalho com pessoas que realmente me querem."
"O futuro a Deus pertence."
"E tudo tem a hora de Deus."
"Não faço planos."
"É minha forma de ser e estar."
(Abel Ferreira, no dia 23 de março de 2022, na TV Cultura)
"É difícil falar sobre hipóteses na minha posição. Acho que meu contrato (com a equipe do Flamengo) vai até o fim do ano, e talvez o maior prêmio para mim seria permanecer à frente dessa equipe e dar sequência ao nosso trabalho."
"Caso venha a acontecer uma possibilidade, tudo isso daí após a Copa do Mundo. Temos que ter muita calma, muita paciência. Você postula uma condição como essa, você imagina uma possibilidade como essa, mas tudo ainda muito distante, muito vago."
"Temos grandes profissionais no país, muito respeitados, que também têm o merecimento de uma oportunidade à frente da seleção."
(Dorival Júnior, 31 de outubro de 2022)
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, sabe que não tem outra possibilidade racional.
Assim como seus companheiros mais próximos, muitos ainda ligados aos ex-presidentes Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero.
No horizonte brasileiro só há Abel Ferreira e Dorival Júnior para substituir Tite, que vai abandonar o cargo de treinador da seleção após a Copa do Mundo.
Os dois comandam os clubes mais vencedores do futebol do país. Em 2022, dividiram os dois títulos nacionais mais importantes. O flamenguista ficou com a Copa do Brasil. E o palmeirense, com o Brasileiro.
Dorival Júnior conquistou também a Libertadores; Abel Ferreira, que era o bicampeão, foi o terceiro colocado.
Em compensação, vem de uma sequência fabulosa. Nos dois anos em que trabalha no país, conquistou seis títulos.
Dorival, antes deste ano vitorioso no Flamengo, só havia vencido o Paranaense, com o Athletico, em 2020, depois de um jejum de oito anos.
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Contra Abel Ferreira há a sua enorme lista de reclamações contra o calendário da CBF. Critícas duras, diretas ao comando da arbitragem brasileira, com a eliminação do Palmeiras da Copa do Brasil deste ano, com atitudes absurdas do VAR, contra o São Paulo, nas oitavas de final.
Dorival Júnior é muito mais comedido nas queixas. Não se expõe como o português, treinador mais indisciplinado do Brasil, desde que chegou.
A metodologia de Abel Ferreira é muito mais moderna, os treinamentos seguem o que aprendeu na Europa. A obrigação de seus jogadores aprenderem a executar duas ou até três funções táticas em uma mesma partida é muito eficiente.
Dorival Júnior se assume como mais simples taticamente. Ele respeita mais a acomodação natural dos jogadores à função que mais rendem. Os atletas se sentem à vontade, até para questioná-lo, sugerir outra movimentação. O paulista se mostra aberto ao diálogo tático, o que não ocorre com o europeu.
Abel Ferreira não aceita privilégios para os jogadores mais badalados. Dudu é um exemplo. Maior salário do Palmeiras, ao voltar do Catar, ele teve de se adaptar, entender a maneira como o português montou o time. Enquanto não entrou no melhor de sua forma física, não jogou. E, além disso, é várias vezes substituído, situação que detesta, mas não reclama.
Dorival Júnior é mais compreensivo com os descontroles emocionais dos seus jogadores. Como os chiliques de Gabigol ao ser substituído. Quando Filipe Luís, mesmo cansado, pede para seguir em campo.
Abel tem o controle absoluto da programação do Palmeiras. E não disfarça sua insatisfação quando o clube precisa se dobrar à WTorre e jogar em outro estádio, para que aconteçam shows.
Dorival, não. Ele já é mais discreto. Assume ser um funcionário do Flamengo. E as críticas e ponderações são feitas à diretoria. Sem evitar choques públicos.
Ednaldo Rodrigues precisa saber o que quer dentro de campo.
Abel Ferreira é um treinador mais objetivo, com menos posse de bola, e mais contragolpes em bloco, em velocidade. Ele defende a intensidade, a marcação forte. A imposição física.
Dorival já gosta de times mais ofensivos, com maior posse de bola. Troca de passes pacientes para furar o bloqueio adversário. Suas linhas são mais avançadas. É um futebol mais agradável de ver. A bola corre muito mais do que os jogadores.
O presidente Rodolfo Landim sabe que a torcida flamenguista não se abalaria se Dorival Júnior fosse treinar a seleção. Desde que contratasse, de volta, Jorge Jesus. Sua multa no Fenerbahçe é de 4 milhões de euros, cerca de R$ 20,3 milhões.
Leila Pereira não tem a menor ideia de quem contrataria, se Abel fosse o escolhido de Ednaldo Rodrigues. O Palmeiras não tem plano B. A dirigente pediria indicação para o próprio treinador sobre quem deveria substituí-lo.
Nenhum nome no cenário nacional ou internacional chegaria ao Palestra Itália sem a suspeita da torcida palmeirense. Mesmo se fosse Pep Guardiola. A relação virou umbilical.
Outro item fundamental para a escolha de um ou de outro é a performance do Brasil na Copa do Mundo.
Se Tite levar a seleção ao título ou muito perto, o treinador brasileiro estará valorizado. O que seria ótimo para Dorival.
Caso não não chegue à final, sendo eliminada de forma inconstestável por alguma seleção europeia, como aconteceu nos últimos quatro Mundiais, a possibilidade de Abel cresceria imensamente.
Ednaldo Rodrigues é político.
Tem a assessoria de Rodrigo Paiva, que é muito articulador, e sabe traduzir a temperatura da imprensa nacional, o momento.
Situação que será fundamental para a definição, se o Brasil está preparado para ter um treinador estrangeiro, europeu, português, assumindo a seleção. Com planejamento até a Copa dos Estados Unidos, em 2026.
Ou se o conservadorismo xenofóbico ainda prevalecerá.
Com as portas abertas da CBF só para os treinadores com passaportes brasileiros.
Na seleção masculina.
Porque na feminina, a sueca Pia Sundhage assumiu em 25 de julho de 2019. E não houve protestos, escândalos, reclamações. Muito pelo contrário. Sundhage trouxe modernidade tática e estrutura para o time brasileiro. Acabou a dependência de Marta.
Neymar fará 31 anos no dia 5 de fevereiro.
Na próxima Copa, estará com 34 anos.
O Brasil não poderá ficar na dependência de um jogador na fase final de sua carreira.
Este é o último grande elemento a ser levado em consideração neste aparente duelo.
Dorival e Abel Ferreira são os grandes favoritos para assumirem a seleção.
Fernando Diniz e Cuca já tiveram muito mais defensores.
Assim como Jorge Jesus e outros treinadores estrangeiros.
Ednaldo Rodrigues promete que logo após a Copa definirá o treinador.
A disputa hoje nos bastidores está absolutamente equilibrada...
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