Cateterismo de Galvão faz a Globo apressar amadurecimento de Villani
Em outubro, as cordas vocais. Hoje, o coração, exigindo cateterismo. E fora da decisão da Libertadores. A Globo descobriu. Galvão não é eterno
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Foi um grande susto.
A notícia chegou ainda pela manhã nas redações da Globo no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Galvão Bueno foi internado para fazer um cateterismo, às pressas, em Lima. O procedimento médico foi delicado e serviu para desobstruir uma importante artéria, fundamental no bombeamento do coração, que estava entupida.
O narrador começou a passar mal na madrugada de hoje. E foi prontamente atendido. Levado para o melhor hospital peruano, a clínica Anglo Americana.
Galvão não narrará a final da Libertadores com o Flamengo, seu time de coração, como fez há 38 anos.
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Luís Roberto será seu substituto.
A previsão é que, se correr tudo dentro da normalidade, Galvão Bueno fique apto dentro de semanas para voltar a trabalhar.
Mas o susto acontece em um momento importante para a Globo.
Apesar de sempre tentar aparentar jovialidade. Inclusive com gargantilha para esconder a papada, Galvão Bueno é um idoso.
Ele fará 70 anos em julho de 2020.
A cúpula da emissora carioca se deixou levar por décadas. Ele está na emissora desde 1981. Desde 1990, há 29 anos, se tornou o principal narrador.
Além de querer transmitir todas as principais competições esportivas, desde futebol, automobilismo, vôlei, basquete, maratonas, até MMA, a Globo sabe que para amar ou odiar, Galvão consegue aumentar a audiência da emissora.
Ele é o melhor narrador do Brasil.
E como costuma dizer, um 'vendedor de emoções', transformando jogos fracos em disputas de tirar o fôlego.
Só que esta nova geração de Marinho, que comanda a Globo, e mandou ícones do jornalismo embora, por velhice, também analisa de verdade a situação de Galvão Bueno.
Quer formar um substituto, algo que, em quase três décadas, não conseguiu.
O susto de hoje mostra a dificuldade, a falta de rumo.
Luís Roberto prevaleceu sobre Cleber Machado por trabalhar no Rio de Janeiro. Os cariocas estão mais acostumados com sua voz. Cleber é rotulado de 'paulista', apesar de Luís Roberto também ser.
Galvão Bueno tem dado toda a força para que Gustavo Villani se transforme no narrador número um da emissora, o suceda.
Ele tem 38 anos. Nasceu em Marília. Foi repórter, mas sonhava com narração. Trabalhou na rádio Globo. Mas se transformou na Fox Sports.
Foi treinado para narrações ufanistas, assumindo um lado, principalmente envolvendo clubes brasileiros contra estrangeiros. Narra quase gritando várias vezes, filosofa durante a transmissão, opina absolutamente sobre tudo.
Galvão se viu com 32 anos a menos.
Luís Roberto, 58 anos, e Cléber Machado, 57 anos, sedimentaram suas carreiras como número dois. Um no Rio e outro em São Paulo. O público se acostumou, sabe. Quando um dos dois está na transmissão, o jogo, a corrida não é de suma importância.
Se for importante é com o Galvão.
A Globo comprou a ideia de fazer Villani o sucessor de Bueno.
A voz de Galvão já não é a mesma há anos. Ele usa o truque de poupá-la durante as partidas, passando a maioria do tempo comentando, conversando.
Só que o tempo passa para todos.
No mês passado, ele não conseguiu narrar os gols de Grêmio e Flamengo, no empate em 1 a 1, na semifinal da Libertadores, em Porto Alegre.
Sem saída, teve de pedir desculpas.
Posou todo feliz, mostrando um moderno aparelho a lases que 'acabaria' com seu edema nas cordas vocais. E que o estaria atrapalhando na semifinal da Libertadores.
Mas veio o cateterismo de hoje.
A Globo havia feito uma programação toda especial para a final de sábado.
Galvão seria a grande estrela.
Não só narrando a decisão entre Flamengo e River Plate.
Mas acionando repórteres, contando histórias, trocando pontos de vista táticos com os comentaristas.
Ele também seria incumbido de narrar, amarrar a transmissão até a entrega do troféu, se o Flamengo conseguisse vencer.
Usar o seu dom como 'vendedor de ilusões'.
O planejamento da Globo e do próprio Galvão era que ele narrasse a sua última Copa do Mundo no Qatar, afinal, teria 72 anos.
E depois, como pede há muito tempo, se tornaria comentarista.
Daria a última palavra sobre os jogos.
E Gustavo Villani assumiria seu posto.
O 'jovem' narrador é cada vez mais visto na emissora.
Já apresenta "Segue o Jogo", após as rodadas do Brasileiro.
Fez um enorme estardalhaço com a conquista do Mundial Sub-17, conquistado pela Seleção, em Brasília, no último domingo.
Aprendeu com Galvão a valorizar uma competição que o Brasil e o mundo desprezam há anos e anos.
Sua presença jovial e 'eloquente' já ganhou fãs importantes na cúpula da emissora carioca.
O clã Marinho espera que Galvão se recupere.
Ele ainda é uma presença obrigatória no futebol.
Na frieza da vida empresarial, já se projeta a vida da Globo sem Galvão Bueno.
Mas ele ainda é figura fundamental.
Daí a tensão, a preocupação com seu cateterismo.
É como se descobrissem hoje que é idoso.
Não o terão na final da Libertadores.
E faltam dois anos e meio para a Copa do Qatar.
Galvão Bueno será observado como nunca.
E Gustavo Villani lapidado.
Para que possa assumir o posto de número um.
Mais cedo do que todos imaginavam.
Narrará cada vez mais eventos.
E Galvão Menos.
Tomara para que nessa lapidação, Gustavo grite menos.
E seja menos ufanista.
Ele não está mais no rádio e nem na Fox Sports.
A hospitalização do seu principal narrador, em Lima, assustou a Globo.
Mas trouxe seus executivos à realidade.
Ninguém é eterno.
Nem mesmo Galvão Bueno...
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