Carille. O tricampeonato paulista será a primeira meta

São Paulo, Brasil

O coro de "o professor voltou", adaptação simplória de "o campeão voltou", tão entoado nos estádios, dominou o Terminal 3 do Aeroporto Internacional, Governador André Franco Montoro, em Cumbica.

Eram cerca de 300 torcedores que decidiram que os embalos de seu sábado à noite seriam diferentes.

Saudado, Fábio Carille.

O treinador de 45 anos voltava de sua aventura de seis meses na Arábia Saudita. Ganhou os dois caminhões de dinheiro prometidos pelo Al Wehda e aproveitou a brecha de uma multa baixa, R$ 2,9 milhões, para virar as costas com cerca de R$ 8 milhões mais rico. 

E com prestígio que jamais teve em nove anos e meio de Parque São Jorge.

A hastag #boanoitecarille foi a mais divulgada no twitter ontem.

No mundo todo!

Voltou como a grande estrela do Corinthians em 2019.

Mais do que suas declarações comedidas, seu sorriso estampava a volta ainda mais por cima. Profissional que, em um ano e meio, conseguiu dois títulos paulistas e um Brasileiro com um time competitivo apenas.

Fábio Carille assistiu também duas dezenas de jornalistas aos seus pés, implorando uma entrevista no aeroporto.

Seu ego foi massageado.

Mas ele já estava reluzindo, depois que acompanhou Andrés Sanchez ter de implorar a sua volta ao Parque São Jorge. Justo o presidente que não se importou, quando avisou que tinha recebido uma proposta concreta do Al Wehda. Tudo que ele queria era o reconhecimento pelo excepcional trabalho no Corinthians. Mais até do que o aumento.

Tudo que recebeu foi um 'boa sorte'.

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Andrés apostou tudo no auxiliar Osmar Loss e viu o fracasso, o erro de sua escolha. Tentou consertar com Jair Ventura e a situação ficou pior, com o clube flertando com a Segunda Divisão.

Andrés fez o Corinthians perder dinheiro.

Teve de pagar R$ 2,9 milhões pela liberação do treinador aos árabes.

O salário de Carille que era R$ 300 mil quando estava no Corinthians, em maio, saltou para R$ 600 mil. Na época, bastaria pagar R$ 450 mil que o técnico ficaria.

E Carille sabe que a situação financeira segue complicada, por conta da dívida praticamente insolúvel do Itaquerão, que já passou dos R$ 2 bilhões.

A única estrela no Parque São Jorge será ele.

"Temos de ser muito realistas com a situação do clube de não buscar estrelas, grandes jogadores, mas sim jogadores com perfil de Corinthians. 

"Ramiro é um deles, faz várias funções, tem transição defensiva e ofensiva muito boa, 250 jogos com a camisa do Grêmio. Esse perfil estamos buscando para fazer um Corinthians bem forte."

Embora glamurizado, Carille garante que vai trabalhar da única maneira que aprendeu, sendo sete anos auxiliar no Parque São Jorge, decorando os métodos de Tite e de Mano Menezes, os que mais respeita.

"Sou o mesmo de sempre. Não vou fazer nada de diferente, trabalhar muito, ficar 10, 12 horas no CT para deixar tudo organizado. Ciente de que a responsabilidade é bem maior", deixou escapar.

Ele sabe que a responsabilidade é muitas vezes maior porque ele volta com o status de técnico no mercado que mais conhece o Corinthians. Seria impossível tirar Tite da Seleção. E Andrés tem péssimo relacionamento com Mano Menezes, embora os dois neguem publicamente.

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Carille acompanhava da Arábia Saudita tudo o que acontecia no Corinthians. O triste desmanche da equipe campeã brasileira de 2017. As péssimas escolhas de jogadores, que deixaram o time apático, sem vibração, sem entrega, sem DNA ofensivo. Daí o prejuízo enorme que é ficar fora da Libertadores de 2019, além da coleção de derrotas em campo.

Por sua orientação, o clube já contratou o lateral-direito Michel Macedo, ex-Las Palmas, os volantes Ramiro, ex-Grêmio, e Richard, ex-Fluminense, e os atacantes Gustavo Silva, ex-garoto prodígio, conhecido por Mosquito, ex-Coritiba, e André Luis, ex-Ponte Preta.

Ele faz questão da chegada do veterano zagueiro Leandro Castán. O Vasco está exigindo uma compensação financeira. O meia equatoriano Junior Sonorza, que jogou a temporada no Fluminense, deve ser anunciado já nesta segunda-feira.

Aliás, amanhã, Carille encontrará Andrés Sanchez, o homem que o desprezou e, seis meses depois, o traz a peso de ouro. Os dois vão elaborar a lista de atletas que não ficarão no Corinthians em 2019. 

A reformulação será profunda.

O Corinthians dos últimos seis meses foi vergonhoso.

Perdeu o rumo sem ele.

O treinador sabe da enorme responsabilidade que tem.

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Só que sabe que há uma base.

Cássio, Fagner, Jadson serão fundamentais na reestruturação.

Mas agora está respaldado pelo homem que manda no Corinthians há 11 anos.

Andrés Sanchez descobriu da pior maneira a importância de um técnico.

E Carille percebeu pelo tratamento da torcida.

Sua palavra será lei no Parque São Jorge.

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Inteligente, sabe que o grande rival Palmeiras não vai priorizar o Paulista, por conta da briga com a Federação e pela Libertadores, o complicado São Paulo tentará sobreviver à pré-Libertadores e o Santos deverá estar buscando a adaptação com Jorge Sampaoli.

Os times interioranos são fracos, limitados demais.

O tricampeonato paulista é muito possível.

E será sua primeira grande aposta.

Depois, a busca para a classificação para a Libertadores de 2020.

Existem pessoas que precisam perder para valorizar.

Andrés Sanchez é uma delas.

E quem pagou a conta é o Sport Club Corinthians Paulista.

Ele deveria ser o primeiro a cantar, aliviado, no aeroporto.

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"O professor voltou..."

Mas não teve coragem de ir até Cumbica.

E constatar o bizarro erro que cometeu.

O desprezo a Carille custou caro demais...

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