Carille detalha. Mostra porque a Globo quer se livrar dos Estaduais
Depois do frustrante 0 a 0 contra o Santos no Itaquerão, Carille assume o que ninguém quer falar. "O campeonato não está legal." O Paulista está péssimo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"O campeonato não está legal.
Se o Palmeiras tivesse mais tempo poderia fazer melhores jogos.
O Santos não fez um jogo legal contra o Palmeiras, não fez hoje e tomou de cinco do Ituano.
O São Paulo também. Enfim, isso não serve só para o Corinthians.
Pegamos equipes do interior que vem treinando desde novembro, como teve algumas equipes.
O espetáculo, de uma forma geral, para os grandes, passa pelo calendário."
Esta foi a declaração mais importante e lúcida depois do 0 a 0 entre Corinthians e Santos, no Itaquerão.
Fábio Carille teve coragem de falar o que todos sabem, mas não verbalizam.
Está sendo mais um Campeonato Paulista de péssimo nível técnico.
Diante da importância da Libertadores da América, do dinheiro da Copa do Brasil, da tradição do Campeonato Brasileiro, os Estaduais para os 12 clubes grandes do futebol deste país perderam a razão de ser.
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Até a ainda dona do monopólio do futebol neste país, a TV Globo, já percebeu que a competição está sendo um veneno para a sua programação. Tanto que aboliu os jogos dos Estaduais nas quartas-feiras de janeiro. Preferiu passar filmes. Só colocou em fevereiro por conta da Copa Sul-Americana, cujos jogos são transmitidos pela Rede TV!
O clássico entre Corinthians e Santos teve média de 23 pontos.
A partida foi movimentada, mas não o suficiente para que os times marcassem pelo menos um gol.
Os jogos pelo Carioca, Mineiro, Gaúcho seguem também decepcionantes.
Os clubes pagam pelas férias diminuídas e as pré-temporadas, fundamentais em qualquer lugar do mundo, sabotadas por imposição da CBF.
Em off, dirigentes das grandes equipe do país estão cada vez mais incomodados com os Estaduais. Mas não têm escapatória. Eles são a grande atração no ano para presidentes de Federações que sustentam o presidente da CBF.
Empresários brincam com a insignificância dos torneios.
E irônicos, batizaram clubes de 'sonrisais'. Comparam as equipes formadas apenas para a disputa dos estaduais como antiácidos e analgésicos efervecentes,que se desmancham após a competição de três meses.
Os Estaduais cada vez menos revelam jogadores importantes, como acontecia no passado.
Os agentes e empresários já costumam ter os atletas com potencial desde os 13, 14 anos.
E ou os colocam no Exterior ou nas grandes equipes do país.
As prefeituras não têm mais interesse em manter clubes durante o ano todo.
Prefeitos sabem que holofotes existem apenas nos primeiros meses da temporada.
Por isso empresários ganham livre acesso para mostrar seus jogadores.
E depois rachar o lucro de futuras vendas, se acontecerem com os clubes.
O cenário dos grandes em São Paulo no Paulista é desanimador.
O rico Palmeiras fazendo um rodízio incessante, para não desgastar seus atletas para a Libertadores. Por isso, equipes sem conjunto são vistas usando a camisa verde e jogando mal.
Felipão sabe que o torneio atrapalha a Libertadores. Daí o seu mal humor em cada partida do Paulista.
O São Paulo já foi eliminado da pré-Libertadores, mas segue sem rumo. Com elenco muito fraco, treinador rebaixado, esperando Cuca assumir em abril ou maio.
O Corinthians está montando a equipe. E priorizando a Sul-Americana e Copa do Brasil.
O Santos tem o argentino Jorge Sampaoli fazendo do Paulista de pré-temporada, de conhecer o elenco e o futebol brasileiro.
As equipes grandes são obrigadas a disputar o torneio.
E, por pressão da Globo, de colocar jogadores importantes em campo.
Os clubes interioranos, que começaram a treinar desde novembro para a competição, começam a perder a vantagem física em relação aos grandes.
O nível técnico segue baixíssimo.
O público é interessante por conta dos ingressos muito mais baratos do que, por exemplo, a Libertadores.
Há várias promoções, até com posto de gasolina, de desconto nas entradas.
A Federação Paulista, a mais rica do país, segue economizando onde não deveria.
Apenas nas quartas-de-final haverá árbitro de vídeo.
E erros seguem acontecendo, deixando o torneio pior ainda.
Os jogadores e técnicos sabem que não podem criticar o torneio.
Em 2018, o presidente do Palmeiras, Mauricio Galiotte, desprezou a competição.
"Digo ao torcedor palmeirense: ‘Esqueçam esse Paulistinha’. Palmeiras é maior do que um paulistinha, vai brigar por coisas grandes, temos todo nosso planejamento, nossos objetivos."
Galiotte foi suspenso em 45 dias e o Palmeiras multado em R$ 10 mil por suas declarações.
Por isso, os treinadores e jogadores seguem cautelosos para falar do torneio.
Carille foi no máximo permitido.
"O campeonato não está legal."
Mas quem ele sabe que é muito pior.
Os Estaduais estão cada vez mais fracos.
Os de 2019 são péssimos.
O homem que domina o Athletico Paranaense, Mário Celso Petraglia, declarou à rádio Transamérica que a emissora não vai mais renovar com os Estaduais.
"Em 2020, a Globo não comprará nenhum Estadual.
Ela não quer mais.
Quer antecipar o calendário para fevereiro", disse para a rádio Transamérica, em novembro de 2018.
O contrato com a emissora com os principais Estaduais do país Paulista, o Carioca, o Mineiro e o Gaúcho terminam em 2021.
As Federações buscam a renovação antecipada.
A emissora carioca não aceita.
A situação é complicada.
Porque o baixo nível do futebol brasileiro e o excesso de partidas desinteressantes afasta a audiência. Deixa cada vez mais difícil atrair patrocinadores.
Lembrando que a Seleção também coleciona desencantos.
Não é campeã do mundo desde 2002.
São quatro Copas frustrantes.
Inclusive uma disputada aqui.
A dos 7 a 1 para a Alemanha.
A audiência do futebol na tevê aberta neste país caiu 22% nos ultimos dez anos.
Com Paulistinhas, Carioquinhas, Mineirinhos, Gauchinhos não melhorará.
Pelo contrário.
A tendência é cair mais ainda...
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