‘Campeão mundial me assediou. Eu tinha 16 anos e trabalhava como jornalista. A mulher no futebol ainda é vista como objeto.’ Alicia Klein
Em entrevista visceral, Alicia Klein revela o que viveu até se tornar uma das vozes femininas mais importantes deste país. ‘Foi um caminho muito difícil’

Suas palavras escritas ou ditas têm efeito devastador, para quem a escuta. Embora de classe média, muito culta, de personalidade forte, não foi páreo para o machismo no futebol, no início dos anos 2000. Jogadores do Corinthians não a respeitaram quando iniciou sua carreira no jornalismo.
“Era covardia, eu com 16 anos, querendo entrevistas para o blog do Corinthians, e atleta que foi campeão do mundo me tocando, me pressionando para sair com ele. Era uma postura que ele achava normal. Fiquei com pânico de ir trabalhar. Até que um dia, tive uma crise de ansiedade e abandonei o trabalho.’
Ela não tinha nem o apoio dos jornalistas homens, na época, que desqualificavam o trabalho de mulheres no futebol.
“Foi muito duro. Não sei como muitas mulheres seguiram trabalhando naquele ambiente machista, tóxico.
”Eu não suportei", confessa Alicia Klein.
Mudou de vida, de país. Fez curso de gestão esportiva, em Washington.
Passou a ser o braço direito do inglês bicampeão olímpico, nos 1.500 metros, Sebastian Coe. Ele era o presidente da IAAF, Associação Internacional de Federações de Atletismo. O trabalho e, principalmente, as viagens eram estressantes.
“Tive burnout, ou seja, desgaste psicológico de tanto trabalhar. Só chorava.“
Assim que o Brasil conseguiu o direito de sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada, resolveu dar outra reviravolta na sua vida. Acabou o casamento e voltou ao país.
Acompanhou de dentro a organização dos dois eventos.
Viu o desperdício, como os políticos se aproveitaram da Copa e da Olimpíada e não sobrou quase nada para o país. A não ser estádios que são elefantes brancos e centros olímpicos espalhados pelo Brasil, que nunca saíram do papel.
Com sua visão diferenciada, inteligência, textos diretos ou irônicos, mas repletos e coragem e conteúdo, cativaram uma legião de leitores, como parte de sua revolução particular. Além dos seus depoimentos, diante das câmeras.
“Voltei para escrever, falar sobre futebol, que era o meu sonho. O machismo, o preconceito ainda existem. Uma mulher com voz, em uma posição de poder, incomoda ainda muita gente. Mas quem mudou de verdade fui eu. Sou agora uma mulher forte, não uma menina, pressionada por covardes. Eles que tentem alguma coisa.’
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Alicia é exemplo de talento, de defesa dos direitos das mulheres no futebol, na vida. Sem ser panfletária.
“Sou firme porque ainda sofremos no futebol, no jornalismo esportivo, todo tipo de abuso. E preciso lutar contra a desigualdade. Hoje nas redações, as mulheres são só 20% no futebol por quê? “Minha luta ainda está longe de acabar. Mas há luz no final do túnel. E vou brigar por esta luz.”
Não duvide de Alicia Klein...
A visceral entrevista de Alicia está completa no Canal Cosme Rímoli, no youtube.
Há mais de 120 personagens ligados ao esporte deste país.
O canal é uma parceria com o R7.
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