‘Burro! Burro! Burro!’ Xingar Carpini vira rotina no Morumbi. Nova derrota. Mas diretoria ainda não pensa em demissão. Ele não pedirá para sair
O São Paulo perdeu na estreia do Brasileiro, para o Fortaleza, em pleno Morumbi, por 2 a 1. Time domina o primeiro tempo. Carpini faz mudanças na segunda etapa e facilita o jogo para o time do Nordeste. Quarta-feira será uma partida de ‘altíssimo risco’ para o técnico. Flamengo no Maracanã
Foi outra vez constrangedora a situação.
Boa parte dos mais de 35 mil torcedores repetindo um coro repetido.
“Burro! Burro! Burro!”
Eles xingavam outra vez Thiago Carpini, após a derrota na estreia do Brasileiro de 2024.
2 a 1 para o Fortaleza, em pleno Morumbi.
Após a partida, o treinador recebeu apoio do presidente Julio Casares, de que continuará seu trabalho.
Ele também não pedirá demissão.
Repete que são apenas 17 partidas e que não concorda com o imediatismo, a cobrança por sua demissão.
E diz não se revoltar com o xingamento dos torcedores são paulinos.
Garante que ‘entende’ a situação.
Talvez porque o clube foi eliminado do Paulista nas quartas, pelo Novorizontino, no Morumbi. Estreou com derrota na Libertadores, para o Talleres. E sofreu demais para vencer o Cobresal, último colocado do Campeonato Chileno, também no estádio do São Paulo. E, ontem, a frustração diante do Fortaleza.
“É difícil nesse momento pedir paciência para o torcedor do São Paulo. Um torcedor que faz uma festa linda no Morumbi. Hoje mais de 35 mil pessoas. Fantástico. A gente fica cada vez mais chateado por não dar a resposta que gostaríamos. O torcedor ir feliz para casa, a gente estrear bem no Brasileiro, manter o nível de jogo para sair com resultado melhor. Entendo a chateação. Seguimos trabalhando, um pouco de paciência, por mais que seja difícil.
A única mudança, que é significativa, foi Carpini repassar, sutilmente a derrota para as decisões de seus jogadores.
“Caímos no segundo tempo, de produção e nível de concentração e atenção.
“No primeiro gol, tínhamos superioridade. São erros recorrentes, algo que me incomoda muito. Se incomoda o torcedor, imagina eu e os atletas, porque a gente trabalha em cima disso, colocamos vídeos para não ter os mesmos erros e acontece às vezes desta maneira. E o segundo gol é total desequilíbrio, um fator que temos de trabalhar melhor, não tem como com uma linha de três bem postada, sem sofrer no primeiro tempo, a primeira finalização do Fortaleza foi gol. Não tem por que se lançar para buscar o empate de qualquer maneira. Como falo para eles, de maneira organizada, competindo. Mas tem algumas coisas que fogem do controle, o ímpeto do atleta. E não acho ruim, mostra a gana de tentar vencer pelo São Paulo. Mas precisamos de mais equilíbrio nestas situações, não podemos estar tão expostos.”
Mas quem é o responsável por passar confiança, tranquilidade, visão tática, de jogo para os atletas?
Sim, o próprio Carpini.
Igor Vinícius e Michel Araújo eram dois protagonistas, estavam jogando muito bem, ontem.
Mas foram substituídos.
De novo, o técnico repassou a ‘culpa’.
“Michel e Igor pediram a substituição.
“Não iria abrir mão de um deles, porque dependendo do desenhar da partida minha ideia era voltar a uma linha de quatro se houvesse necessidade. Mas como o Michel pediu e há cinco ou seis meses não fazia 90 minutos e fez dois jogos em sequência, e o Igor sentiu um pouco de cansaço, pesou e pediu a troca. E aí ficamos com imagens do último jogo de trocas que funcionaram, do Erick que entrou bem hoje novamente, o próprio William teve mais uma oportunidade.
“E no esquema com três zagueiros, não necessariamente a gente poderia colocar outro lateral de ofício, no lado direito não tínhamos. E queríamos manter o time mais ofensivo, uma pena que no momento da troca a gente sofra o gol. São escolhas que temos de fazer naquele momento.”
O treinador deixou ainda mais claro que a responsabilidade da derrota não é ‘só' dele.
Era óbvio que se referia às escolhas dos seus jogadores nos lances decisivos.
“Ficamos incomodados porque os erros acontecem de forma recorrente. Isto tem nos incomodado. O fato de a mudança ter acontecido e ter sofrido o gol, não atribuo à minha escolha, respeito a opinião de todos vocês. Na origem do cruzamento e onde é a finalização, em todos os setores temos superioridade numérica. E aí é um pouco da tomada de decisão ser melhor, como foi no primeiro tempo. Talvez tenha atrapalhado um pouco. Já o segundo gol dispensa comentários, foram falhas generalizadas que temos de ajustar. Foram situações coletivas.”
Com o apoio que recebeu da direção, Carpini estava até sereno na coletiva.
E surpreendeu na resposta de como se sentiu, diante da revolta da torcida.
Do coro que insiste em acompanhá-lo.
O de ‘burro! burro! burro!’
“Essa pressão, esse ônus, faz parte da profissão de treinador. Faz parte dos desafios, mas os bons momentos voltam.”
Por falar em desafios, a sequência no Brasileiro é muito pesada.
Terá o Flamengo, na quarta, no Rio de Janeiro.
E, no próximo domingo, o Atlético Goianiense, em Goiás.
Carpini sabe que não pode perder os dois jogos.
Precisa pontuar.
Casares está sendo pressionado.
Pelas organizadas e por conselheiros responsáveis por ter chegado à presidência.
O presidente não quer trocar de técnico.
Mas o time precisa reagir.
Segue instável, jogando mal nos momentos decisivos.
Este é o primeiro Brasileiro de Série A, que Carpini trabalha.
Assim como é a primeira Libertadores da América.
O preço da inexperiência costuma ser muito caro...