Briga de patrocinadores na hora da medalha. CBF defendeu Nike
O agasalho na cintura foi ordem da CBF, de acordo com os jogadores. Para que o futebol brasileiro, há 26 anos com a Nike, não cedesse imagem à chinesa fabricante de material esportivo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
São 26 anos de parceria.
E contrato até 2025, ou seja, mais quatro anos.
Serão, no mínimo, 30 anos.
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A relação da Nike com a CBF é muito profunda.
Ela tomou o patrocínio da Seleção Brasileira da Umbro, em 1996. Que havia tirado da Topper, em 1991. Que havia derrubado a Adidas, em 1981. Que havia acabado com o amadorismo da Athleta em 1977. A Athleta quase que artesanalmente fez as camisas da Seleção entre 1954 e 1977.
Na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, a Nike patrocinava o Comitê Olímpico Brasileiro. Então não houve problema algum quando a Seleção conseguiu a conquista da primeira medalha de ouro de sua história, no Maracanã.
No pódio, todos com o agasalho da patrocinadora norte-americana.
Na Olimpíada de Tóquio, a chinesa Peak fechou acordo com o Comitê Olímpico Brasileiro.
Das 29 modalidades que o país enviou para o Japão, 22 usaram seus patrocinadores para disputarem suas competições. Como o futebol, como a Nike.
Os 301 atletas deveriam usar o uniforme Peak obrigatoriamente na Vila Olímpica, viagens, nas cerimônias de abertura e encerramento.
O maior holofote, lógico, seria no pódio. Daí todos os brasileiros em Tóquio teriam de colocar calça e agasalho da marca chinesa. No peito, do lado esquerdo, uma bandeira brasileira. Do lado direito, o logotipo da Peak.
A notícia chegou à CBF. O coordenador das Seleções de Base, o ex-jogador Branco, tinha plena consciência dessa obrigação. E também chegou à Nike.
No balanço de 2020 da CBF, nada menos do que R$ 365.208.000,00 são de patrocínios. 55% dos R$ 665 milhões que a entidade arrecadou no ano passado.
Ninguém confirma, mas o contrato, por temporada, chegaria à cerca de R$ 150 milhões.
Mesmo em plena disputa jurídica pela presidência da CBF, está acontecendo a negociação para renovação com a Nike antecipada para, pelo menos, 2030.
Daí não ser nada interessante o futebol do país mostrar a marca Peak, que não dá um centavo à CBF, na entrega da medalha de ouro ao futebol, ontem.
A decisão da cúpula da entidade chegou aos vestiário.
A Branco, que obedece ordens.
E repassada aos jogadores, que confirmaram, em off, aos jornalistas no Japão, que a ordem veio da CBF.
Todos deveriam colocar o agasalho, que exibia o logotipo Peak, na cintura. E exibir ao mundo o logotipo da Nike, que estava na camisa dos atletas.
A CBF não teve a menor preocupação se, por contrato, o Comitê Olímpico Brasileiro pode ser multado, processado ou ter o seu contrato com a empresa chinesa rompido.
E até prejudicar atletas de outras categorias, muito menos abastadas.
O COB divulgou uma nota de repúdio pela atitude dos jogadores de futebol ao receberem a medalha de ouro.
"O Comitê Olímpico do Brasil repudia a atitude da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e dos jogadores da seleção de futebol durante a cerimônia de premiação do torneio masculino. No momento, as energias do Comitê estão totalmente voltadas para a manutenção dos trabalhos que resultaram na melhor participação brasileira na História das Olimpíadas. Por este motivo, apenas após o encerramento dos Jogos o COB tornará públicas as medidas que serão tomadas para preservar os direitos do Movimento Olímpico, dos demais atletas e dos nossos patrocinadores."
Ninguém do futebol acredita em medidas severas do COB.
O que importa para a CBF é renovar, seguir com a Nike.
Com a velha parceira de 26 anos.
E que tem 30 anos garantidos.
O foco da CBF é com o dinheiro da empresa norte-americana.
E ponto final...
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