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Cosme Rímoli - Blogs

Atlético, Santos, Vasco, Athletico, Flu. Endividados imitam Cruzeiro e Botafogo: buscam donos. Só Palmeiras é contra

A compra do Cruzeiro, por Ronaldo, e do Botafogo, por investidor americano, fez grandes clubes brasileiros decidirem. Querem vender o controle do futebol. E buscam investidores. Vitória do capitalismo

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Ronaldo comprou 90% do Cruzeiro. Grandes clubes do futebol do Brasil vão virar empresas
Ronaldo comprou 90% do Cruzeiro. Grandes clubes do futebol do Brasil vão virar empresas

São Paulo, Brasil

Cavani, Jorge Jesus, Suárez, Di Maria...

Não, nenhum dos quatro se compara, no futebol brasileiro, como objeto de desejo, a uma reunião na avenida Chedid Javet, 75, Torre Sul, na Vila Olímpia, em São Paulo.

É uma das sedes principais da corretora XP Investimentos.


Foi a empresa que primeiro percebeu o volume de dinheiro aberto quando o presidente Jair Bolsonaro sancionou, no dia 9 de agosto deste ano, a criação da Sociedade Anônima do Futebol.

Ou seja, autorizou que os clubes se transformassem em empresas, com direito a donos.


Como contrapartida, o governo exige dos clubes que optarem pelo SAF que paguem, em um prazo de seis anos, prorrogáveis por mais quatro (dez anos, na prática), todas as dívidas.

A direção da XP acompanhava de perto a movimentação no futebol. Assim como os clubes com dívidas bilionárias, insolúveis. Não foi por acaso que o Cruzeiro e o Botafogo foram os primeiros a vender 90% de suas ações a Ronaldo e ao empresário americano John Textor.


Com cada um deles aportando R$ 400 milhões nesses clubes com dívidas bilionárias. A do Cruzeiro chega a R$ 1,2 bilhão. A do Botafogo, a R$ 1,1 bilhão.

Se fossem empresas "normais", e não "associações sem fins lucrativos", os dois clubes já teriam falido. Fechado as portas. Mas foram protegidos pela lei, como todas as grandes equipes do país. Essa proteção vem desde o governo Getúlio Vargas, na década de 40, quando o futebol começou a ser usado politicamente. Descobriu-se que cada torcedor é um eleitor.

A XP levou os investidores aos dois clubes. Com direito óbvio a uma porcentagem.

A publicidade espontânea que a corretora paulista ganhou há oito dias foi absurda.

Mas também despertou a procura ansiosa de outros clubes em situações econômicas dificílimas.

O blog apurou que diretorias de equipes importantes do país estão discutindo a possibilidade de adotarem a Sociedade Anônima do Futebol.

O campeão do Brasil em 2021. Tem um elenco milionário. Mas dívida bilionária. Vai virar SAF
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Atlético Mineiro, dívidas de R$ 1,1 bilhão; Santos, dívidas de R$ 600 milhões; Vasco, dívidas de R$ 800 milhões; Fluminense, dívidas de R$ 700 milhões; Bahia, dívidas de R$ 290 milhões; América Mineiro, dívidas de R$ 80 milhões.

O São Paulo, com dívidas de quase R$ 700 milhões, analisará se aceitará um investidor comprando o controle do clube ou não. Há pressão tanto da situação como da oposição para que a diretoria acabe cedendo.

O Athletico Paranaense já aprovou a transformação do clube em empresa e busca investidores. Suas dívidas chegam a pouco mais de R$ 120 milhões.

"O Athletico será a noiva mais bonita do Brasil", ironizou Mario Celso Petraglia, homem que comanda o clube. Ou seja, será a equipe mais atraente para investimentos.

O clube tem ainda uma pendência importante a ser resolvida. R$ 490 milhões em relação à Arena da Baixada. A questão se arrasta desde antes da Copa do Mundo de 2014.

O Coritiba, com dívidas de mais de R$ 300 milhões, aprovou hoje a transformação em SAF. E já começou a busca de investidores.

A direção do Corinthians, com sua dívida de R$ 1 bilhão por conta do estádio, analisa com cuidado se adere ou não à SAF. Há muita preocupação dos dirigentes em perder a autonomia do futebol do clube.

Duilio está dividido. Seu grupo político não quer perder poder. Mas dívida pressiona
Duilio está dividido. Seu grupo político não quer perder poder. Mas dívida pressiona

Está muito claro para o presidente Duilio Monteiro Alves que os novos donos dos clubes brasileiros têm como objetivo lucrar. Se o clube for vendido, a participação efetiva de grupos políticos históricos e até das torcidas organizadas estará tolhida.

A atual direção do Flamengo, por enquanto, também rejeita a SAF. Mesmo com dívidas de R$ 350 milhões.

Mesmo com o Grêmio rebaixado e com dívidas de R$ 300 milhões, a direção do clube segue dividida em relação à SAF. O Internacional, com mais de R$ 600 milhões em dívidas, está mais propenso a aceitar a participação de um investidor.

A única direção de clube grande a não aceitar de jeito algum a SAF é o Palmeiras.

"Sou totalmente contra a transformação do Palmeiras em empresa. Enquanto eu for presidente, esse assunto pode até ser debatido, mas sou contra a transformação do Palmeiras em empresa."

As palavras são da presidente Leila Pereira.

O Palmeiras deve atualmente cerca de R$ 500 milhões.

Leila Pereira, mandato até 2024, garante: "Palmeiras não terá dono"
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Enquanto isso, o pequeno Athletic, de São João del Rey, de Minas Gerais, virou clube-empresa, há cinco dias. Vendeu 49% de participação do controle do futebol à V2 Participações, dos empresários Vinícius Diniz e Victor Felipe Oliveira.

O futebol brasileiro vive uma revolução por conta da SAF.

Com planos de seguir o modelo inglês, da Premier League.

Com a formação de uma liga a sério em 2022.

Primeiro, os clubes querem se livrar de dívidas que pareciam eternas.

Resultado de incompetência, irresponsabilidade e até corrupção, ao longo de décadas.

Neste fim de 2021, a busca maior não é por reforços, jogadores importantes, pensando em 2022.

Mas por investidores bilionários que comprem o controle dos clubes.

Principalmente do futebol.

Daí o agendamento com a X, e outras corretoras que acordaram para o negócio, ter virado o grande desejo dos dirigentes do futebol deste país.

Os clubes estão virando empresas, com donos.

Não há mais volta.

É a vitória da modernidade.

Do capitalismo selvagem...

Com fortuna de R$ 115 bi, o jogador mais rico do mundo está sem clube

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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