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Cosme Rímoli - Blogs

Ataque de Fernando Diniz sabotou a carreira de Tchê Tchê. Atingiu até a família do jogador. Reencontro ‘forçado’ no Vasco é constrangedor

Os gritos, os palavrões, o desrespeito público do técnico aconteceu no dia 6 de janeiro de 2021. Diante das câmeras de tevê, Diniz xingou, humilhou Tchê Tchê. O jogador ficou rotulado, marcado. O episódio teve sérias consequências, atrapalhou sua carreira. Agora, o reencontro

Cosme Rímoli|Cosme RímoliOpens in new window

A diretoria do São Paulo tentou abafar o caso. Mas foi impossível. O desrespeito de Fernando Diniz sabotou o ambiente com os outros jogadores, que ficaram solidários a Tchê Tchê São Paulo

Fernando Diniz se formou psicólogo em 2012.

A faculdade? São Marcos, em São Paulo.

O seu Trabalho de Conclusão de Curso, TCC, foi simbólico.

“A importância da liderança do técnico em uma equipe de futebol.”


Ou seja, nove anos depois, ele deveria estar mais do que preparado para exercer o que não só estudou.

Mas defendeu: como um treinador tem de agir para ser líder de um time.


Só que foi fácil escrever e não cumprir.

Na noite de 6 de janeiro de 2021, o São Paulo, que chegou a sonhar com o título brasileiro de 2020, estava despencando no torneio.


O Bragantino não só venceu, humilhou o time então comandado por Fernando Diniz.

4 a 2, em Bragança Paulista.

Foi nesta partida que o mundo do futebol acompanhou, estarrecido, o ataque de Diniz a Tchê Tchê.

“Tem que jogar, cara...!

“Seu ingrato do cara...!

“Seu perninha do cara…!

“Mascaradinho, vai se f...!”

Foi surreal.

O jogador assustado, constrangido, não respondeu, apenas abaixou a cabeça.

Os demais atletas do São Paulo ficaram ao lado de Tchê Tchê.

O ambiente havia implodido de vez.

Foi um dos piores ataques de um treinador registrado no Brasil. Jogadores ficaram do lado de Tchê Tchê Reprodução/Redes Sociais

A diretoria percebeu e menos de um mês depois, no dia 1 de fevereiro, Diniz foi mandado embora.

Mas além dos palavrões, o que motivou o treinador a chamar Tchê Tchê de ‘ingrato’?

Simples, os dois trabalharam juntos, entre 2013 e 2014, no Audax.

E Diniz ‘ensinou’ ao versátil jogador como ele poderia render mais, fazendo várias funções em campo.

Só que isso não dava o direito à humilhação pública.

Pessoas que trabalharam por dois anos com Tchê Tchê no Palmeiras conheciam a sua personalidade.

Ele é o tipo de atleta que rende muito mais quando se sente apoiado, valorizado, jamais humilhado publicamente.

Diniz deveria saber.

As consequências foram péssimas.

A começar pela família, que conhecia e sempre teve o treinador como um dos responsáveis pelo sucesso de Tchê Tchê.

A mágoa foi enorme e ficou.”

“Só eu e minha família sabemos o que temos passado nos últimos tempos”, deixou escapar o jogador, ainda em 2021. Ele detesta tocar no episódio.

Por quê?

Porque ele ficou marcado, de maneira injusta, como um atleta disperso, que não colabora com o time, individualista.

Acabou emprestado, três meses depois dos palavrões de Diniz, ao Atlético Mineiro.

Seu futebol jamais foi o mesmo, por exemplo, do Palmeiras.

Ele perdeu grande parte da confiança, da ousadia que mostrava.

Desvalorizado, acabou no Botafogo, comprado por R$ 5 milhões.

Quantia irrisória, para quem foi comprado pelo Dínamo de Kiev, por R$ 31 milhões, ao deixar o Palestra Itália.

Tchê Tchê não teve seu contrato renovado em 2024 pelo campeão brasileiro e da Libertadores, onde era um mero reserva.

Foi ‘de graça’ para o Vasco, no início deste ano.

Para ser treinado por Fábio Carille, que ficou animado com sua contratação.

Jamais imaginaria que, cinco meses depois, voltaria às ‘mãos’ de Fernando Diniz.

Aos 32 anos, Tchê Tchê sabe tudo o que sofreu nestes quatro anos.

Como sua carreira regrediu.

Tchê Tchê jamais foi o mesmo jogador depois do ataque público de Diniz. Chegou 'de graça' ao Vasco Vasco da Gama

Fernando Diniz ganhou a Libertadores, o Carioca e a Recopa pelo Fluminense.

Mas acumula demissões, desde o ataque de palavrões contra o Bragantino.

Ficou também marcado pelo descontrole emocional.

Passou sem sucesso pelo Santos, o mesmo Vasco e Cruzeiro.

Antes de ir para Belo Horizonte, foi interino da Seleção.

Seis jogos bastaram para ser despachado.

O Fluminense também não o quis mais, por ser ‘escravo’ de apenas um sistema tático.

Estava desempregado, após apenas 20 partidas pelo Cruzeiro.

O presidente do Vasco, e ex-jogador, Pedrinho, decidiu contratá-lo.

Foi buscar o técnico mais ofensivo do país para comandar um grupo montado pelo treinador da elite mais defensivo do Brasil.

Não bastasse essa enorme contradição, há Tchê Tchê.

O jogador tem contrato até o final de 2026.

O anúncio de Diniz trouxe constrangimento para o jogador, que foi obrigado a reviver a maior vergonha que passou na carreira.

E que mudou sua vida.

Psicologicamente, ele já havia superado um drama.

Seu filho recém-nascido teve sérios problemas de saúde.

Ele foi dispensado do clube para ajudar na recuperação da criança.

Voltou e seguiu atuando mal.

Como na vergonhosa goleada para o venezuelano Porto Cabello, por 4 a 1.

Diniz foi anunciado oficialmente ontem.

Hoje acompanhará a importante partida contra o Vitória, em Salvador.

Assume a equipe amanhã.

O clube carioca é 14º e seriamente ameaçado pelo rebaixamento.

Foi para isso que Fernando Diniz foi contratado.

E ele precisa, mais do que nunca, ter a confiança dos seus comandados.

Jogador nos tempos atuais não aceita ser humilhado.

Ofendeu um, ofendeu todos.

Que Diniz lembre do seu Trabalho de Conclusão de Curso de Psicologia.

E conserte a relação, que tanto mal fez à carreira de Tchê Tchê.

Para o bem dos dois.

E do Vasco da Gama...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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