As vitórias de Dorival. Mesmo ameaçado de perder o emprego para Tite, amanhã na eleição. E com inúmeros desfalques, fez o Corinthians acabar jejum e derrotar o Vasco, no Rio. Stabile comemora
Dorival Júnior mostrou muita convicção, firmeza, após a fundamental vitória de hoje, contra o Vasco. Depois de seis partidas sem vencer. E com a oposição prometendo trocá-lo por Tite, se vencer a eleição de amanhã para a presidência

Osni Fernando, apelido Cicatriz, ganhou notoriedade.
Ele foi o torcedor que jogou a cabeça de um porco no gramado de Neo Química Arena, em um clássico Corinthians e Palmeiras, em 2024.
Osni foi condenado na semana passada a um ano de prisão no regime semiaberto.
Mas enquanto recorre da sentença, ele segue acompanhando o time.
E hoje estava em frente ao hotel no Rio de Janeiro, quando o time se preparava para embarcar para a partida contra o Vasco.
Ao avistar Dorival Júnior, ele não perdoou.
“Ei, professor. Faz esses caras jogarem hoje, por favor.
“Se não, já pega a mala e vai embora."
O treinador olhou sério para Cicatriz e respondeu.
“Alguém vai no teu trabalho te criticar, rapaz?”
Osni retrucou.
“Nós é (sic) torcedor. Nós paga (sic) seu salário.”
Percebendo que Cicatriz e outros torcedores filmavam o singelo diálogo, Dorival se calou e foi para o ônibus, irritadíssimo.
Ele sabia muito bem que o momento era de muita tensão.
Nas últimas 11 partidas, o Corinthians só havia vencido uma. E precisava, vencer o Vasco, em pleno São Januário, para evitar grudar de vez na zona de rebaixamento.
E também tinha plena noção que depende da vitória, amanhã de Osmar Stábile, para seguir no comando do time, na eleição para a presidência. Se Roque Citadini ou André Castro, da ‘oposição’ vencerem, ele perde o emprego.
Aliados de Citadini garantem que ele trará de volta Tite. Os poucos apoiadores de Castro não sabem quem ele diz que contratará. Mas não está satisfeito com Dorival.
Dorival tinha convicção que teria de vencer também pelo executivo Fabinho Soldado, que o contratou. Ele também está na mira dos opositores.
Além disso há o transfer ban, calote que o Corinthians deu no Santos Laguna, de R$ 33 milhões, pelo pagamento de Felix Torres. Sem pagar o que deve, o clube segue impedido de contratar pela Fifa.
Dorival lastima a proibição, já que o elenco precisa muito de reforços, na sua avaliação. E Fabinho havia prometido quatro contratações importantes, quando o convenceu a trabalhar no Corinthians. Só teve Vitinho, ex-Flamengo. Outro três não vieram.
Sem Yuri Alberto, Carillo e Martínez operados, Memphis Depay, contundido, Hugo Farias se recuperando de operação, e com Garro só com condições para atuar 43 minutos, ele apelou para garotos. E coragem.
Gui Negão, Kayke, Bidon, Charles e Maycon tiveram atuações seguras como titulares.
O Corinthians não se dobrou, não ficou preso à marcação. Encarou o Vasco de Fernando Diniz, também desesperado por uma vitória.
E em jogo alucinante o Corinthians ganhou o duelo.
3 a 2. Três pontos importantíssimos.
Confiança recuperada para a primeira partida das quartas da Copa do Brasil, contra o Athletico Paranaense, em Curitiba, na próxima quarta-feira.

“Foi um jogo de superação acima de tudo. Nós estamos com número considerável de jogadores fora e, mesmo assim, todos eles muito preparados, entraram, cumpriram funções. Isso, para mim, é muito importante.
“Em um momento como este, em que precisamos de algumas decisões, alguns jogadores estão se apresentando muito bem, assumindo uma responsabilidade importante e criando possibilidade para que possamos trabalhar com novas situações. ”Até porque o campeonato ficará ainda mais complicado e difícil”, avisa Dorival Júnior.
O veterano treinador escolheu as palavras para evitar crítica a seus jogadores, nos dois gols evitáveis que o Corinthians tomou. Não se aprofundou no pênalti cometido por André Ramalho, ao tocar a mão na bola. Vegetti cobrou e marcou. E na revoltante atitude de Félix Torres, de andar, na marcação, possibilitando que Rayan.
Maycon, Gui Negão e Gustavo Henrique marcaram para o Corinthians.
Dorival pediu para a direção dois zagueiros e um lateral esquerdo. Mas o clube não comprar por conta do transfer ban.
Dorival Júnior aproveitou a vitória sobre Fernando Diniz, no confronto do ex-treinadores da Seleção Brasileira, para destacar. Para ele, o Corinthians está jogando bem. Só os pontos não correspondem à atuação do seu time.
“O Corinthians não é a segunda equipe do campeonato com posse de bola por um acaso. Para ter posse de bola, tem que ter organização, tem que ser uma equipe que tenha naturalmente um sistema e que desenvolva esse sistema em cima de uma possível organização. Isso o Corinthians apresenta. Estranho às vezes a nossa pontuação.”

Sobre as eleições de amanhã, Dorival fez questão de dizer que é isento.
“A partir do instante que nós percebemos que estava envolvendo e, de repente, interferindo no dia a dia no centro de treinamento, nós, com o Fabinho (Soldado) procuramos neutralizar todas as situações possíveis”, disse.
“Que aconteça o melhor pro Corinthians. Acho que isso que é importante. Teremos três candidatos. Que se defina aquilo que é melhor, e que o Corinthians acima de tudo tenha paz. Tenha paz pra gente poder trabalhar sem problemas.”
Mas ele sabe que só seguirá no cargo se Stabile vencer, o que parece ser muito mais do que provável.
Citadini, mesmo prometendo Tite, tem chances mínimas. Assim como André Castro e sua promessa, muito questionada, de R$ 5,5 bilhões ao clube.
Após a vitória, Dorival e Fabinho receberam ‘parabéns’ do atual presidente interino.
O triunfo veio em hora muito favorável à situação.
O clima no Parque São Jorge amanhã ficará mais leve.
299 conselheiros definirão o cargo de presidente.
E se Dorival seguirá empregado ou não...