As lágrimas de Deyverson. O último humilde no milionário Palmeiras
O jogador já estava procurando outro clube. A chegada de Felipão mudou sua vida. O pedido de desculpas após o gol contra o Vasco foi emocionante
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

São Paulo, Brasil
O lançamento de Lucas Lima foi espetacular.
Ele anteviu a movimentação de Hyoran.
O meia cabeceou pelo alto.
Encobriu Martín Silva.
A bola, caprichosa, bateu no travessão.
Procurou Deyverson.
A testada firme foi para as redes.
1 a 0 para o Palmeiras contra o Vasco.
Eram 15 minutos do segundo tempo.
Acabava o jejum de 17 partidas. Era o primeiro gol do atacante em 2018, em pleno dia 12 de agosto.
O jogador, que custou aos cofres palmeirenses R$ 18,5 milhões, aproveitou toda a atenção dos torcedores na arena e os encarou.
Juntou as mãos e abaixou a cabeça.
Em vez de festa, pedido de desculpas.
O jogador de 27 anos sabe que seus 13 meses de Palestra Itália foram de decepção. Foram apenas oito gols, com o de hoje, para um atleta que o ex-treinador e o executivo Alexandre Mattos apresentaram como um 'grande artilheiro'. Apesar de nunca ter atuado em qualquer equipe grande, desde que começou sua carreira no Mangaratibense.
Foi a compensação pela frustrada tentativa de contratação de Diego Souza.
Passou pelo Benfica B, Belelenses, Köln, Levante e Alavés.
Ele não rendeu com Cuca e com Roger Machado.
Teve atuações péssimas.
Acabou marcado pela torcida palmeirense.
Xingado, vaiado, humilhado.
Seu empresário português, Filipe Dias, estava procurando equipes para o jogador.
Só que tudo mudou com a chegada de Felipão.

O treinador adora atacante alto, desengonçado, que saiba cabecear, não tenha constrangimento em correr o tempo todo marcando a saída de bola adversária, que use o corpo para enfrentar zagueiros, abra espaço na força para os companheiros.
Não interessa se a técnica é pequena.
O importante está em se assumir como referência na área.
Estratégia que deu certo demais no Grêmio.
Com o esforçado Jardel.
Deyverson recebeu seu presente de Natal com a contratação de Felipão. Ele se dispôs a fazer tudo o que Jardel fazia no Grêmio e ainda mais. Dar a última gota de suor para justificar a inesperada chance de seguir no Palmeiras.
No Facebook, ele já insinuava o adeus.
Passou a treinar e jogar de maneira insana.
Não só ganhando mais preparo físico.
Passando a aprimorar finalizações.
Corrigir erros primários de posicionamento do corpo na hora de empurrar a bola para as redes.
Os companheiros de Palmeiras adoraram a postura de Felipão.
Deyverson é o jogador mais querido no elenco mais caro do país.
Alegre, humilde, engraçado, lembra outro ex-jogador, Dinei.
O titular da posição é Borja.
Mas Scolari quer Deyverson pronto.
Principalmente para mudar a postura, a atitude palmeirense. Quando a equipe estiver com mais dificuldades diante de um adversário retrancado e a técnica não estiver decidindo, Felipão ainda adora apelar para os cruzamentos na área. E o ex-jogador do Alavés é muito melhor pelo alto do que o colombiano.
Deyverson chora muito fácil.
Não consegue segurar a emoção.

As lágrimas escorreram dos seus olhos ao ser contratado pelo Palmeiras.
Era alegria pura de defender uma equipe grande no seu país.
Chorou a ser expulso contra o Bahia, pela Copa do Brasil.
E ao ver a bola ir para o fundo do gol do Vasco, novas lágrimas.
Seguiu emocionado até o final da partida.
Quando foi aplaudido, chorou de alegria.
A emoção voltou na entrevista ao justificar o pedido de desculpas.
Alegou ter sido uma fase ruim que foi embora.
Além da fissura no osso do pé direito.
Ele foi muito celebrado no vestiário.
Ganhou forte abraço de Felipão.
“Fico até sem palavras. Momento difícil que eu passei aqui, não estava num bom momento, graças a Deus e meus companheiros que me apoiaram sempre, estou muito feliz. Pude mostrar que eu nunca vou entrar em confronto com ninguém, recebi muitas críticas, mas isso é normal do torcedor, o torcedor é apaixonado.
"Eu sou um cara que sempre tenta levar pelo lado da alegria da felicidade, com o apoio dos meus companheiros e dos meus familiares. Lá fora eu cheguei a ficar sete meses sem jogar, e me perguntavam o porquê eu ficando rindo quando não jogava, e eu falava que diante da felicidade vem as oportunidades, e hoje graças a Deus eu consegui aproveitar a oportunidade e ajudar o Palmeiras conquistar os três pontos."
A vida do último humilde no milionário Palmeiras mudou...