Porto Alegre, Brasil
"É um momento especial e a gente tem que aproveitar. Digo isso no sentido de valorizar mais. Valorize! A gente pede tanto, pede apoio, mas a gente também precisa valorizar. A gente está sorrindo aqui e acho que é esse o primordial, ter que chorar no começo para sorrir no fim.
"Quando digo isso é querer mais, treinar mais, estar pronta para jogar 90 e mais 30 minutos e mais quantos minutos forem necessários. É isso que peço para as meninas.
"Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane. O futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Pensem nisso, valorizem mais. Chorem no começo para sorrir no fim."
Este foi o desabafo de Marta.
A seis vezes melhor jogadora do mundo tinha razão para estar emocionada.
Ela, Cristiane e Formiga devem ter disputado a última Copa do Mundo.
Formiga tem 41 anos. abandonou a aposentadoria para jogar a competição na França.
Cristiane tem 34 anos e já avisou oficialmente: não estará no Mundial de 2023.
Marta chegou a 33 anos e tem acumulado contusões, não tem a mesma velocidade, a mesma explosão muscular. A sua decadência técnica é evidente.
Afinal, é humana.
E seu desabafo, após a derrota contra a França, que eliminou o Brasil nas quartas-de final desta Copa do Mundo, foi um aviso não às suas companheiras, que fazem tudo o que podem pelo futebol feminino.
Mas para a CBF.
Ela tem um legítimo medo de que o investimento no futebol feminino seja travado, com mais essa frustração em campo.
Foi a primeira vez que as mulheres tiveram duas tevês abertas mostrando seus jogos.
E outra vez veio a derrota, a queda já nas quartas-de-final.
Passada a euforia provocada pela televisão, há a incerteza.
Por mais que os grandes times sejam obrigados a formarem equipes femininas, não há público, patrocinadores.
Os campeonatos seguem marginalizados.
Infelizmente, as mulheres precisavam de um resultado melhor.
Ficaram o choro, a frustração, a bola de Debinha que Bathy salvou em cima da linha.
Marta tem convicção sobre o que falou.
A CBF estava pressionada.
Conseguiu nove amistosos.
O time quase que jogou mais do que treinou.
Perdeu os últimos nove amistosos antes da Copa.
Ofereceu período de preparação em Portugal.
Mas por pouco tempo.
As contusões vieram, assim como cortes.
Preparadores físicos garantiram que fizeram o que puderam.
Se com tanta pressão externa foi assim, sem cobrança, Marta sabe muito bem do que a CBF é capaz.
InfelizmenVer todaste, o futebol feminino depende de talento individuais para tentar conquistar títulos e atrair a atenção da população.
E nesta Copa, o Brasil não foi só eliminado pela França.
Mas deve ter dado adeus a Marta, Formiga e Cristiane nos Mundiais.
A dura realidade já deve chegar na Olimpíada de 2020...