Arritmia. Arrascaeta. Pará. Sombra de português. Abel tinha de sair

São Paulo, Brasil

"O Abel é um técnico que já mostrou ao longo de sua carreira que é um técnico vencedor, cobrador, que é um técnico que tem vontade de ganhar e tem tudo aquilo que o Flamengo está precisando neste momento.

Temos um alinhamento muito grande de vontade, de interesses. A torcida pode ficar feliz, acho que os títulos vão chegar."

Essas foram as promessas do presidente Rodolfo Landim. Feitas para a imprensa, no dia 11 de dezembro de 2018.

Mas todo esse 'alinhamento' se esvaiu com os R$ 100 milhões de contratações que o Flamengo fez. Principalmente a mais cara da história do clube, R$ 55 milhões por Arrascaeta.

O técnico não pediu o jogador e nunca conseguiu que rendesse o que a diretoria esperava do uruguaio.

Entendeu, no entanto, que não o fizesse titular poderia perder o emprego em março.

Dois atletas que já estavam na Gávea serviram para também sabotar o trabalho do treinador. Willian Arão e Pará. Embora esforçados, a instabilidade das atuações dos dois atrapalharam demais o time.

Diego, aos 34 anos, também não é o meia efetivo que o clube precisa. Gabigol nunca teve a tranquilidade para jogar como mais rende: na direita, cortando com o pé esquerdo para o meio.

Na verdade, o caríssimo elenco nas mãos de Abel Braga foi uma enorme decepção.

Time espaçado, exposto para contragolpes, sem força ofensiva. Equipe que dependia muito mais do talento individual dos atletas do que o conjunto.

Lembrava times da década de 80, com jogadores fixos, como pebolim.

O técnico que humilhou Jô Soares durante um programa durante a Copa do Mundo, defendendo que treinadores brasileiros eram modernos e não deviam nada aos do Exterior, fez um péssimo trabalho.

Aos 66 anos, Abel era respeitado pelo passado. E a diretoria esperava que, o time engrenaria em algum momento. Os meses foram passado e nada. Mesmo o fraquíssimo e cada vez mais insignificante Campeonato Carioca não serviu de escudo.

Além da Flórida Cup, batizado de torneio Mickey pela torcida.

A princípio, Landim tentou defender o técnico. 

Mas tudo ruiu rapidamente.

Foi um sufoco a classificação do Flamengo na fase de grupo da Libertadores. A classificação às oitavas esteve seriamente ameaçada.

Na Copa do Brasil, o time também não desperta confiança, diante do Corinthians, mesmo tendo vencido o primeiro jogo no Itaquerão.

O treinador foi ficado cada vez mais isolado, mais arredio, mais tenso.

Tudo ficou pior no Fla-Flu na Taça Rio, que provocou uma fortíssima arritmia durante o jogo. Ele foi internado e teve de se submeter à pequena intervenção cardíaca.

Era pressão demais sobre o treinador.

Abel Braga quis imitar Luiz Felipe Scolari.

E decidiu peitar a diretoria flamenguista.

Foi avisado que Landim não concordava com seu plano: poupar o time no Brasileiro. Colocar reservas, priorizando a Copa do Brasil e a Libertadores.

Só se esqueceu que, ao contrário de Felipão, que foi campeão brasileiro em 2018 e está disparado em primeiro este ano, o Flamengo ocupa apenas a sexta colocação. E o time sofreu desesperadamente para ganhar dos reservas do Athletico Paranaense no último domingo.

Os gritos de ódio da torcida durante o jogo, exigindo sua saída repercutiram na Gávea.

Antes mesmo de sua saída, o nome do português Jorge Jesus era muito citado. 

Ele é tricampeão de Portugal pelo Benfica. Além de ter sido escolhido três vezes como o melhor técnico do seu país. Trabalhou com sucesso, mas com títulos menos importantes no Sporting. Saiu do Al-Hilal como campeão da Supercopa da Arábia.

Já havia recusado o Vasco da Gama.

Estava negociando com o Atlético Mineiro.

Mas empresários acenavam que o Flamengo poderia atravessar a negociação. Só que tinham de agir rápido.

Ao mesmo tempo, Abel Braga ficou irritadíssimo quando soube que Landim mandou avisar que não queria o time reserva contra o Fortaleza.

E ainda ouviu de conselheiros sobre o interesse em Jorge Jesus.

Justo Abel Braga que disse que os treinadores brasileiros não deixavam nada a desejar aos estrangeiros estava perdendo o emprego para um português.

Para não passar pelo vexame da demissão, se demitiu.

Não há multa rescisória de parte a parte.

Nem o treinador e nem o clube gastaram com a rescisão.

Foram 32 partidas, 19 vitórias, oito empates e cinco derrota, 59 gols marcados e 29 sofridos.

Abel deixou a marca registrada de um péssimo futebol. Time instável, taticamente previsível, ultrapassado, que não despertava a mínima confiança na torcida.

Landim teve de admitir que erro na escolha.

Agora, o clube faz todos os esforços para fechar com o português Jorge Jesus.

A saída de Abel Braga era necessária.

Foi o que melhor poderia acontecer.

Para o técnico, que não tinha mais apoio.

E do Flamengo, que jogava cada vez pior...

(Como o blog antecipou, Abel foi traído. Deixou isso muito clara a situação na nota oficial que publicou, detalhando sua saída.

"Na vida, seja na minha carreira de jogador ou de treinador, sempre estive preparado para as grandes pressões e os grandes momentos. Sempre me dei bem com isso. E me habituei a encarar esses desafios de cabeça erguida. Mas jamais estive preparado para covardias e articulações.

O que não suporto é traição. Eu me senti sem respaldo, isolado em certo momento. O que posso afirmar é que o Flamengo é muito maior do que tudo isso. O clube vai brilhar por tudo que plantou nesses últimos anos, por esse terreno fértil, por sua grandeza.")