Após vexame contra o Botafogo, o desanimado Ceni ironiza. 'Eu teria de investir R$ 2 bilhões para ajudar o São Paulo. Não tenho'
Derrota, torcida xingando a equipe de 'time sem-vergonha'. Libertadores de 2023 sob sério risco. Para mudar a rotina, Ceni diz que a maior ajuda ao clube, que atrasa salários, seria investir R$ 2 bilhões. Mas ele não tem
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Era uma das partidas que Rogério Ceni mais precisava ganhar no ano.
Marcava o reencontro do time que havia perdido a Sul-Americana, com a torcida, no Morumbi. Diante de um adversário direto por uma vaga na pré-Libertadores, triste compensação de mais um ano de fracasso, sem títulos do São Paulo.
Só que, outra vez, a equipe demonstrou todo o seu fraco potencial técnico, físico e tático, contra o Botafogo de Luís Castro. Confundiu intensidade, vibração, necessidade de vitória, com afobação, nervosismo, irritação, desespero.
E acabou perdendo por 1 a 0, gol de Tiquinho, de pênalti.
A falta de Léo Pelé em Tchê Tchê, aos 38 minutos do segundo tempo, nasceu da cobrança de um lateral, mostrando o péssimo posicionamento, a desatenção da zaga.
Foi assustador o futebol do time paulista, criando raríssimas chances de gol.
Depois da derrota justa, o coro que tem perseguido o São Paulo, partindo de sua própria torcida, ganhou o Morumbi.
"Vergonha... Time sem-vergonha."
Membros da torcida organizada Independente colocaram narizes de palhaço, mostrando como se sentem vendo o atual time representar o clube tricampeão mundial.
Policiamento reforçado, para proteger o time dos próprios torcedores.
Muitas vaias após mais essa derrota.
Rogério Ceni, que já ameaça não continuar em 2023, passou por mais um momento de enorme frustração.
O São Paulo corre muito risco de não conseguir chegar nem à pré-Libertadores do próximo ano. Sem ela, a direção não garante reforços mais do que necessários, exigidos pela torcida. E, principalmente, pelo treinador.
A crise domina o clube, que não tem conseguido pagar salários, direitos de imagem nem premiações em dia.
Haverá uma grande reformulação no elenco. Jogadores como Jandrei, Rafinha, Reinaldo, Igor Gomes, Miranda e Eder sabem que não continuarão.
A posição na tabela do Brasileiro, o único caminho para a Libertadores, é a 11ª colocação. Faltando apenas oito jogos para serem disputados.
A próxima partida será no domingo, no Allianz Parque, diante do líder do Brasileiro, o rival Palmeiras. Léo Pelé expulso e Rafinha, terceiro cartão amarelo, não jogarão.
Em 30 partidas, o São Paulo venceu nove, empatou 13 vezes e acumula oito derrotas. 44% de aproveitamento.
Na coletiva, após o jogo, Rogério Ceni outra vez buscou desculpas. Falou da chuva, que encharcou o gramado, da desatenção no gol que o time tomou de lateral, assumiu que será muito difícil a recuperação no Brasileiro no próximo domingo, contra o Palmeiras.
Foi evasivo, novamente, se continuará ou não no São Paulo em 2023.
A grande novidade é que deixou escapar o que o blog já revelou. E que o presidente Julio Casares, diante das dívidas de mais de R$ 700 milhões, está tentando desde o início deste ano. E não está conseguindo, mesmo com a garantia de que poderá ser reeleito, depois da mudança nos estatutos do clube.
Ceni ofereceu, de maneira inteligente, o clube a algum empresário bilionário. E virar sócio maioritário e se tornar dono do São Paulo Futebol Clube, como Ronaldo é do Cruzeiro.
"Eu tento devolver a oportunidade que o clube me deu como atleta. Se eu tivesse R$ 1 bilhão, R$ 2 bilhões, eu investiria no São Paulo FC. Talvez fosse o maior favor que eu poderia fazer para o clube, mas eu não tenho condições de fazer isso, infelizmente."
Ceni cutucou direções anteriores que acumularam dívidas, como a do seu grande desafeto no Morumbi, o ex-presidente Leco, a quem ajudou a se eleger e o demitiu.
Para evitar que o técnico vá embora, Casares já mostrou diversas vezes as dificuldades financeiras do São Paulo. E quanto os mais de R$ 700 milhões em dívidas travam o clube. Ceni foi claro: se o dinheiro arrecadado das tevês, das arrecadações, dos patrocinadores continuarem no mesmo patamar, o clube levará anos para se reerguer.
Diante da insistência dos repórteres, ele falou em "permanecer" em 2023, cumprir o contrato. Mas saiu pela tangente, dizendo que dependeria do clube querer que ele fique. Ceni está !"cansado" de saber que Julio Casares implora para que continue.
"Eu gostaria de cumprir [o contrato, que já assinou] até o ano que vem. Nada impede que eu saia antes, tem uma multa bilateral no contrato.
"O clube pode querer que eu não fique. Quantos treinadores fecham o ano? Três ou quatro que conseguiram terminar e começar o ano. Se não tivermos opções e times que consigam competir, as pessoas não querem saber o momento, as dívidas. As pessoas querem saber se ganha ou não ganha. Se ganha, é bom. Se não ganha, não serve. Não é uma coisa só minha.
"Nós temos que apresentar resultados. Se não apresentar, não faz sentido nem para o clube e nem pra mim continuar."
A verdade é que ele quer o que, até agora, o São Paulo não mostra condições de oferecer.
A garantia de um time forte na próxima temporada.
Principalmente se não conseguir chegar à Libertadores...
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