Acovardado, Brasil perde, de pouco, para a Espanha. 2 a 0. Contagiada pelo medo do time, Marta foi expulsa. Classificação veio, mesmo assim
Atuação desastrosa do time de Arthur Elias. Treinador colocou o Brasil para jogar como time pequeno diante da Espanha. Pagou caro por tanto medo. As europeias tocaram a bola, cansaram as brasileiras. Marta, desesperada para defender, foi expulsa ainda no primeiro tempo
Cosme Rímoli|Do R7

Foi vergonhoso.
Foram 27 arremates espanhóis.
Contra sete brasileiros.
Arthur Elias decidiu que a Seleção como equipe pequena.
E atuou.
O medo da Espanha, campeã mundial, era claríssimo por parte das brasileiras.
O esquema 5-4-1, com as linhas totalmente recuadas, quase que grudadas na grande área, era um convite para as talentosas espanholas.
Elias sonhava com um empate.
E aceitaria até uma situação que não confessaria de maneira alguma: a derrota por um gol de diferença.
Valeria tudo para conseguir a classificação às quartas-de-final da Olimpíada.
O Brasil já havia decepcionado na vitória magra, com pouquíssima superioridade, diante das nigerianas, por 1 a 0.
Perdeu para o Japão de virada, com duas falhas bizarras, nos últimos minutos do confronto importantíssimo, por 2 a 1.
No plano tático concebido por Arthur Elias, até Marta atuaria à frente da zaga, para ajudar na recomposição.
E foi o que ela fez, violentando seu talento excepcional para atacar.
Pagou caro pela obediência.
Cansada, irritada, aos 50 minutos do primeiro tempo, ela perdeu o tempo de bola.
E acertou um chute que raspou a cabeça de Olga Carmona.
Justa, e triste, expulsão.
Marta chorou muito.
Foi pungente acompanhar a melhor jogadora de futebol de todos os tempos, ir desesperada para os vestiários.
Se 11 contra 11 já estava um massacre, o segundo tempo não poderia ser melhor.
A Espanha trocou passes à vontade.
Estatística serve para ensinar as pessoas a enxergarem futebol.
Foram 707 passes certos da Espanha, com 86% de acerto.
Contra 150 do Brasil, com 55% certos.
Arthur Elias construiu um Corinthians dominante, empolgante, com direito a 16 títulos.
Teve tempo e material humano.
Mas seu enorme talento se ressaltou no paciente trabalho de dia-a-dia no Parque São Jorge.
Na Seleção Brasileira, ele sabia que teve pouco tempo para implantar o que pensa de futebol.
E diante de um grupo difícil na Olimpíada, tratou por tentar montar uma equipe compacta, de contragolpes velozes, em bloco.
Mas o velho problema de trabalhar com jogadoras vindas de vários clubes, países.
Sem um grande entrosamento, a tendência é passar frustração nas grandes competições, com times montados há anos.
Como é a Espanha, atual campeã mundial e vencedora da Liga das Nações.
O esquema foi acovardado.
E proporcionou tudo o que o time de Montse Tomé queria.
Com o grande detalhe que suas melhores jogadoras Bonmatí e Putellas, foram poupadas para a última meia hora de jogo.
No flutuante 4-3-3, a partida parecia um treino de ataque contra defesa.
Lorena fazia milagres.
Mas coube justo à goleira brasileira soltar um cruzamento de Caldentey, que desviou em Adriana, para Athenea, fazer justiça no placar.
1 a 0, Espanha, aos 22 minutos do segundo tempo.
O time europeu seguiu atacando, mas diminuiu o ritmo, visivelmente se poupando para a sequência da Olimpíada.
Para piorar de vez as coisas para o Brasil, a lateral Antônia se contundiu.
Como Arthur Elias já havia feito as cinco trocas, decidiu deixá-la em campo.
O que foi um sacrifício à toa e só piorou seu estado físico, com direito a ela correr em uma perna só, até não aguentar mais.
A Espanha ainda faria o segundo gol.
Lindíssimo chute da entrada da área de Putellas, aos 61 minutos.
A derrota ainda deixou o Brasil com chances de classificação, ficando entre os dois melhores terceiros colocados.
Mas a primeira fase da Olimpíada foi vexatória.
E que mostra o desencontro entre o fim de uma geração e a chegada de uma nova.
Com um treinador pressionado e no começo do seu ciclo.
Marta não merecia esta despedida de jogos oficiais da Seleção.
Só voltará a atuar se o Brasil se classificar para a semifinal.
E ganhar a partida das quartas.
Tudo que aconteceu em Bordeaux tem explicação.
Sem estrutura, tempo, maturação, não se forma grandes times.
O Brasil feminino mereceu perder, novamente.
Como o masculino já se acostumou.
Tanto que nem se classificou para as Olimpíadas...
(A vaga para as quartas veio de forma constrangedora.
(Com os Estados Unidos vencendo a Austrália.
(Sábado, o Brasil enfrentará a França, dona da Olimpíada.
(Resta saber qual a atitude de Arthur Elias.
(Com o time sem Marta...)
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As duas equipes se enfrentarão na quarta-feira (31) pelo jogo de ida das oitavas da Copa do Brasil.