Com uma equipe repleta de garotos, o Palmeiras perdeu para o Santos, rival mais fraco. Tem explicação
MARCELLO ZAMBRANA/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO - 08.10.2023São Paulo, Brasil
24 chutes a gol contra 11.
68% de posse de bola contra 32%.
As estatísticas desta vez mentem, confundem.
Quem não assistiu ao clássico pode pensar quanto teria sido injusta a vitória do Santos, por 2 a 1, diante do Palmeiras, já que foi 'tão dominado'.
Na verdade, o time de Abel Ferreira mereceu ser derrotado pelo de Marcelo Fernandes, na Arena Barueri.
Por um motivo muito simples e que vai além da dedicação de samurai, exemplar, da equipe santista.
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A derrocada do Palmeiras no Brasileiro, com a terceira derrota consecutiva, deixando de vez escapar até a chance de disputar o título, é de inteira responsabilidade da presidência do clube.
A bilionária Leila Pereira ironizou a cobrança da imprensa e dos torcedores por peças de reposição para a perda de dois titulares fundamentais: Gustavo Scarpa e Danilo.
Precipitada, sem visão e muito mal orientada, ela se deixou enganar pela conquista de dois títulos que nunca foram prioridade na temporada.
A Supercopa do Brasil e o bicampeonato Paulista.
O que Abel Ferreira ansiava e percebia era que a Libertadores de 2023 era a mais fácil que disputaria. Com o caminho mais aberto do que a de 2020 e a de 2021, que o clube venceu sob seu comando.
E desde o início da temporada ele pedia reposição a Scarpa e Danilo. Mesmo vencendo a Supercopa e o bicampeonato Paulista, insistia nas contratações.
Navarro e Tabata. Jogadores que pediram para sair do Palmeiras. Perseguição nas redes sociais
Cesar Greco/PalmeirasLeila, com o apoio do executivo Anderson Barros, resistiu. Disse que bastaria não vender mais atletas e apostar em garotos talentosos.
Não compreendeu quanto a falta de experiência pesava na equipe. Barros tinha a obrigação de avisá-la. E se fosse teimosa, como ela é, insistir. Sem medo de perder o emprego.
Por isso, a Libertadores e o Brasileiro foram desperdiçados.
Em Barueri, os 24 chutes a gol foram temperados com ansiedade, precipitação e falta de visão. Típicas da juventude. Ainda com os atletas jogando em casa, diante de sua torcida, e percebendo terem muito mais talento que o adversário.
Foi assim que o Palmeiras caiu diante do São Paulo e diante do Boca. Desperdiçou a Copa do Brasil, a Libertadores e o Brasileiro. Torneios que o clube poderia ganhar, se tivesse a mesma força de 2022.
O Palmeiras foi enfraquecido e Leila, sem conhecer a profundidade do futebol, se deixou enganar por péssimos conselheiros.
Era obrigação do executivo Anderson Barros cobrá-la, porque Abel pediu a óbvia reposição a Scarpa e Danilo. E não teve.
Por isso a vitória do Santos, de virada, não deve ser tão surpreendente. Quando Zé Rafael marcou, o Palmeiras tomou o gol do venezuelano Rincón, em seguida.
Na jogada ensaiada mais pública e conhecida que Marcelo Fernandes impôs ao time. E que foi usada contra o Vasco, na última partida. Escanteio cobrado, desvio de cabeça para um jogador atrás da zaga. Falha imperdoável para o sistema defensivo tão vivido como o palmeirense.
E, no segundo tempo, o desesperado time de Abel sofreu a derrota graças a uma bobagem de Murilo, que não foi firme no corpo a corpo na disputa com Marcos Leonardo. E o atacante marcou, depois de excelente devolução de Maxi Silvera.
Depois, desespero e afobação palmeirenses. Com direito a Gustavo Gómez ir jogar como centroavante, tendo a companhia de Weverton, para tentar o cabeceio nos últimos lances da partida. Situação esdrúxula.
Finalmente, diante das circunstâncias mais do que evidentes, o treinador deixou escapar o que tem repetido há meses e meses para o executivo Anderson Barros e também para a presidente Leila Pereira. Não adianta ter excelentes jovens, acostumados a vencer nas categorias de base. O futebol profissional é muito diferente.
"Perdemos maturidade", falou.
Mas logo tentou disfarçar, para não expor a direção do Palmeiras, já tão xingada pela torcida contra o Boca e também hoje na Arena Barueri.
Ele se referia claramente a Scarpa e Danilo, que, apesar de jovem, já estava perfeitamente adaptado e jogando muito bem, a ponto de ser convocado para a seleção brasileira.
Mas desgastado com as derrotas e o clima de decepção com seu time, o português fez importantes revelações.
"Se vocês prestarem atenção em como começou, verão que saíram Jorge, Kuscevic, Wesley, Danilo, Gustavo Scarpa, Merentiel, Gabriel Veron, Tabata, Navarro... Alguns deles saíram porque não aguentaram a pressão de jogar aqui.
"Alguns me procuraram e falaram: 'Professor, não quero mais jogar aqui'. E, quando me falam isso, quando me falam que estão se sentindo ameaçados, que estão sentindo a família ameaçada, eu tenho que entender."
Merentiel. Feliz no Boca Juniors
Reprodução/TwitterNavarro, Merentiel e Tabata, jogadores emprestados para o Colorado Rapids, dos Estados Unidos, Boca Juniors e para o Catar SC, conversaram com a direção e pediram para sair. Não suportavam mais a pressão dos torcedores nas redes sociais, que exigiam que fossem embora.
Abel atacou a imprensa e a própria torcida palmeirense.
"A imprensa brasileira é muito agressiva.
"E os torcedores gostam mais de ganhar do que do Palmeiras. Nossos adversários têm que ser o Flamengo, o Corinthians, o São Paulo, têm de ser os outros (clubes). Mas há coisas que não controlo."
A verdade é que Abel Ferreira está desgastado.
Ele não queria ter utilizado tantos jogadores jovens como Endrick, Fabinho, Luis Guilherme, Fabinho, Jhon Jhon e Kevin em uma mesma partida, um clássico, contra o Santos. Não em um clube tão rico como o Palmeiras.
A escalação dos meninos foi mais uma demonstração para Leila Pereira. Do que ela reservou para o Palmeiras na Libertadores, no Brasileiro.
Mesmo com a previsão de mais de R$ 700 milhões em receitas do Palmeiras para este ano.
O time tem uma base excelente, vitoriosa.
Mas precisava de reposição.
Só ingênuos se enganaram com a Supercopa do Brasil, contra o Flamengo vulnerável de Vítor Pereira. E com o Paulista diante do Água Santa, já que o São Paulo, de Rogério Ceni, afundava. O Corinthians, do novato Fernando Lázaro. E do Santos, sem rumo, de Odair Helmann.
Técnicos rivais que, por sinal, foram demitidos.
Todos que trabalham no Palmeiras tinham o direito de serem ingênuos.
Mesmo Leila Pereira.
E ela foi.
Leila Pereira comemorou, vibrou com a Supercopa do Brasil e com o Paulista. Pensou 'pequeno'
Cesar Greco/PalmeirasOfereceu um avião para o treinador voar com sua equipe.
Mas o deixou com uma porção de meninos talentosos, pensando apenas no lucro, em vendê-los no futuro.
E desperdiçou a Libertadores e o Brasileiro de 2023.
Na coletiva, após mais essa derrota, Abel Ferreira deixou claro: está se cansando.
Não será surpresa se decidir tomar outro rumo em 2024.
É desgastante demais assumir a culpa que não é dele.
Leila Pereira, como tem feito nas eliminações, se calou novamente.
Ela precisava assumir o que fez...
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