Abel Ferreira não está blefando. Está avisando. A violência do Brasil pode tirá-lo do Palmeiras
A morte de um torcedor do Atlético Mineiro, baleado, foi a gota d'água. O treinador português cobra providências. Ou não seguirá mais no Brasil. No Palmeiras. Por medo da violência
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Em um ano e cinco meses levou o Palmeiras a oito finais.
Conquistou quatro títulos, três internacionais.
Duas Libertadores, uma Recopa Sul-Americana.
Uma Copa do Brasil.
Vice-campeão mundial.
A passagem de Abel Ferreira no Palmeiras é excepcional.
O português tem apenas 43 anos.
Conselheiros da situação e da oposição juram que a multa rescisória é de US$ 2,5 milhões, cerca de R$ 12,6 milhões.
Há a certeza, até da presidente Leila Pereira, que o treinador receberá propostas de clubes europeus no meio do ano. Emissários do Benfica garantem que seu nome é muito cotado em Lisboa.
A ligação com o Palmeiras é forte.
Mas ele tem uma temporada difícil pela frente, cujo maior objetivo é vencer pela terceira vez seguida a Libertadores, para disputar mais uma vez o Mundial de Clubes, na busca do título inédito do clube.
Mas está há mais de um ano esperando um definidor com talento diferenciado. Foi seu pedido especial a Leila, após perder o título do Mundial para o Chelsea.
Sua esposa, Ana, e as duas filhas, Inês e Mariana, seguem vivendo em Portugal. Ana esteve três vezes no Brasil, e Inês e Mariana, apenas uma, desde que Abel foi contratado.
Ou seja, motivos já não faltavam para que sua sequência até o fim de seu contrato, em dezembro de 2023, estivesse ameaçada.
Mas a violência crescente no futebol brasileiro tem preocupado, assustado, de verdade, o treinador. O ataque a bomba ao ônibus do Bahia. A tocaia de vândalos do Internacional, que atiraram pedras no ônibus do Grêmio. A invasão de torcedores para baterem no time do Paraná Clube, rebaixado para a Segunda Divisão paranaense.
E, ontem, chegou a gota d'água ao treinador.
A confirmação da morte de um torcedor do Cruzeiro, que seria membro de torcida organizada. Ele morreu com um tiro no abdômen, dado por membros de uma organizada do Atlético Mineiro. As torcidas combinaram brigar pelas redes sociais, em Belo Horizonte.
"Hoje (ontem) entrei aqui nessa coletiva de imprensa, (e pouco antes) me disseram que tinha havido uma rixa num jogo, inclusive acho que morreu uma pessoa. É preciso morrer quantas mais?"
"Os organismos, quer sejam os do futebol, quer sejam extrafutebol, têm que assumir, dar as caras, exercer os cargos que têm. Têm que justificar o cargo que têm. Quando eu não ganho, pedem responsabilidades. Isso é o que espero que cada pessoa em seu cargo faça, assuma responsabilidades. Pelo bem do futebol brasileiro. De todos nós. Que se junte à CBF, quem organiza estaduais, o Ministério Público, mas que se tomem medidas."
"É preciso passar à ação. Palavras, o vento leva. Isso me preocupa muito. A segurança me preocupa muito. Quando entrei aqui e vi as imagens no México, e me dizem que se passa a mesma coisa no Brasil."
"Vou ter que pensar muito bem no que quero para minha família, para mim e meus jogadores."
"Jogadores de outros clubes e meus já falaram. Posso ser grande rival, mas tem que ter respeito pela vida humana. No futebol não vale tudo. A vida tem valor. Se vemos isso e não fazemos nada, alguma coisa vai mal. Temos que passar à ação. Estamos à espera de quê?"
No Palmeiras, a diretoria não levou as declarações como meras bravatas. Pelo contrário. Já se sabia do desconforto do treinador com a violência no Brasil. Internamente já era motivo de comentários preocupados na Comissão Técnica.
O clima de violência, tensão e até morte no futebol brasileiro é incomparável ao de Portugal, por exemplo.
Abel Ferreira não fez um alerta.
Deu um aviso real.
O Palmeiras pode perder seu treinador por medo da violência.
Quem tem coragem de dizer que ele está errado?
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