São Paulo, Brasil
Síndrome de pânico.
Crises agudas de ansiedade.
Tremores.
Foi com esse diagnóstico que a Clínica da Universidade Católica, em Santiago, no Chile, detectou o que domina Jorge Valdivia.
Daí a internação compulsória do ex-jogador da seleção chilena e do Palmeiras.
Na sexta-feira (12), ele foi internado em um hospital psiquiátrico, de onde saiu nesta terça-feira (16).
Aos 39 anos, Valdivia não suportou a pressão psicológica da selvagem separação de sua ex-mulher Daniela Aranguiz, com quem tem dois filhos, depois de um relacionamento de 17 anos.
Daniela chegou a deixar subentendido que foi agredida por Valdivia, o que teve de negar publicamente. Fora acusá-lo de traições.
E ele acusou a esposa de, depois de separados, ter invadido seu quarto de hotel e ter destruído objetos e roupas do ex-jogador.
O conflito ficou muito mais tenso depois que o meia foi acusado pela ex de ter um romance com uma política, a deputada Maite Orsini. Situação exposta da pior maneira, com Orsini tratando de intervir para livrar o ex-jogador, detido por policiais para averiguação, já que estava sem documentos.
Na ESPN chilena, onde é contratado como comentarista, o jogador já vinha dando sinais de que algo não estava bem. Nas últimas semanas, ele faltou em programas para os quais estava escalado.
Conselheiros do Palmeiras não se espantam com essa internação de Valdivia.
Eles conviveram com o jogador nas duas passagens dele pelo clube. E ele cansou de colecionar polêmicas, situações delicadas, sempre estava com os nervos à flor da pele, pronto para discussões.
Não aceitava ordens. Teve sérias discussões com companheiros. Xingou dirigentes. Provocou adversários.
Seu talento acabou desperdiçado por longos períodos fora dos gramados.
Médicos palmeirenses diziam que, mesmo tomando medicamentos fortíssimos, como anti-inflamatórios, ele fazia questão de sair para noitadas e consumir bebidas alcoólicas, que sabotavam os efeitos dos remédios.
E seu tempo de recuperação dobrava, triplicava.
A torcida organizada Mancha Verde chegou até a ironizar, a criar um "chinelômetro" para contrar os dias em que Valdivia ganhava salário sem jogar.
Em 2010, ele atuou apenas em quatro partidas, colecionando lesões musculares que não curavam.
Valdivia explodia fácil.
Como quando recebeu uma cartilha de comportamento para as férias. Os dirigentes não queriam que ele participasse de jogos festivos e que maneirasse nas baladas.
Ele teria de assinar um documento se comprometendo a se comportar. Ou seria multado em 40% dos salários. Ele se negou e ainda acusou os dirigentes de perseguição.
"Quem falou isso é mentiroso, mau-caráter. O Marcos saiu machucado e não assinou esse documento. O Pierre e o Lincoln também não assinaram nada. Por que só comigo? Além disso, no documento estava escrito que, se eu não seguisse as orientações, então seria multado em 40% do meu salário. Como vou assinar uma coisa dessas?"
•Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram
Valdivia tomou um forte soco no rosto dado por Marcos Assunção. Porque o volante declarou que estava jogando "no sacrifício", com dores. O meia disse que Assunção estava querendo aparecer para a imprensa, para os torcedores. O jogador, que estava mesmo contundido, não se conteve e acertou um forte soco no rosto do chileno.
"Alguns jogadores vieram me cumprimentar pelo que fiz. Diziam que ele estava merecendo fazia tempo."
Valdivia entrou em rota de choque com o ex-jogador Neto, que havia se tornado apresentador.
Neto foi claro: disse que o Palmeiras melhorou com a saída de Valdivia, tanto que foi campeão brasileiro em 2016.
A resposta do chileno foi pesada.
"Fala muito mas se... todo para me processar. Cagão. Ganhou um Brasileiro e se acha o f...ão."
"Vai cuspir em juiz."
"Você está na TV porque se faz de palhaço."
"Eu que nem brasileiro sou escrevo e falo melhor do que você, que tem que pedir ajuda pra escrever textos. Vai e me processa."
Ele também xingou Thiago Leifert, então apresentador da TV Globo, por ironizar suas ausências em campo.
Quando deixou o Palmeiras, dirigentes chegaram a insinuar que o meia seria mercenário. Só se preocupava com dinheiro.
"A diretoria se posicionou um tempo atrás, falando que teria muito tempo pela frente [para definir se renovaria ou não], até o dia 17 de agosto, que é quando meu contrato acaba. Nesse período, recebi proposta, mas não assinei."
"Se fosse ingrato e mercenário, eu teria aceitado alguma das propostas dos dois times [Cruzeiro e Flamengo], que eram muito melhores que o Palmeiras."
Ironia era uma de suas grandes armas.
"O Valdivia sai para a noite e se machuca e tem um monte de jogador que você via na igreja e estava sempre machucado também. Posso não ter me cuidado no passado, mas isso é passado. Se eu invento lesão, os médicos têm que falar."
Valdivia também sofreu um sequestro-relâmpago.
E denunciou um fotógrafo que estava tentando chantageá-lo: vender fotos que fez do jogador traindo, beijando uma mulher em uma casa noturna.
No Palmeiras, Valdivia deixou a fama de problemático, genioso, egocêntrico. Amante da vida noturna.
Deixou saudade em poucos.
Ao contrário dos torcedores, que ainda o admiram...
(Valdivia recebeu alta, mas continuará utilizando remédios contra ansiedade. O ex-jogador seguirá tratamento psiquiátrico, dizem os meios de comunicação chilenos...)