A sombra de Tite renasce no Corinthians. Ou Dorival ganha a Copa do Brasil ou pode sair, com Fabinho. A única chance da dupla é vencer a Copa do Brasil. Ontem, o Cruzeiro fez o que quis

A cena foi constrangedora.

Quando os jogadores do Corinthians foram, após o jogo contra o Cruzeiro, em direção aos seus torcedores, no Mineirão, pelo apoio, ouviram o que não queriam.

“Não é mole, não.

“Tem de ser homem para jogar no Coringão.”

Enquanto isso, Dorival Júnior já estava no vestiário.

Queria pensar antes da coletiva.

O final de semana não poderia ter sido pior para ele.

No sábado, a assessoria de imprensa de Tite divulgou uma nota oficial do treinador.

Nela, ele avisava que está pronto para trabalhar em 2026.

Ou seja, se diz curado da Síndrome de Ansiedade, que sofreu exatamente há sete meses, quando iria assumir o Corinthians.

Dorival só ganhou seu emprego depois desse grave problema mental que dominou Tite.

E se há um clube em todo o Brasil que pode receber Adenor com os braços abertos é o Corinthians.

Foi do Parque São Jorge que ele saiu em 2016 para assumir a Seleção.

Fracassou na Copa de 2018 e na de 2022.

Recusou três convites para voltar ao Corinthians.

Deu sua palavra à diretoria comandada por Duílio Monteiro Alves, que não trabalharia no Brasil em 2023.

Trabalhou.

E também fracassou no Flamengo, onde foi demitido em setembro de 2024.

Logo em seguida, foi convidado para assumir o Corinthians, pela quarta vez na vida. Estava tudo certo, quando teve um fortíssimo ataque de pânico.

Como o tempo cura e também traz amnésia, cresce no Corinthians a vontade de trocar Dorival por Tite. Conselheiros e até chefes de organizadas já pressionam o presidente Osmar Stabile.

Desde que assumiu como treinador corintiano, Dorival não conseguiu dar um padrão de jogo ao time. Muito instável, a equipe sob seu comando foi eliminada da Copa Sul-Americana, diante dos reservas do Huracán.

No Brasileiro, ontem teve uma derrota avassaladora para o Cruzeiro, por 3 a 0, mas se fosse 5 a 0, não seria exagero, diante do domínio completo do time mineiro.

Kaio Jorge teve atuação excelente. Fez dois gols e ainda deu assistência para Arroyo marcar.

Foi incrível o modo amedrontado que o time paulista foi montado. Com três zagueiros, atuou no 5-4-1. Com linhas baixas demais, o time foi encurralado.

Memphis, que sofreu a sexta lesão em 2025, ficou fora. E fez muita falta.

O Corinthians não chega mais à Libertadores de 2026 pelo Brasileiro.

A saída será vencer a Copa do Brasil, onde faz campanha impressionante e chegou à semifinal.

O título seria a única salvação para Dorival, garantem conselheiros ligados ao presidente Osmar Stabile.

Na verdade, muitos conselheiros e até membros da direção não gostam do trabalho de Dorival Júnior. E também do executivo Fabinho. A pressão é escancarada, para que a dupla saia no final da temporada.

“O Cruzeiro mereceu o resultado do primeiro ao último minuto, fez uma partida segura, equilibrada dentro das suas condições, criou numa noite em que mais uma vez não encontramos nossos caminhos. Tivemos a bola em poucos momentos da partida e passamos dificuldades ao longo de todo o período”, admitiu Dorival.

Ele teve de se posicionar, diante da pergunta óbvia.

Se o confronto de ontem foi a prévia do que será a semifinal da Copa do Brasil, já que os dois clubes irão se reencontrar, lutando pelo privilégio de jogar a final.

“Eu tenho certeza que o torcedor confia na sua equipe (no Corinthians). E o cenário será outro com certeza. Vamos aguardar. Aí você me cobra depois das duas partidas”, disse o técnico, em tom desafiador a um repórter, na coletiva.

O domínio do Cruzeiro foi impressionante.

Teve 17 finalizações contra cinco do Corinthians.

Dorival foi perguntado se havia motivo para a equipe ficar envergonhada pelo desempenho de ontem.

“Envergonhada, não. Não faltou luta, não faltou entrega. Tivemos dificuldades fora de casa contra equipes menores, mas também com equipes maiores. Em muitos momentos fizemos partidas boas, equilibradas sem que o resultado tenha acontecido.

“Realmente fomos muito irregulares ao longo do campeonato, impressionante como deixamos escapar pontos importantes atuando bem ou não.

“Tivemos boas atuações também, mas não fomos felizes nos resultados, o que tem nos tirado a tranquilidade. Mudam-se nomes, sistemas, posições, enfim.”

Parte da cúpula do Corinthians tem ficado muito irritada com Fabinho, além de Dorival.

Pelo comportamento dos jogadores.

Não bastassem os exageros de Memphis, há a postura de Martínez. O venezuelano que faltou cinco treinos sem dar explicações, foi expulso ontem. Foi o terceiro cartão vermelho em 2025. Descontrolado, deu uma forte cotovelada em Matheus Pereira. Ele entrou aos 20 minutos do segundo tempo. E agrediu o meia cruzeirense 18 minutos depois.

Dorival deu uma resposta imprecisa, superficial, diante da postura inaceitável do seu meio-campista.

“Chama atenção de todos nós, uma jogada isolada, é difícil imaginar o que possa acontecer com o atleta num momento desse, uma jogada simples, não teve disputa, até porque ele chegou depois. É difícil fazer uma análise de fora.”

A situação está ficando insustentável para Dorival.

Só um título pode mantê-lo em 2026.

E o único que pode vencer é a Copa do Brasil.

Tendo como rival na semifinal o mesmo Cruzeiro, que ganhou como quis o jogo.

E se classificou para a Libertadores.

Mas o técnico Leonardo Jardim confirmou que quer muito ser campeão pelo Cruzeiro ainda esta temporada. E para isso precisa eliminar o Corinthians, na semifinal da Copa do Brasil.

Dorival não teve reforços prometidos, quando assumiu.

O Corinthians sofreu o transfer ban, ficou impedido de contratar.

O elenco é pequeno.

E cada ausência tem peso enorme.

Mas nada é levado em consideração pelos detratores de Dorival.

A pressão por sua saída segue crescendo.

Não era maior por não haver um nome no horizonte.

Agora há.

Tite que saiu ‘gigante’ do Parque São Jorge.

Perdeu ‘tamanho’, prestígio nos últimos nove anos.

Colecionou fracassos com a Seleção e com o Flamengo.

Mas a fascinação por Adenor, pelas conquistas da Libertadores e do Mundial, há 13 anos, segue intacta para conselheiros importantes.

E que já o perdoaram pela negativas ao Corinthians.

Pela palavra quebrada.

O tempo no futebol tudo cura...