A noite mais humilhante. Na carreira do vaidoso Galvão Bueno
"Eu errei." Duas palavras ditas, com muita dor, pelo egocêntrico narrador. Não resistiu à força da Internet. Teve de se desculpar com Nadja Mauad
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
O dia 21 de julho será especial.
Pelo menos para Galvão Bueno.
Ele completará 70 anos.
Jamais alguém tão velho foi o principal narrador de futebol na televisão brasileira.
Galvão começou no rádio Gazeta, de São Paulo, em 1974.
Não queria ser narrador, mas sua voz privilegiada o fez narrador.
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Em 1981 chegou à TV Globo.
São 39 anos.
A relação virou umbilical.
De dependência dos dois lados.
Galvão Bueno se confessa um homem de rádio e de tevê.
Se assustou com as redes sociais.
Foi algo novo e avassalador para ele.
Tomou conhecimento da força da Internet em 2010.
Quando, na abertura da Copa do Mundo da África, ele teria de dividir a transmissão com Fátima Bernardes.
Mas, não teve o menor constrangimento, em transformar a jornalista em mera coadjuvante passiva.
Foi tão bruta sua atitude que internautas resolveram vingar Fátima Bernardes.
Acabou sendo criada uma campanha para punir seu egocentrismo contra uma mulher, companheira de emissora.
"O 'Cala a boca, Galvão!' foi uma das coisas mais incríveis que me aconteceram nesses anos todos de estrada. Foi como se um míssil nuclear tivesse caído na minha cabeça", confessou na sua biografia, lançada em 2017.
"Eu sabia que alguém tinha começado essa história por achar que eu havia falado muito na transmissão da cerimônia. Eu falo muito mesmo. Aí esse alguém criou e disponibilizou o vídeo do "Cala a boca, Galvão" na internet, isso virou um rastilho de pólvora e foi crescendo. Fiquei assustado, de verdade."
Vaidoso, Galvão não suporta críticas.
Como o cantor Silvio Caldas, ele foi anunciando e adiando sua aposentadoria.
Em 2010, disse bem claro que a Copa da África seria a última fora do Brasil. O Mundial de 2014 e o 7 a 1 para a Alemanha vieram. Galvão repetiu que narraria a Olimpíada de 2016 e aposentaria.
Veio o desmentido.
A Copa da Rússia 'encerraria o ciclo'.
Só que, nem tanto pelo novo fracasso do Brasil, mas pela Globo não haver formado um substituto, Galvão Bueno foi confirmado também para o Qatar, em 2022.
Mas o tempo é inclemente.
A voz perdeu potência.
Esperto, ele decidiu conversar durante as transmissões, e narrar pouco.
Se poupar para o grito de gol, cada vez mais fraco, mesmo com a aparelhagem moderna, digital da Globo.
Até que o narrador, com 69 anos, sofreu um infarto.
Não transmitiu o seu Flamengo ganhando o título diante do River Plate.
Se recuperou a tempo de trabalhar na derrota no Mundial de Clubes, do Flamengo contra o Liverpool.
Apaixonado por holofotes, ele acalentava há tempos a ideia de contar suas histórias no teatro. Sua mãe, Mildred, era uma atriz famosa nas décadas de 50 e 60.
E ele anunciou, nas redes sociais, na semana passada, que montará o stand up, "Galvão no Palco". Ele pretende contar suas histórias nos bastidores do esporte. E também levar como convidados especiais, companheiros de transmissões.
Estava tudo certo.
Até a final de domingo, entre Flamengo e Athletico Paranaense.
Ele trabalharia pela primeira vez com a repórter Nadja Mauad, da Globo Paraná.
Galvão Bueno estava claramente irritado durante o jogo. Sua voz estava titubeante. Ainda mais nos três gols do Flamengo. O que é algo perfeitamente normal para um homem de quase 70 anos.
Até que Nadja, excelente jornalista, passou informações sobre o lateral esquerdo do Athletico, Abner.
"Revelado pela Ponte Preta. O pagou R$ 10 milhões por ele. O mais jovem e caro."
Galvão foi ríspido como jamais tinha sido com um repórter.
“Nadja, só faltou dizer quem ficou satisfeito de receber toda essa grana com a vinda dele para o Athletico.
" A Ponte Preta.
"Dá a informação completa ao telespectador."
As redes sociais explodiram contra Galvão.
Foi massacrado.
Chamado de machista, entre inúmeros palavrões.
A repercussão foi tão grande que ele teve de pedir desculpas à repórter, ainda durante o jogo.
Só que os internautas seguiram atacando o narrador.
Foi quando ele e a direção da Globo decidiram que seria feito um pedido de desculpas oficial. No programa "Bem, Amigos", no Sportv.
Vários veículos de comunicação foram avisados e divulgaram a 'notícia' antes do programa.
A preocupação da Globo era limpar a imagem de Galvão.
E o narrador, constrangido, pediu desculpas no seu programa.
"Todo mundo erra. Eu erro. Erro muitas vezes. Ontem, eu errei na transmissão de Flamengo x Athletico. Cobrei uma informação de uma excepcional profissional. Ela deu a informação do menino lateral-esquerdo.
"Nós estávamos com sérios problemas de comunicação, retorno, e eu não ouvi. E eu não quis eu dizer para onde ele estava indo e perguntei a ela. E, com os problemas de comunicação, ela disse: "Não entendi".
"Eu repeti e aí que cometi o erro, uma frase infeliz. Ela já tinha falado e eu não tinha escutado. Logo depois, me dirigi a ela, pedi desculpas no ar, na transmissão, disse o tanto que eu admiro o trabalho dela, mandei beijo e ela foi muito bacana. Disse: "Que isso, Galvão, 'tamo junto'". E vamos embora, vamos em frente."
Galvão jamais passou por tamanha humilhação.
Nadja, que estava no programa, aceitou.
Não havia outra solução.
Ele não poderia ficar contra o mais importante narrador da Globo.
"Você sabe a admiração que eu tenho por você. Meu sonho era fazer um jogo com você narrando e eu realizei meu sonho ontem.
Nadja tem muito espaço no Paraná.
Não no Brasil.
Durante a transmissão do jogo, Casagrande e Júnior, ouviram perfeitamente as informações de Nadja. Os 'sérios problemas de transmissão', pelo menos no ar, parecem só ter atingido Galvão.
O narrador teve de pedir desculpas.
O trauma da Internet e o "Cala a Boca, Galvão", ficou.
Antes de ser rude com um repórter, ele foi com uma mulher.
Uma mãe.
Nadja tem uma filha, Isabela.
Se não houvesse desculpas, como seria a reação das mulheres que fossem ao teatro acompanhar 'suas histórias de bastidores'?
Galvão Bueno sentiu outra vez a força da Internet.
E que toda a arrogância será castigada.
A cinco meses de completar 70 anos...
Ainda é tempo de aprender.
Entender, compreender.
Porque passou pela noite mais humilhante da carreira...
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