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Cosme Rímoli - Blogs

‘A morte do Serginho tirou o auge da minha carreira. O São Caetano me impediu de jogar por dois anos. Por medo de outra tragédia. Foi um grave erro. E eu paguei.’ Fabrício Carvalho

Entrevista exclusiva, e rara, com o ex-artilheiro do São Caetano. Ele estava encaminhado para o São Paulo, quando surgiu uma arritmia. Ficou dois anos longe do gramado. Revoltado, voltou a atuar. Por nove anos. Jogou normalmente. Mas perdeu seu melhor momento

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Fabrício Carvalho. Morte do zagueiro Serginho travou a sua carreira. Foi obrigado a parar dois anos no auge. Depois, jogou normalmente, por nove anos Alessandro Bocci/Ferroviária

Dia 27 de outubro de 2004.

O Brasil assistiu consternado, a morte dentro do gramado do Morumbi, do zagueiro Serginho, do São Caetano, em uma partida contra o São Paulo.O motivo: parada cardíaca.

De acordo com reportagens da época, exames apontavam problemas no coração, mas ele decidiu seguir atuando.

A direção do São Caetano foi investigada até pela polícia. A suspeita era que seus jogadores não estariam seguindo protocolos médicos rígidos.


Desta desconfiança nasceu outro drama.

’Esse clima de medo no clube me atingiu em cheio. E acabei perdendo o auge da minha carreira.


’Fabrício Carvalho pagou pelo exagero, pelo pavor da direção do São Caetano, de outra tragédia, que afastaria patrocinadores, investidores, apoio escancarado da prefeitura da cidade ao clube vice-campeão da Libertadores, vice-campeão nacional, campeão paulista.

’Fui diagnosticado com arritmia. E simplesmente fui afastado. Tinha 27 anos, estava no auge. O São Paulo já negociava a minha compra. O Palmeiras e o Corinthians também estavam para fazer proposta. Mas todos se afastaram, com medo. Fiquei marcado no Brasil todo. E hoje eu posso falar abertamente, houve uma enorme precipitação.


‘O motivo da arritmia jamais foi constatado. O medo de nova morte em campo era tanta que apenas me chamavam para fazer exame médico. Ninguém achava nada. Só que não me deixavam correr, sequer andar.

‘Engordei dez quilos em dois anos. Tenso, descontei todo meu medo e frustração comendo. E nada de me liberarem. Minha carreira foi sabotada.’

Fabrício Carvalho se tornou sinônimo de jogador cardíaco, sem possibilidade de atuar.

Até que foi para Goiás.

‘O São Caetano queria me encostar, deixar de lado. Foi quando eu decidi rescindir. E fui para Goiás. Fiz todos os exames possíveis. E ouvi dos médicos que estava apto para jogar. E só perdi tempo, dois anos da carreira.

‘Fiquei revoltado. Mas o que poderia fazer? Voltar no tempo? Atuei por mais nove anos. Só que meu futebol nunca mais foi o mesmo. Perdi agilidade, mobilidade. A carreira de um jogador é curta. Dois anos significam muita coisa.

‘Eu estava no auge.

‘Vou contar mais. Os médicos do São Caetano ligaram para os médicos do Goiás reclamando da minha liberação. Eles não conseguiram chegar a um diagnóstico. E ainda queriam acabar de vez com minha carreira. Para provar que não estavam errados, me impedindo de jogar.

Fabrício Carvalho é direto.

“Se eu perdoei os médicos?

‘Perdoei. Mas sei que paguei pelos erros, pelo medo que eles tiveram de um novo caso Serginho.’

Fabrício ainda jogou por Goiás, Portuguesa, Remo, Bragantino, Oeste, Ferroviária, Guaratinguetá, Araxá, Cabofriense e Taboão da Serra.

‘Nada aconteceu comigo, mas os médicos do São Caetano fizeram que eu entrasse em campo com medo de morrer. Sou humano. Paguei demais por erros que não foram meus, repito.’

Agora, aos 47 anos, Fabrício Carvalho está renascendo.

Primeiro, gravou dois CDs gospel.

E ele canta muito bem.

Depois, se tornou um excelente narrador e influencer.

‘Acompanho jogos de várzea, transmito, faço reportagens. Sempre fui tímido, mas diante de um microfone, me transformo. Estou no meu ambiente, que amo e conheço muito: o futebol. Me sinto recuperando o tempo perdido. Graças a Deus...’

Ele aceitou sair de Andradina, cidade a 600 quilômetros da capital de São Paulo para dar essa reveladora e rara entrevista...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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