A hora de Neymar provar seu amor. E renovar com o Santos, mergulhado na crise. ‘Não sei ainda’, diz, tenso. Medo é cair para a Série B

Há cinco anos, em 2020, no dia 23 de agosto, ele estava em Lisboa.

No majestoso estádio da Luz.

Tinha a camisa 10 nas costas, disputava a final da Champions League.

No bilionário time que atuava tinha como companheiros Mbappé, Di Maria, Thiago Silva, Verrati, Icardi, Draxler.

O PSG caiu diante do Bayer por 1 a 0.

Ele chorou muito.

Dia 22 de maio de 2025, no ultrapassado estádio Rei Pelé.

Com seu gramado irregular, piorado com a chuva impiedosa.

Também tem a 10 nas costas, mas é do Santos.

Seus companheiros são limitados tecnicamente.

O time joga de igual para igual com o alagoano CRB.

Empata em 0 a 0 e cai nos pênaltis por 5 a 4.

São sete partidas seguidas sem vitórias do Santos.

Desta vez, Neymar não chora.

Se mostra irritado.

Está em um clube mergulhado na zona de rebaixamento do Brasileiro, eliminado da Copa do Brasil, depois de fracassar no Paulista.

Mas fez questão de falar, mandar recado para a direção do Santos, para os eventuais patrocinadores, para seu pai, para a torcida.

“Não tem o que dizer, a situação é muito ruim.

“Só depende de nós para mudar a nossa situação.

“Sei que comigo em campo as coisas são diferentes.

“Em 20 ou 25 minutos vimos que eu posso fazer a diferença, ajudar.

“Primeiro jogo que eu voltei.

“Não dá para depender só de mim.

“Dependemos de todos para sair dessa situação.”

A bem da verdade, o meia entrou aos 20 minutos do segundo tempo, conseguiu dar passes importantes nos primeiros cinco minutos.

Depois de 15 minutos, se poupava, andando em campo.

Sua presença deu mais confiança, desconcentrou a marcação do CRB, mas não foi efetivo, como disse.

Não ‘fez a diferença’ ou o Santos não teria passado por mais vexame, sendo eliminado pelo time da Segunda Divisão.

O ‘projeto Neymar’ foi um fracasso assustador até agora.

O próprio veterano jogador de 33 anos jamais esperava tantas desilusões em tão pouco tempo.

Não surgiram os patrocinadores bilionários para o clube.

Nem os reforços que gostariam de atuar com o ‘melhor jogador brasileiro desta geração’.

Treinadores de alto nível como Jorge Sampaoli, Dorival Júnior, Tite, Luiz Castro recusaram ser seu comandante.

O clube aceitou Cléber Xavier, que jamais foi comandante de clube algum.

Sua especialidade em décadas é ser auxiliar.

Foi 24 anos assistente de Tite.

As dívidas santistas batem no bilhão de reais.

Marcelo Teixeira procura, desesperado, empresas que desejem comprar o Santos, transformá-lo em SAF.

O desespero está nos números, nas campanhas, que são piores do que em 2023, quando o clube foi rebaixado.

A perspectiva é muito problemática.

A dúvida para Neymar, e seu pai e empresário, é se vale a pena seguir no Santos.

Ficar até a Copa do Mundo dos Estados Unidos, ou seja, mais dez meses de contrato.

Seu acordo termina no dia 30 de junho.

Ele tem apenas mais três jogos oficiais: contra o Vitória, em Salvador; o Botafogo, na Vila Belmiro; e o Fortaleza, no Ceará.

Estar em uma equipe rebaixada seria o pior momento de sua carreira.

Mesmo apenas lutar para fugir desta situação já tem ares de agonia.

A falta de mercado na Europa, e mesmo na Ásia, são grandes obstáculos.

Ele não quer ‘trair’ o Santos e atuar em outro clube brasileiro, apesar de sua atração pelo Flamengo.

Há os Estados Unidos, há Messi, há Beckham, há o Orlando City.

É um destino atraente.

E se Neymar for pensar apenas no resto de sua carreira, seria a opção mais lógica.

Sair dessa panela de pressão que virou o Santos Futebol Clube.

As torcidas organizadas já prometem protestos por medo da volta à Segunda Divisão.

Renovar o contrato seria um verdadeiro ato de amor.

O retorno para o clube onde ‘nasceu’ para o futebol.

Mas um jogador de 33 anos, 42 lesões desde que virou profissional, tem força física para salvar o atual, e limitado, Santos da Segunda Divisão?

Vai seguir atuando com companheiros tão fracos?

E que o Santos tem enorme dificuldade para pagar os que comprou.

Ninguém na direção tem coragem de afirmar que Neymar ficará.

Perguntado, ontem, em Alagoas, ele titubeou.

Ficou constrangido.

“Não sei ainda.”

Ele e seu pai escolhem juntos onde o ‘melhor brasileiro desta geração’ vai jogar.

O plano era renovar, ficar no Santos, no clube que melhor o acolhe e, único no planeta, que não o cobra, só o cultua.

Mas o risco de vexames ainda maiores é real.

Neymar esperava uma volta apoteótica contra o Clube de Regatas Brasil.

Não foi.

É mais um jogador do Santos, que passou para a história, como eliminado na terceira fase da Copa do Brasil, em 2025.

Vale a pena ficar?

Sua hesitação, depois da queda diante do time alagoano, denunciou o quanto está sem rumo.

Faltam 38 dias, três partidas oficiais, para acabar seu contrato.

E ele não tem a menor ideia do que fazer.

A hora é ideal para mostrar ao amor que garante sentir ao Santos Futebol Clube.

Basta assinar a renovação de contrato.

E ser peça fundamental para lutar e tentar evitar o rebaixamento.

Mas se pensar apenas no melhor para sua carreira, precisa buscar outro destino...