Foto histórica. Pela primeira vez, em cinco Copas do Mundo, Cristiano Ronaldo no banco de reservas
REUTERS/Suhaib SalemDoha, Catar
Lusail Stadium
Foi um alvoroço.
Situação bizarra.
Quando Portugal e Suíça entraram aqui, no estádio Lusail, a grande maioria dos cerca de 200 fotógrafos que estavam perto do gramado fez questão de virar de costas para os atletas.
Não era protesto algum. Mas eles queriam a foto histórica.
Na sua quinta Copa do Mundo, Cristiano Ronaldo passava pelo constrangimento, depois de 20 partidas como titular, de estar pela primeira vez na reserva. Sentado no banco. Sem contusão alguma. Pronto para jogar.
Só que nem o seu maior defensor na Seleção Portuguesa, o treinador, e amigo pessoal, Fernando Santos, decidiu seguir contra a opinião pública e a forte mídia lusitana. Estava muito improdutiva a participação do cinco vezes melhor do mundo.
Só havia marcado um gol, de pênalti, contra Gana. Foi mal nos jogos diante do Uruguai e Coreia do Sul.
A exigência era que Gonçalo Ramos, garoto de 21 anos, fosse o jogador de referência no ataque português contra o time suíço.
Foi a melhor decisão.
Portugal impôs uma goleada impiedosa contra a Suíça.
6 a 1, três gols de Gonçalo, que teve excelente atuação.
Com o ataque fluindo de maneira impecável.
O time veloz, fluente.
O midiático jogador não fez a menor falta.
Só restava a Cristiano Ronaldo aplaudir, de fora.
E entender que o tempo passou.
Mas a torcida portuguesa não se importava.
Gritava, agoniada, pela presença da estrela.
E ele entrou, aos 27 minutos do segundo tempo.
No lugar de Gonçalo Ramos.
Gonçalo Ramos, seu substituto, marcou três gols. E deixou impossível a volta de CR7 como titular
REUTERS/Kai PfaffenbachA vibração no estádio foi inacreditável.
83 mil torcedores aplaudiram de pé a sua entrada.
Estava claro que a maioria dos torcedores veio ver a estrela midiática.
A partida de hoje valia uma vaga para as quartas de final, ter o prazer de enfrentar Marrocos, que derrubou a Espanha.
Aos 37 anos, Cristiano Ronaldo vive a pior fase de sua carreira. Já estava na reserva no clube em que era ídolo, o Manchester United. Entrou em atrito público com o técnico holandês Ten Hag. Até que o clima ficou insustentável.
Ele acreditou que sua idolatria, sua história, sua incrível trajetória o faria vencedor do duelo. Errou. Teve de se desligar do United de forma constrangedora.
Chegou à Copa do Mundo sem clube, apostando que seria um dos grandes personagens do torneio.
O respeito de Pepe. Braçadeira de capitão para Cristiano Ronaldo
Giuseppe CACACE / AFPMas a verdade é que, aos 37 anos, não consegue mais render como antes. Não há arrancadas, dribles inesperados, infiltrações em alta velocidade.
O tempo o tornou um jogador previsível, lento. E com decisões equivocadas, que atrapalhavam o ataque veloz, insinuante que Fernando Santos prometeu montar, com a maestria de Bernardo Silva.
Ficou incompatível.
E, o pior, brigar por um gol que a tecnologia apontou que não fez, contra Portugal. Ele não encostou a cabeça em um cruzamento de Bruno Fernandes. Foi o chip da Adidas, fabricante da bola da Copa do Mundo, que o desmentiu.
Ficou muito feio.
Cristiano Ronaldo não teve saída a não ser aceitar ficar na reserva. Não poderia sabotar o ambiente de sua seleção.
Mas, enquanto isso, seu empresário, Jorge Mendes, tentou colocá-lo no PSG. Mas a família real do Catar não se interessou. Foi então que ele deixou tudo apalavrado com o Al Nassr da Arábia Saudita. Por um salário absurdo, cerca de R$ 1 bilhão por ano.
O máximo que Cristiano Ronaldo fez em campo foi marcar um gol impedido. E o estádio vibrou
Paul ELLIS / AFPApesar de Cristiano Ronaldo já ser uma das maiores fortunas de Portugal, ele quer seguir jogando. Não aceita ser aposentado.
Ele entrou hoje, quando Portugal já goleava por 5 a 1.
O máximo que fez foi comemorar o sexto gol.
Mas nada de produtivo conseguiu.
A não ser receber aplausos e a faixa de capitão de Pepe, outro parceiro que ganhou no futebol.
Mas ele não conseguiu retribuir tanto respeito.
O lugar de Cristiano Ronaldo, hoje, é no banco de Portugal.
O time de Fernando Santos ficou muito melhor sem ele.
E jogar em um time da Arábia Saudita.
O tempo passa para todos.
Até para ele...
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