Cosme Rímoli 'A felicidade de um preto brasileiro na Europa incomoda.' Vini Jr. vai além de Pelé e Neymar. E enfrenta o racismo de frente

'A felicidade de um preto brasileiro na Europa incomoda.' Vini Jr. vai além de Pelé e Neymar. E enfrenta o racismo de frente

Jogador deu uma resposta direta, crua, sem meias palavras para o racista presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores, que o comparou a um macaco

  • Cosme Rímoli | Do R7

Vinicius Júnior não teme a ameaça racista. Se fizer gol contra o Atlético de Madrid, vai dançar

Vinicius Júnior não teme a ameaça racista. Se fizer gol contra o Atlético de Madrid, vai dançar

Reprodução/Instagram

São Paulo, Brasil

"Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho nos olhos, haverá guerra."

"Tenho essa frase tatuada no corpo e tenho atitude na minha vida que transforma essa filosofia em prática."

"Dizem que felicidade incomoda."

"A felicidade de um preto brasileiro, vitorioso na Europa, incomoda muito mais. Mas a minha vontade de vencer, meu sorriso, meu brilho nos olhos são muito maiores do que isso."

"Fui vítima de xenofobia e racismo numa só declaração. Mas nada disso começou ontem."

"Há semanas, começaram a criminalizar minhas danças. Danças que não são minhas. São do Ronaldinho, do Neymar, do Paquetá, do Pogba, do Matheus Cunha, do Griezmann e do João Félix. Dos funkeiros e sambistas brasileiros. Dos cantores latinos de reggaeton e dos pretos americanos. São danças para celebrar a diversidade cultural do mundo."

"Aceitem, respeitem ou surtem. Eu não vou parar. Não costumo vir publicamente rebater crítica. Sou atacado e não falo, sou elogiado e também não falo. Eu trabalho, e muito. Dentro e fora de campo."

"Desenvolvi um aplicativo para auxiliar a educação da criança de escolas públicas sem ajuda financeira de ninguém. Estou fazendo uma escola com o meu nome, e farei muito mais pela educação. Quero que as próximas gerações estejam preparadas como estou. Para combater racistas e xenofóbicos. Sempre tento ser um exemplo de profissional e cidadão. Mas isso não dá clique, não engaja em rede social. Então os covardes inventam algum problema para me atacar."

"E o roteiro sempre termina com um pedido de desculpa. Ou um 'fui mal interpretado'. Mas repito para você, racista: eu não vou parar de bailar. Seja no sambódromo, no Bernabéu ou onde eu quiser."

"Com carinho e sorriso de quem é muito feliz, Vini Jr."

Vinicius Júnior recebeu apoio do Real Madrid. Clube avisa que vai processar racista

Vinicius Júnior recebeu apoio do Real Madrid. Clube avisa que vai processar racista

Reprodução/Twitter Vinicius Junior

Em um depoimento corajoso, direto, Vinicius Júnior, fez ontem mais do que inúmeros jogadores negros brasileiros que sofreram racismo na Europa.

Não se vitimizou.

Não se calou.

Não ironizou.

Enfrentou o racista presidente da Associação Espanhola dos Empresários, Pedro Bravo, que comparou suas danças após os gols com 'macaquice'. Ou seja, uma atitude de macaco.

"Você tem que respeitar o rival. Se quer dançar, que vá ao sambódromo no Brasil. Aqui o que você tem que fazer é respeitar os companheiros de profissão e deixar de fazer macaquice."

Empresário de futebol que é, ou seja, uma pessoa que vive do talento alheio, Bravo deveria entender quem decidiu comparar com macaco.

Aos 22 anos, Vinicius Júnior é um dos melhores jogadores do mundo.

Avaliado em 100 milhões de euros, cerca de R$ 525 milhões, é o atleta mais valorizado do Brasil. Mais do que Neymar e Antony, que de acordo com o site transfermarkt, deveriam custar 75 milhões de euros, cerca de R$ 393 milhões. Apesar de o Manchester United ter pago 100 milhões de euros por Antony.

Jamais Pelé, Neymar, Garrincha, Zizinho ou Ronaldinho Gaúcho tiveram a coragem, a sabedoria, a atitude de Vinicius Júnior.

De maneira direta, ele falou que 'a felicidade de um preto na Europa incomoda'.

A frase é lapidar e muito mais profunda do que as ditas por brasileiros que tiveram a oportunidade de se posicionar.

A imprensa espanhola o comparou a Pelé. No campo, impossível. Fora, mais corajoso

A imprensa espanhola o comparou a Pelé. No campo, impossível. Fora, mais corajoso

Reprodução/Twitter

Como Pelé.

"Acho que hoje não mudou muito [o racismo no futebol]. A única coisa que deve ter mudado acho que foi a imprensa. Um jogador falava uma besteira para outro, era para a gente. Quando ia jogar na Europa (o racismo) acontecia  muitas vezes. Jogando aqui contra argentinos, chamavam a gente de macaco, de chimpanzé e crioulos. Veja se saiu algum escândalo", disse o melhor jogador de todos os tempos, para a CNN, quase como se fosse natural ser chamado de 'macaco' ou 'chimpanzé', por ser negro.

Só de anos sendo cobrado, Neymar resolveu se revoltar contra o racismo em 2020, quando afirmou ter sido xingado de macaco por Álvaro González, do Olympique de Marseille.

"No nosso esporte as agressões, insultos, palavrões são do jogo, da disputa. Não dá pra ser carinhoso. Entendo esse cara em parte. Faz parte do jogo. Mas o preconceito e intolerância são inaceitáveis. Eu sou negro, filho de negro, neto e bisneto de negro. Tenho orgulho e não me vejo diferente de ninguém."

Pelé e Neymar foram superficiais.

Vinicius Júnior. Muito mais firme do que Neymar. Enfrenta o racismo sem meias palavras

Vinicius Júnior. Muito mais firme do que Neymar. Enfrenta o racismo sem meias palavras

AFP

Jamais abriram a alma como Vinicius Júnior.

Um exemplo não só para os negros.

Mas para o mundo.

Racistas têm que ser enfrentados.

E se Vinicius Júnior marcar um gol amanhã, pelo Real Madrid, tem a obrigação de comemorar como quiser.

Se desejar dançar, dar pirueta, imitar Luva de Pedreiro, pois que faça.

Não será um racista que o coibirá de nada.

O depoimento de Vinicius Júnior é histórico.

E sem precedente na elite do futebol brasileiro.

Até que enfim, um jogador importante sem medo de se posicionar.

De verdade.

Racismo é indecente, nojento.

E está perdendo seu último refúgio: o futebol...

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