A exposição da mãe corintiana segue prejudicando Jailson
Matéria da Globo jogou o goleiro contra torcedores. Clube não quer mais jogadores e famílias expostos em veículos de comunicação
Cosme Rímoli|Cosme Rímoli

A irracionalidade não tem limites.
Dirigentes de futebol neste país raramente merecem elogios. Mas desta vez, a atitude do presidente Mauricio Galliotte vale a pena ser destacada.
Desde domingo, ele vinha sendo pressionado por conselheiros importantes no Palmeiras. Queriam que ele cobrasse de Alexandre Mattos uma postura firme, rígida.
Advertência, multa ou até perda de posição como titular do time. Exigiam que Jaílson voltasse à reserva. Não pelo futebol, que todos reconhecem ser de alta qualidade. A queixa contra o goleiro era bizarra.
A questão foi uma reportagem da TV Globo que mostrou sua mãe Maria Antônia e irmã Laura torcendo para o Corinthians, no clássico de sábado, no Itaquerão.
A emissora expôs, sem dó, as duas no meio da torcida corintiana. Com câmeras acompanhando suas reações. E até microfone colocado na mãe do jogador.
Sabendo que estavam sendo filmadas, não comemoram o primeiro gol, quando Jailson era o goleiro. Nem o pênalti que ele cometeu em Renê Júnior e foi expulso. Mas no segundo, no pênalti cobrado por Clayson em Fernando Prass, se soltaram. Vibraram. E gritaram juntas, 'timão, timão, timão'. A Globo exibiu as duas vibrando com a camisa corintiana.
Maria Antônia tem uma tatuagem na perna, em homenagem ao clube do Parque São Jorge.
A situação chegou primeiro para o presidente do Conselho Deliberativo, Seraphim del Grande. Seraphim já foi firme contra os radicais. Considerou um enorme exagero. Não compactou com as queixas.
Não satisfeitos, eles partiram para Galiotte.

O presidente do Palmeiras foi firme. Não só não aceitou essa cobrança. Como disse que o executivo de futebol, Alexandre Mattos, não daria pena ou recado algum a Jaílson. E não admitia tanto radicalismo. O assunto deveria ser encerrado para não prejudicar o goleiro.
Ele seguirá sendo o titular do time. O Palmeiras estreia amanhã no torneio que é a sua prioridade em 2018, a Libertadores. Será Jaílson o goleiro contra o Júnior Barranquilla, na Colômbia.
O jogador soube da polêmica que a matéria da TV Globo provocou. Nas redes sociais, palmeirenses criticaram sua mãe e irmã e pediram que Jaílson respeitasse o Palmeiras. E que deveria voltar a ser reserva.
Roger e demais atletas foram solidários ao jogador. Mas alertaram de que não havia necessidade de expor sua mãe e irmã. A matéria acabou jogando as duas contra a torcida do Palmeiras. E principalmente o goleiro.
A mãe e a irmã já teriam se comprometido a não mais dar entrevistas, expor a paixão das duas pelo Corinthians.
Aliás, Jaílson disse aos jogadores e até a Alexandre Mattos. Pediu que a mãe não fosse ao clássico. Mas ela cedeu aos pedidos da Globo.
O episódio serviu para que os jogadores se comprometessem a avisar seus familiares para evitar matérias do gênero. A pressão que está sobre Jaílson foi absolutamente desnecessária.
Ele tem a fortíssima concorrência de Fernando Prass e Weverton.
Não há dúvida que, se falhar, torcedores vão pedir sua saída.
Alegando as raízes familiares corintianas.
Tudo por causa da matéria da Globo.
Aliás, não houve 'revelação'.
Em outra matéria, a emissora já havia exposto a cada de Maria Antônia.
E no muro da simples residência está pintado um gavião.
Uma referência à Gaviões da Fiel.
Marcando que lá moram corintianos.
Pelo menos, neste caso, a atitude de Galiotte vale destaque.

Ele não aceitou nem conversar com conselheiros revoltados com o goleiro.
Foi firme.
Não aceitou ser levado pelo fanatismo.
Mas fica o alerta.
Os tempos mudaram.
A intolerância é algo cada vez pior.
Não cabe mais ingenuidade de ninguém.
A Globo, dona do futebol no país, precisa ter mais cuidado.
Jailson e sua família foram expostos sem dó.
Por pura audiência na segunda-feira.
Mas o prejuízo segue para o goleiro.
Um dos raros negros defendendo a meta de um clube grande no país.
Esta deveria ser uma vitória a ser comemorada.
Não uma exposição tola, sem sentido, oportunista.
E que trouxe uma pressão desnecessária ao jogador...
