O corre que transforma: minha jornada de descoberta no esporte
Como a corrida pode ser o caminho para uma vida leve. A minha, a sua e da super atleta Julia Sette
Seja bem-vindo ao Corrê! Este espaço nasce de uma busca pessoal, mas que, suspeito, é a mesma de muita gente. Por 30 anos, minha relação com a atividade física foi uma sucessão de tentativas e frustrações.
A insatisfação com o corpo me levou a experimentar de tudo: musculação, spinning, dança, jump (além das dietas malucas). A rotina era sempre a mesma, começava com gás e ia murchando. Nada parecia fazer muito sentido.
Até que a vida me apresentou o mesmo remédio para uma outra dor. As várias mudanças de cidade, de estado, de país, me levaram a uma necessidade bem além da estética. A de dosar a ansiedade.
Lá em 2016, escolhi, dos 365 dias do ano, o mais improvável para começar. Um fim de tarde depois de fazer mais uma mudança de casa. O dia inteiro subindo e descendo escadas, carregando móveis e caixas de livros.
Nem preciso alertar para que não repitam isso em casa. Se há uma forma certa de começar no esporte, definitivamente não foi a minha.
Idas e vindas

Entre idas e vindas, engatei nas corridas diárias, ainda sem nenhum tipo de estudo e acompanhamento, em 2018, quando a ansiedade estava no auge!
Foi um remédio que, a conta gotas, me ajudou a ir desacelerando os pensamentos, que estavam a mil naquela época.
Sei que parece impensável enquanto estamos sedentários, mas encarar um esporte te faz sentir coragem e (acredite) vontade de tentar outros. Nos anos seguintes, não abandonei nem engatei na corrida.
Mantinha como uma atividade física recreativa enquanto começava a me dedicar à musculação por orientação de uma nutricionista. Foi muito importante, mas preciso dizer, bem menos gostoso que a boa e velha corridinha.
Nesse tempo, meu irmão, que já enfrentou problemas com a balança, começou a correr e não parou mais. Perdeu 28 kg, parou de beber, começou a se alimentar melhor, se apaixonou de vez pelo esporte.
Transformação

E aí, caro leitor, foi transformador para mim. Não tem como não olhar com carinho para algo que fez um bem danado para quem amamos. Por isso, desde o ano passado, quando fiz a primeira prova ao lado dele, decidi que queria o mesmo para mim.
Foi um dia muito especial. Meu marido, meu irmão caçula, um casal de primos e meu irmão do meio. Nós, na prova de 10km. Ele, na primeira maratona! Eu nunca tinha acompanhado uma linha de chegada de maratona e, se você nunca viu, recomendo.
É como se fosse o capítulo final em que o mocinho sofre muito para vencer. Tem gente que superou deficiência, gente que mudou o estilo de vida, que começou o esporte depois de se curar de uma doença grave, pais e mães terminando a prova cansados carregando os filhos pequenos, idosos ao lado dos filhos... é realmente emocionante!
Emocionante e transformador. Por isso, do ano passado pra cá, decidi que não seria mais uma vez só um amor de verão, levaria a corrida para todas as estações.
O Corrê é sobre isso. Encontrar na corrida um lugar de pertencimento e transformação para melhor. Um espaço para tirar dúvidas, das mais simples às mais complexas, e para aprender com quem tem experiência de sobra.
Uma conversa aberta, sem complicação e com a leveza que o esporte merece. Prometo trazer muitos convidados inspiradores para esse nosso bate-papo. Gente que foi, e tem sido, muito importante para me ensinar e inspirar nesse processo de dar os primeiros passos e além.
E para inaugurar este espaço, nada melhor do que uma conversa com quem já estava nesse mundo runnístico quando tudo isso ainda era mato. Com vocês, Júlia Sette!

Corredora há mais de 20 anos, com 13 maratonas na bagagem, mais de 300 mil seguidores nas redes sociais e, preciso destacar, com uma gentileza e generosidade únicas!
A Júlia me inspirou desde o início porque ela tem uma visão da corrida que vai bem além da modinha, do desespero por resultados e das redes sociais. A seguir, costuramos os melhores momentos do nosso papo, com insights valiosos para quem está começando e para quem, como eu, já se apaixonou pelo esporte.
A descoberta da corrida: sem pressão, só paixão
Para muita gente, a corrida hoje nasce de um hype, um aplicativo, um relógio, um look estiloso, um óculos “baixa pace”, uma planilha. Mas nem sempre foi assim. Júlia Sette começou a correr aos 14 anos, em uma época pré-redes sociais.
“A corrida era só uma atividade que eu fazia na minha vida pra me exercitar. Como, por incrível que pareça, muitas pessoas ainda fazem hoje”, relembra, com bom humor.
“Foram uns 10 anos só indo correr na Lagoa (Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio de Janeiro), na praia, na academia, sem nem saber o que era pace e nem participar de prova. Era algo normal na minha vida, que nem ir malhar na academia.”

Essa relação orgânica com o esporte, sem a pressão dos números e da performance, foi, segundo ela, um privilégio. “Como no início eu não tinha nem relógio, nunca teve pressão de nada. Mas lembro o primeiro dia que consegui dar uma volta completa na Lagoa (7,5Km) sem parar de correr. Eu tinha uns 15 anos e isso foi muito legal porque achava algo impossível.”
Essa sensação de conquistar o que parece impossível é o que move muitos corredores, inclusive eu. Sei que você deve estar pensando aí “Ah mas para mim é impossível mesmo! Jamais conseguiria correr 42 km”.
Sei porque ouço isso de amigos constantemente. Mas a verdade é que só parece impossível quando olhamos lá de longe. A medida em que vamos percorrendo, nos preparando e evoluindo dia a dia, a linha de chegada nem parece mais tão distante. E é sobre isso que vamos falar muito por aqui: sobre transformar o que parece inalcançável em realidade, um passo de cada vez. É sobre corrida, mas começa a valer para tudo.

Da meia para a maratona: o respeito pela distância
A transição para distâncias mais longas é um dos maiores desafios para qualquer corredor. Estranho dizer isso quando estamos falando de corrida, mas o melhor mesmo é não ter pressa. Viver cada etapa e cada distância de uma vez.
Para quem, como eu, já completou 30 km e sonha com a primeira maratona, a dúvida é inevitável: o que muda na preparação?
Júlia, que já correu 13 maratonas, incluindo a ultra de 56km da Two Oceans, na África do Sul, que, inclusive, ela classifica como a mais marcante da vida, explica que o respeito pela distância é fundamental.
“Acho que todo mundo que já correu uma maratona em algum momento nunca achou que faria ou que era algo impossível. Pelo menos antes da corrida estar tão forte nas redes sociais, acho que era assim”, comenta.
“Eu passei muitos anos só fazendo meias maratonas sem nunca imaginar que era possível correr o dobro disso. É uma distância que tem que respeitar mesmo, mas quando você se sente de coração preparado pra ela, tudo encaixa e faz sentido. A gente precisa levar mais a sério tudo: alimentação, treinos e principalmente o descanso. Não dá pra dar muita brecha como nas outras distâncias.”

E por falar em descanso, ele aparece no topo das principais preparações listadas pelos grandes corredores e treinadores. A Júlia é um deles.
“Dormir! Não existe melhor doping natural. O sono opera milagres e eu demorei muitos anos pra aprender isso. Não fazer um treino um dia e se permitir dormir mais, pode te fazer evoluir muito.”
A evolução além do pace: a relação com a corrida
Mas, afinal, como saber se estamos evoluindo? Evoluir é só correr mais rápido ou correr distâncias maiores? Evoluçao é sempre linear ou é um processo de altos e baixos? São tantas dúvidas! Para Júlia, a resposta vai além dos números no relógio.
“Acho que a relação que a gente tem com a corrida diz muito mais do que seu pace e o número de quilômetros que você corre. É você amar a corrida de verdade, independentemente do momento físico que você está vivendo nela. Se você está feliz correndo em qualquer lugar, de qualquer jeito e sem ego ou vaidade, pra mim você está no caminho certo de uma relação longa e saudável com ela.”
É isso! Não da para monetizar todo hobby nem para transferir todo o seu perfeccionismo com o trabalho em algo que é para trazer prazer e qualidade de vida. A não ser que você tenha mesmo a intenção de se tornar um atleta de elite.
Nesse caso, o papo é outro. A visão da Júlia, para mim, é um alívio! Em uma época de redes sociais, recordes pessoais e comparações, lembrar da alegria de fazer algo bom por si mesmo, como correr, é libertador! É essa a filosofia do Corrê.
A ansiedade pré-prova e a força da mente: “Se não tiver ansiedade, não está valendo a pena”
Seja para os primeiros 5km ou para uma maratona, a ansiedade pré-prova é uma companheira constante. Perder o sono, o apetite (definitivamente não é meu caso) ou aquela dor de barriga. A Júlia diz que isso é um bom sinal. E se ela diz, eu assino embaixo.
“Se não tiver ansiedade, não está valendo a pena, as melhores coisas da vida causam isso na gente. Tenho uma amiga que já correu 200 maratonas e ela me garante que até hoje fica nervosa. Eu lembro de tudo que eu fiz para estar ali naquele momento e isso me dá muita segurança.”
E quando o corpo pede para parar no meio da prova? A famosa “quebra”, quando você não consegue continuar correndo, também acontece com os mais experientes, viu?
“Hoje, como eu vou para maratonas para curtir e produzir conteúdo, é muito difícil eu ‘quebrar’. Mas se é uma prova ou um treino que me bate uma exaustão, eu tento sempre ser muito generosa comigo, tá tudo bem caminhar um pouco, me recuperar. Somos humanos e tem dias que o corpo não dá conta mesmo. Me lembrar o quanto eu queria estar ali, vivendo aquele momento, é uma coisa que me ajuda muito a seguir!”
Uma relação de amor com a corrida: aprendendo com Júlia Sette
Com mais de 20 anos de corrida, a paixão da Júlia pelo esporte já virou amor. “Nunca pensei em parar”, ela diz.
“A pandemia foi um momento que me mostrou o quanto essa minha relação é forte. Não tinha prova, não tinha meta e nem futuro a gente sabia direito. Mas eu colocava minha mochilinha nas costas e saía correndo pelo Rio de Janeiro muitos e muitos quilômetros. E nessa época eu tive a certeza que a minha relação com a corrida seria eterna.”
E se pudesse dar um conselho para a Júlia iniciante, o que diria?
“Como eu tive o privilégio de começar a correr sem rede social, eu tive que aprender muita coisa sozinha, ou em revistas de corrida, blogs e amigos que já praticavam o esporte. E não mudaria nada. Acho que só incentivaria ela a seguir, fazer tudo exatamente igual pra ela ser exatamente a corredora e produtora de conteúdo que se tornou hoje!” A gente, é claro, agradece.
O futuro do Corrê: juntos em cada passo
Este é apenas o primeiro passo do Corrê. Talvez seja o seu também, ou talvez você estivesse só precisando de um empurraozinho para começar. Estou aqui para isso! Prometo muito mais conteúdo, dicas, entrevistas e, principalmente, a sua participação.
Que esse seja um espaço de troca, de aprendizado e de motivação. Vou adorar receber as suas histórias, dúvidas, suas conquistas. Pegue leve com você mesmo. A primeira conquista pode ser simplesmente sair pela primeira vez para uma caminhada.
Juntos, vamos desmistificar a corrida e mostrar que ela é, sim, para todos. A jornada está só começando! Aqui, no Corrê, cada passo conta uma história. Qual será a sua?
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